24 Setembro 2021
O cardeal australiano defende que não é um negacionista da mudança climática, mas cético das soluções.
A reportagem é de Christopher White, publicada por National Catholic Reporter, 23-09-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O cardeal australiano George Pell disse em 23 de setembro que ele “nunca realmente aprovou” a chocante decisão do Papa Bento XVI de renunciar ao papado em 2013.
Pell, que foi prefeito da Secretaria de Economia do Vaticano, entre 2014 e 2019, e foi membro do Conselho de Cardeais do Papa Francisco entre 2013 e 2018, disse que dentre os últimos papas – João Paulo II, Bento XVI e Francisco – era mais próximo a Bento.
Pell descreve João Paulo II como “um dos maiores papas na história, é claro”, e louvou Bento como “prodígio intelectual”, acrescentando que “Eu o conheci melhor que os outros papas”.
A citação do cardeal veio durante um webinar, como parte do ciclo virtual “The Church Up Close” (“A Igreja de Perto”, em tradução livre), promovido pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz, direcionado a jornalistas de todo o mundo para ajudá-los a entender melhor as dinâmicas do Vaticano. Pell foi arcebispo de Melbourne, Austrália, de 1996 a 2001 e depois liderou a Arquidiocese de Sydney de 2001 até Francisco convocá-lo para supervisionar as reformas financeiras do Vaticano em 2014.
Apesar de trabalhar próximo a Francisco por cinco anos, Pell tem sido frequentemente visto como em desacordo com iniciativas-chave deste papado, incluindo a abordagem mais acolhedora a divorciados, recasados e católicos LGBTQIA, e a priorização no combate à mudança climática.
Durante a entrevista, Pell falou que Francisco tem o “grande dom da empatia e da simpatia”.
Quando perguntado sobre por que alguns católicos conservadores são hostis com Francisco, o cardeal disse que ele acredita que alguns “criticam apenas o que está sendo ensinado” no momento, embora ele não tenha elaborado temas específicos.
“O Papa Francisco deu um grande presente, assim como Jesus fez, indo ao encontro das periferias e pecados”, disse Pell, “e isso pode confundir algumas pessoas”.
“Mas estamos onde estamos”, acrescentou o cardeal. “O papado, acredito, é querido por Cristo e nós temos que respeitar o ofício, reverenciar o homem e obedecer às instruções papais”.
Conhecido por sua defesa vigorosa dos ensinamentos católicos tradicionais e um estilo frequentemente ousado, Pell nunca foi tímido com suas palavras ou opiniões.
Quando questionado se ele “ainda é um negacionista da mudança climática”, Pell disse que “nunca negou a mudança climática” e que acredita “muito” nela, mas é ambivalente sobre o que pode ser feito pelos humanos para evitá-la.
Pell passou a oferecer uma ladainha forçada de exemplos históricos da mudança climática, dizendo que estava “bem ciente” de que na Idade Média o rio Reno secou duas vezes e que estava mais quente na época de Cristo do que agora.
“O que sou contra”, disse ele, “são as ideias infladas que podemos fazer muito para mitigar, para mudar esses imensos padrões naturais”.
“Nenhum programa de computador prevendo o futuro da mudança climática foi preciso. Nenhum deles”, acrescentou o cardeal, dizendo acreditar que há uma “vasta distância entre as evidências e as recomendações de políticas”.
“Os pagãos gostam de ter algo a temer”, acrescentou.
Durante a entrevista de quase 80 minutos, o cardeal refletiu sobre sua histórica prisão na Austrália por abuso sexual antes de ser inocentado por unanimidade pelo tribunal superior do país.
Desde que voltou a Roma em setembro de 2020, o cardeal publicou suas memórias de um diário da prisão e deu uma série de entrevistas na mídia refletindo sobre suas batalhas jurídicas, as finanças do Vaticano e o futuro da Igreja Católica.
Quando questionado durante sua última entrevista quais recomendações de leitura ele ofereceria para aqueles que buscam uma melhor compreensão da Igreja, Pell repreendeu vários escritores conservadores proeminentes.
Entre os que ele citou estavam Ross Douthat, colunista do New York Times, e George Weigel, biógrafo do Papa João Paulo II, antes de oferecer um endosso limitado a “The Benedict Option” (“A Opção Bento”, em tradução livre), de Rod Dreher, que defende que os cristãos se retirem da corrente dominante e se concentrem na renovação da contracultura cristã.
“‘The Benedict Option’ não é minha opção”, disse Pell. “Não simpatizo apenas com uma pequena igreja de elite”.
Ele acrescentou: “Eu gostaria de manter muitos desleixados semirreligiosos como eu na corrente”.
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Cardeal George Pell revela que “nunca realmente aprovou” a decisão de Bento XVI de renunciar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU