03 Novembro 2021
"O que se pede aos governos presentes na COP26 é uma vontade forte e unânime de mudança de paradigma. Precisamos interromper o capítulo de nossa história que começou três séculos atrás com a revolução industrial e iniciar uma nova época de transição ecológica", escreve Carlo Petrini, em artigo publicado por La Stampa, 01-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Desde 1995, os líderes mundiais se reúnem todos os anos para falar sobre o clima. A COP26 que começou em Glasgow é, portanto, a vigésima sexta edição dessas cúpulas. Nesse ínterim, a questão tornou-se uma emergência; sinal claro de que em todos esses anos pouco ou nada foi feito.
No entanto, as premissas com que se abre a cúpula de Glasgow não são as melhores: China e Rússia (que sozinhas emitem na atmosfera mais de 30% dos gases que alteram o clima) não participarão fisicamente das negociações, e em Roma os membros do G20 não conseguiram chegar a um pré-acordo ambicioso sobre a emergência climática. O risco é que mais uma vez a COP se torne o lugar onde os decisores políticos se reúnem em busca de um culpado para o qual apontar o dedo ou para fazer perguntas teórico-ideológicas.
Esses são caprichos que não podemos mais nos permitir; a crise climática está aqui e agora. Os cientistas nos dizem isso por meio das últimas previsões de aumento de 2,7 graus na temperatura até o final do século. A própria natureza demonstra isso por meio de desastres cada vez mais intensos, frequentes e, infelizmente, inesperados. O que aconteceu na Sicília com o Medicane é um exemplo: os cientistas consideravam que furacões não poderiam ter origem na região do Mediterrâneo. No entanto, aconteceu porque o clima mudou. E se quisermos tentar mitigar esses eventos e garantir um futuro de longo prazo – no mínimo vivível - para a espécie humana, Glasgow deve ser a COP das ações.
A nota positiva é que, para a mudança de rumo necessária, os representantes dos governos reunidos em Glasgow não terão que se munir de uma varinha mágica em busca de soluções e ações impossíveis. Vamos pensar, por exemplo, no sistema agroalimentar. Um setor que no seu conjunto é responsável por cerca de 34% das emissões, das quais 18% atribuíveis à pecuária e seus 60 bilhões de cabeças, e 8% aos alimentos produzidos, mas desperdiçados. Que com sua ação predatória (monocultura, agrotóxicos e fertilizantes em grandes quantidades) contribui para a degradação do solo: são mais de um bilhão de hectares de terras abandonadas, porque estão esgotadas por práticas que empobreceram sua fertilidade. A criticidade do solo exacerbada pela crise climática; por sua vez intimamente ligada à insegurança alimentar das pessoas que vivem da agricultura e da pecuária, que se torna um fator de expulsão (em 2050 serão 216 milhões de migrantes climáticos).
Os problemas são claros, mas felizmente as soluções também o são.
Recuperação de terras agrícolas por meio de práticas regenerativas como a agroecologia, que oferece a oportunidade de melhorar a segurança alimentar, os meios de subsistência dos agricultores, a saúde dos ecossistemas e o sequestro do carbono. Sistemas alimentares mais sustentáveis que favorecem a biodiversidade e uma dieta baseada principalmente em vegetais. O combate ao desperdício, fortemente influenciado pelas leis distorcidas do mercado. Falei de sistema alimentar, mas atualmente, para cada um dos principais contribuintes das alterações climáticas: energia, mobilidade, produção, etc., já conhecemos as soluções a implementar para reduzir o impacto desses setores na crise atual. E aqueles que se opõem a isso em nome dos altos custos de transição, talvez não levem em consideração o preço a pagar pela inação.
O que se pede aos governos presentes na COP26 é, portanto, uma vontade forte e unânime de mudança de paradigma. Precisamos interromper o capítulo de nossa história que começou três séculos atrás com a revolução industrial e iniciar uma nova época de transição ecológica. Ao nível da sociedade civil, existe fermento e a mudança já está ocorrendo, impulsionada sobretudo pelas gerações mais jovens. As empresas também estão modificando sua oferta de acordo com as novas exigências dos consumidores: rastreabilidade das cadeias de abastecimento, atendimento dos elevados padrões ambientais e sociais, práticas circulares. No entanto, tudo isso deve se tornar práxis - em substância e não apenas em palavras - também no nível institucional.
A política deve promover a transição, permitindo que os cidadãos e as empresas façam escolhas justas e duradouras para o meio ambiente e para toda a coletividade humana. Confiamos à COP26 a esperança de atender a essas solicitações. Entretanto, como sociedade civil, empenhamo-nos para que, através do encontro e do diálogo em cada local, a transição ecológica chegue às consciências de milhões de indivíduos e favoreça o nascimento de novos comportamentos.
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