03 Setembro 2021
Líderes de institutos católicos tradicionais pediram nesta semana aos bispos franceses um “mediador” para lidar com os desafios apresentados pelo motu proprio Traditionis Custodes, do Papa Francisco.
A reportagem é publicada por Catholic News Agency, 02-09-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Em uma declaração conjunta, datada de 31 de agosto, os chefes dos institutos que celebram exclusivamente a Missa Tradicional em Latim pediram “um diálogo humano, pessoal, cheio de confiança, longe das ideologias ou da frieza dos decretos administrativos”.
“Com confiança, dirigimo-nos primeiramente aos bispos da França, para que se possa abrir um verdadeiro diálogo e que um mediador seja designado para ser, para nós, o rosto humano desse diálogo”, afirmaram.
A França é um dos principais centros mundiais do tradicionalismo católico. Um dia após o Papa Francisco anunciar mudanças radicais na carta apostólica Summorum Pontificum de 2007 de seu predecessor Bento XVI, que reconhecia o direito de todos os padres de celebrar a missa usando o Missal Romano de 1962, os bispos franceses expressaram sua "estima" pelas comunidades da Missa Latina Tradicional.
Os bispos manifestaram o desejo de “expressar aos fiéis que habitualmente celebram segundo o Missal de João XXIII e aos seus pastores o cuidado, a estima que têm pelo zelo espiritual destes fiéis e a sua determinação em continuar a missão juntos, na comunhão da Igreja e segundo as normas em vigor”.
O novo motu proprio, emitido em 16 de julho com efeito imediato, impôs restrições severas à missa usando o Missal Romano de 1962, conhecido como a forma extraordinária do Rito Romano, Rito Extraordinário, Missa Tridentina ou Missa Latina Tradicional.
Em uma carta aos bispos do mundo explicando sua decisão, o papa disse que se sentiu compelido a agir porque o uso do Missal de 1962 foi “frequentemente caracterizado por uma rejeição não só da reforma litúrgica, mas do próprio Concílio Vaticano II, alegando: com afirmações infundadas e insustentáveis, de que traiu a Tradição e a 'Igreja verdadeira' ”.
Os responsáveis dos tradicionais institutos, conhecidos coletivamente como comunidades “Ecclesia Dei”, afirmam que os seus membros não são marcados por tais atitudes.
“Os institutos signatários desejam acima de tudo reiterar seu amor à Igreja e sua fidelidade ao Santo Padre”, escreveram.
“Este amor filial está hoje tingido de grande sofrimento. Sentimo-nos suspeitos, marginalizados, banidos. No entanto, não nos reconhecemos na descrição dada pela Carta que acompanha o motu proprio Traditionis Custodes, de 16 de julho de 2021”.
Eles continuaram: “Não nos consideramos a 'Igreja verdadeira' de forma alguma. Pelo contrário, vemos na Igreja Católica a nossa Mãe, na qual encontramos a salvação e a fé. Estamos lealmente sujeitos à jurisdição do Sumo Pontífice e dos bispos diocesanos, como demonstraram as boas relações nas dioceses”.
Eles observaram que em seu motu proprio Ecclesia Dei de 1988, o Papa João Paulo II estabeleceu uma comissão para ajudar indivíduos e comunidades religiosas anteriormente ligadas à Fraternidade Sacerdotal São Pio X “a permanecerem unidos ao Sucessor de Pedro na Igreja Católica, enquanto preservam suas tradições espirituais e litúrgicas”.
“Foi-lhes prometido que ‘todas as medidas serão tomadas para garantir a identidade de seus institutos na plena comunhão da Igreja Católica’”, observaram os líderes.
“Os primeiros institutos aceitaram com gratidão o reconhecimento canônico oferecido pela Santa Sé em pleno apego às pedagogias tradicionais da fé, especialmente no campo litúrgico...”
“Este solene compromisso foi expresso no motu proprio Ecclesia Dei de 2 de julho de 1988, e depois de várias formas para cada instituto, em seus decretos de ereção e em suas constituições definitivamente aprovadas”.
Eles sublinharam que seus membros “fizeram votos ou assumiram compromissos de acordo com esta especificação”.
“Assim, confiando na palavra do Sumo Pontífice, entregaram a vida a Cristo para servir a Igreja”, afirmam.
“Esses padres e religiosos serviram à Igreja com dedicação e abnegação. Podemos privá-los hoje do que se comprometeram? Podemos privá-los do que a Igreja lhes prometeu pela boca dos papas?”, questionam.
Os chefes dos institutos apontam que havia rumores de que o Vaticano pretendia lançar visitas apostólicas às suas comunidades na sequência da Tradiitionis Custodes.
“Pedimos encontros fraternos onde possamos explicar quem somos e as razões do nosso apego a certas formas litúrgicas. Acima de tudo, desejamos um diálogo verdadeiramente humano e misericordioso”, escreveram.
Os signatários da carta podem ser conferidos neste link.
A carta foi entregue a representantes dos bispos franceses em 1º de setembro, informou o semanário católico Famille Chrétienne.
O Papa Francisco discutiu o motu proprio publicamente pela primeira vez, em uma entrevista à rádio espanhola COPE transmitida no mesmo dia.
Ele descreveu o Summorum Pontificum como “uma das pastorais mais belas e humanas de Bento XVI, que é um homem de primorosa humanidade”.
Ele observou que a Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé realizou uma pesquisa com os bispos de todo o mundo em 2020.
“Então, o tema foi estudado e fundamentado sobre isso, a preocupação que mais apareceu foi a de que algo que foi feito para ajudar pastoralmente aqueles que viveram essa experiência do passado, foi transformado em ideologia. Isso é, de um instrumento pastoral, para ideológico”, explicou.
Ele acrescentou: “depois deste motu proprio, um padre que quer celebrar isso não está na mesma condição que antes – que era a nostalgia, o desejo, etc. – e então ele tem que pedir permissão a Roma. Um tipo de permissão para bi-ritualismo, que é dado somente por Roma. Como um padre que celebra no Rito Oriental e Rito Latino, ele é bi-ritual, mas sem a permissão de Roma”.
“Quer dizer, até hoje, as anteriores continuam um pouco organizadas. Além disso, pedir que haja um sacerdote que seja responsável não só pela liturgia, mas também pela vida espiritual dessa comunidade. Se você ler bem a carta e ler bem o decreto, verá que é simplesmente uma reordenação construtiva, com pastoral e evitando o excesso de quem não é…”
Os líderes concluíram sua carta com uma citação da exortação apostólica do Papa Francisco, Amoris Laetitia em 2016.
Eles escreveram: “Devemos ‘evitar julgamentos que não levem em conta a complexidade das várias situações... Trata-se de chegar a todos, de precisar ajudar cada um a encontrar o seu modo adequado de participar na comunidade eclesial e assim, experimentar ser tocado por uma misericórdia imerecida, incondicional e gratuita’”.
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França. Institutos católicos tradicionais pedem um “mediador” aos bispos franceses, devido ao documento Tradiotinis Custodes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU