23 Agosto 2021
Um cardeal da Coreia do Sul endossou a perspectiva de uma lei contra à discriminação de LGBTQIA+, no entanto, também expressou preocupações de que o projeto possa ser um caminho para o casamento igualitário.
A reportagem é de Beth Mueller Stewart, publicada por New Ways Ministry, 23-08-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
De acordo com o The Korea Times, o cardeal Andrew Yeom Soo-jung, de Seul, emitiu uma declaração intitulada “Lições da Igreja Católica sobre a Família e o Casamento”, na qual o cardeal esclareceu que acredita que ninguém deve ser discriminado ou sofrer abusos com base na orientação ou identidade sexual. Ainda assim, ele não reconhece o direito da comunidade LGBTQIA+ de se casar.
Em questão está um projeto de lei antidiscriminação que o deputado Jang Hye-young, do progressista Partido da Justiça, propôs em junho de 2020. O cardeal Yeom enfatizou em sua declaração que certas partes do projeto, “especialmente as políticas de expansão do conceito de família, como permitir a coabitação sem casamento e união estável são muito diferentes dos valores universais da sociedade e das crenças religiosas e éticas da Igreja Católica”.
Apesar de suas ressalvas, o cardeal está tomando medidas positivas, de acordo com o The Korea Times:
“[Cardeal Yeom] enfatizou que ele é apenas um estudioso e não um ativista, mas ele tem tomado medidas para tornar a igreja mais inclusiva. Essa é provavelmente uma das razões pelas quais ele assinou uma petição pedindo uma lei anti-discriminação geral apresentada à Assembleia Nacional no mês passado, que diz que quaisquer formas de discriminação, incluindo com base na orientação sexual, não devem ser permitidas na sociedade... Se a petição for capaz de atrair mais de 100 mil assinaturas dentro de 30 dias, o comitê relacionado analisará a revisão do projeto”.
O padre jesuíta coreano Sim Jong-hyeok, que também assinou a petição e traduziu o livro “Construindo uma ponte”, do também jesuíta James Martin, comentou sobre a postura do cardeal e o projeto de lei:
“Eu entendo a posição de Yeom. Ele está preocupado com a afirmação do casamento gay. Mas assinei a petição porque simplesmente não gosto de nenhum tipo de discriminação, inclusive contra orientação sexual e gênero... Espero que o projeto funcione como um acordo que proíbe tais atos discriminatórios na sociedade”.
O Korea Times citou o padre Sim:
“A Igreja Católica tem desfrutado de uma posição privilegiada na sociedade e teimosa em incluir homossexuais... Se um gay frequentador da Igreja me procurasse para uma consulta e escutasse que a homossexualidade é uma doença, então a pessoa fecharia sua mente. A pessoa e eu não desenvolveríamos nenhuma relação, o que significa que não posso exercer nenhuma forma de atividade ministerial como sacerdote. É uma questão de fazer meu trabalho. Até agora, a Igreja tem assumido uma atitude paternalista em relação à minoria, pedindo-lhes que mudem de atitude primeiro. Mas não funciona. A igreja deve tomar a iniciativa de recuperar a relação, que destruiu, entre a igreja e a comunidade minoritária ‘com respeito, compaixão e sensibilidade’, como Jesus fez pelos vulneráveis no passado”.
Ao se opor à discriminação com base na orientação sexual, tanto o cardeal Yeom quanto o padre Sim tentam priorizar um ministério pastoral amoroso para pessoas LGTBQIA+. No entanto, quando tal postura é anotada em notas de rodapé com o ensino oficial da Igreja, se opondo à igualdade no casamento, as palavras de apoio à comunidade LGBTQIA+ não são suficientes.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Cardeal da Coreia do Sul oferece apoio com ressalvas à lei contra a discriminação de LGBTQIA+ no país - Instituto Humanitas Unisinos - IHU