04 Novembro 2021
A palavra-chave é “juntos”. Foi para enfrentar a primeira pandemia da era global. E agora é para enfrentar a ameaça número um - em termos de gravidade, ao lado do Covid - que pesa sobre a humanidade: as mudanças climáticas.
A reportagem é de Lucia Capuzzi, publicada por Avvenire, 03-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Juntos" significa ações "colegiadas, solidárias e de visão de longo prazo". Mas também significa assumir as próprias responsabilidades e pagar a dívida ecológica contraída pelas potências industriais do hemisfério Norte nos últimos dois séculos e meio em relação ao hemisfério Sul.
A maratona de dois dias de discursos de mais de 120 líderes mundiais na 26ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26), foi encerrada com uma mensagem apaixonada do Papa Francisco, lida em tom firme e pacato pelo Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, que chefiou a delegação da Santa Sé em Glasgow. Os objetivos da cúpula são “ambiciosos, mas não podem ser adiados. Hoje essas decisões cabem a vocês”, afirma o Pontífice. A aposta é alta. Altíssima. E "retoques" de fachada não são suficientes. É necessária uma "mudança de época" adequada ao "desafio de civilização" em andamento. Isso requer o empenho de todos, começando - em particular, escreve o Papa - pelos “países com maiores capacidades”, chamados a assumir um papel de liderança nas “finanças climáticas”, na “descarbonização”, na “promoção de uma economia circular” e no apoio às nações mais vulneráveis na resposta e na adaptação.
A este respeito, o Pontífice de Laudato si’ retoma um dos temas já contidos na Encíclica, o da "dívida ecológica", "ligada tanto aos desequilíbrios comerciais com consequências no âmbito ambiental quanto ao uso desproporcionado dos recursos naturais do próprio e de outros países. Não podemos negá-lo”. Para esse fim, pedindo aos líderes “esperança” e “coragem”, o Papa sugere “o lançamento de cuidadosos procedimentos negociados para o perdão da dívida externa associada a uma estrutura econômica mais sustentável e justa, visando sustentar a emergência climática. É "necessário que os países desenvolvidos contribuam para resolver a dívida [ecológica], limitando significativamente o consumo de energia não renovável e contribuindo com recursos para os países mais necessitados para promover políticas e programas de desenvolvimento sustentável. Um desenvolvimento ao qual, enfim, todos possam participar”.
Depois de uma estreia marcada por uma "ducha fria" do adiamento da Índia para a redução a zero das emissões e da ausência de Xi, ontem foi um dia de novidades positivas no campus do evento escocês. Tanto que o dono da casa, Boris Johnson, disse estar "cautelosamente otimista". Para dar novo impulso à negociação - que, efetivamente, começa hoje a portas fechadas - além do duplo acordo sobre desmatamento e metano, houve uma série de compromissos econômicos importantes. Entre estes, o da Itália. O ministro da Transição Ecológica, Roberto Cingolani, anunciou o nascimento da Global Energy Alliance, cujo objetivo é chegar a 100 bilhões de dólares de fundos, principalmente privados, para abastecer 1 bilhão de pessoas com energia de fontes renováveis, reduzir em 4 bilhões de toneladas as emissões de CO2 e criar 150 milhões de empregos verdes. “Não há cura para as mudanças climáticas se não curarmos as desigualdades sociais”, disse Cingolani, que também falou de uma verba para tornar permanente a COP dos jovens.
Vários jovens estão presentes dentro do centro de congressos na esperança de sensibilizar os negociadores. Outros estão fora dos portões em uma espécie de manifestação permanente mais parecida com uma grande festa popular do que um protesto, com jogos de RPG, danças e música. De teor diferente - embora não violento - é a manifestação dos Extinction Rebellion que bloquearam várias ruas em Glasgow. Expressa de várias formas, a mensagem é a mesma: os jovens não estão dispostos a se conformar com um novo "bla bla bla". Seu soft power pode ser decisivo. O próprio Joe Biden o reconheceu. "A geração da minha neta mudou as coisas", disse ele, após ter definido com um “grande erro” a decisão do presidente chinês de não comparecer à cúpula. O momento é crucial, como demonstra o grito lançado pelo presidente de Palau, Surangel Whipps Jr: "Melhor nos bombardear do que nos deixar morrer lentamente".
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“Juntos” para uma mudança de época. O Papa na COP: pagar as dívidas ecológicas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU