16 Agosto 2021
"Outro aspecto muito interessante é o fato de o Papa Francisco compare o que Maggiani denuncia, em relação à situação do alimento. Este é o elemento mais relevante da degeneração do trabalho das pessoas mais humildes", escreve Carlo Petrini, fundador do Slow Food, ativista e gastrônomo, sociólogo e autor do livro Terrafutura (Giunti e Slow Food Editore), no qual relata suas conversas com o Papa Francisco sobre a "ecologia integral” e o destino do planeta, em artigo publicado por La Stampa, 15-08-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
A resposta do Papa Francisco à bela carta de Maurizio Maggiani não veio do nada. Mas é nos trilhos de um sentimento que Francisco vem expressando há tempo, a respeito desse tipo de economia.
A denúncia da exploração praticada contra os mais fracos sempre esteve presente com força em seu coração. Lembro-me de seu discurso na inauguração da Expo Milão 2015, que contou com a presença de toda a elite da economia italiana. A certa altura de seu discurso, depois de ter deixado claro que esses encontros devem respeitar o meio ambiente e a dignidade dos trabalhadores, Francisco disse: “Esta economia mata”. Pensei, na hora, que essa afirmação tão abrupta pudesse gerar um certo espanto naquela plateia mas, em vez disso, como costuma acontecer quando personalidades desse tipo falam, acontece uma atitude de benevolência e depois se continua a fazer como antes. Temos um exemplo disso nestas últimas horas: estamos comemorando Gino Strada (médico e ativista que faleceu no último dia 13, NT) e todos dizem “que pessoa boa”, sem nunca destacar as denúncias que Gino fazia sobre as injustiças da guerra.
As posições de Francisco não são extemporâneas, mas uma forma constante de lidar com as temáticas da dignidade dos mais pobres em seu magistério. A encíclica Laudato Si' não é apenas um documento ecológico, mas também um texto social que destaca que, quando prejudicamos o meio ambiente, prejudicamos a nós mesmos e, em particular, aos mais pobres. Outro aspecto muito interessante é o fato de o Papa Francisco compare o que Maggiani denuncia, em relação à situação do alimento. Este é o elemento mais relevante da degeneração do trabalho das pessoas mais humildes. Nós sabemos algo sobre isso. Nossas batalhas contra a contratação ilegal e pelo preço justo do trabalho não são de hoje. Mas há uma novidade: nos últimos 30 anos, as cooperativas, instituições criadas para defender os trabalhadores, foram aviltadas por agressões sistemáticas.
Muitos criaram cooperativas fictícias para desfrutar dos benefícios que o estado, justamente, concede. Além disso, pior ainda, nasceram cooperativas para explorar o trabalho de terceiros, às vezes feito por pessoas da mesma etnia dos explorados. Mais uma vergonha, porque são explorados os próprios irmãos.
O contratante não deve se sentir tranquilo, dizendo que fez tudo da forma certa. O contratante também deve estar ciente de quanto os trabalhadores recebem. Digo isto também às realidades muito prósperas do sector agrícola, onde muitas vezes ouço dizer de parte dos produtores que estão dentro da lei em relação aos empenhos com as cooperativas: não é suficiente. Isso também vale para a produção editorial, em relação à exploração, não se pode dizer que não nos diz respeito.
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O papa, o trabalho e os explorados. Artigo de Carlo Petrini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU