14 Setembro 2021
“A homilia deve ter no máximo 10 minutos, 15 se for uma coisa muito interessante”, reclamou hoje o Papa aos religiosos e padres locais que encontrou na Catedral São Martinho, no centro de Bratislava, Eslováquia.
A reportagem é de Hernán Reyes Alcaide, publicada por Religión Digital, 13-09-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“Depois de oito minutos as pessoas perdem a atenção. É necessário pensar nos fiéis que nos escutam... porque há algumas homilias de até 40 minutos, que falam ao povo de temas que ninguém entende”, defendeu o Papa, em uma fala que improvisou, e que despertou risadas e aplausos entre os presentes. Ainda que também ali tenha lhes dado um “puxão de orelha”.
“Permito-me a uma maldade: os aplausos se iniciaram com as religiosas, que são vítimas de nossas homilias”, acrescentou o Papa, ainda em meio a risadas.
Reconhecida ativista ambiental, a mandatária eslovaca aproveitou a presença do Papa para lhe dar um presente que coaduna com a preocupação compartilhada pelo cuidado do planeta. Depois da reunião privada no palácio presidencial, Zuzana Caputova, o presenteou com uma estação de carregamento para carros elétricos, um aceno à intenção papal de reduzir gradualmente as emissões de dióxido de carbono dentro do Vaticano. Durante seus deslocamentos pela Bratislava, o Papa usou veículos elétricos Škoda Enyaq IV que foram especialmente modificados pela empresa para a sua visita.
Em sua primeira viagem em mais de seis meses, depois da visita ao Iraque no início de março, o Papa enfrenta uma agenda carregada de eventos, com 12 discursos em quatro dias, e horários estendidos para além das 18h todos os dias. Entretanto, o contato direto com os fiéis, como as mais de 100 mil pessoas que o prestigiaram em Budapeste ou as que em quantidades similares se estimam para suas próximas atividades na Eslováquia, parecem revitalizar Jorge Bergoglio de 84 anos.
Assim que pisou em Bratislava, Francisco disse à presidente que a visita lhe dava “energia”, segundo revelou hoje a mandatária, e nesta segunda-feira, dando risada, o pontífice disse aos jornalistas que o acompanharam na viagem que “ainda está vivo”, ao ser consultado sobre como conduz a carregada agenda.
A primeira parte da agenda papal desta segunda-feira ocorreu em dois cenários pitorescos. O Palácio Presidencial, onde Francisco se reuniu com Caputova, se localiza em uma série de jardins que desde 1989, com o fim da União Soviética, tornaram-se parques públicos. Construído em 1760, testemunhou as primeiras apresentações do compositor austríaco Joseph Haydn.
A Catedral de São Martin, que o Papa visitou na sequência, não apenas é uma edificação gótica, que iniciou a construção no século XIV, e foi consagrada em 1452. Mas é também onde pela primeira vez se escutou a Missa solemnis 123, de Ludwig van Beethoven, uma das mais emblemáticas do músico alemão.
Com 40,4% da sua população já imunizada contra o coronavírus, a Eslováquia busca dar um impulso extra à vacinação. Assim, se durante meses havia se defendido que apenas as pessoas vacinadas poderiam participar das atividades com o Papa, na última semana se abriu a possibilidade aos que já tiveram a doença ou aos que apresentem um teste negativo, os mesmos requisitos que há em outros países europeus, como Itália, para ter acesso aos “passaportes vacinais”.
Nesta segunda-feira, a Conferência Episcopal eslovaca anunciou que 100 mil pessoas vacinadas se inscreveram para participar das celebrações papais de terça e quarta, e que outras 7 mil sem se vacinar também assistirão, ainda que em um setor separado. Com uma média de 400 casos diários, a Eslováquia registrou até o momento 12.558 vítimas pelo coronavírus, segundo dados oficiais.
A recepção que o Papa Francisco teve quando aterrissou neste domingo em Bratislava foi outra amostra da crescente sintonia com a presidente Zuzana Caputova. A mandatária, que usou um traje verde para homenagear os discursos sociais do pontífice, segundo explicou a imprensa eslovaca, acrescentou à comitiva de acolhida Mária Patakyová, defensora pública, Herta Vysná, sobrevivente do Holocausto, e Maria Jasenková, diretora de uma associação civil que se dedica aos cuidados paliativos para crianças em suas casas. Também se somaram o primeiro-ministro Eduard Heger, o presidente do Parlamento Boris Kollár, que hoje tiveram uma audiência privada com o Papa, e o prefeito de Bratislava, Matús Vallo.
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O “duplo puxão de orelha” do Papa Francisco aos religiosos: “Façam as homilias mais curtas” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU