13 Agosto 2021
Organizações fazem um chamado a revisão dos códigos éticos de investimentos e de atividades com bancos comerciais. Carta compromisso aponta a promoção de "nova economia mais atenta aos princípios éticos e para uma nova regulamentação da atividade financeira especulativa" (FT 168 e 170).
A reportagem é de Daniela Andrade, comunicadora da rede Igrejas e Mineração, 12-08-2021.
No Dia Internacional dos Povos Indígenas (09 de Agosto), Claretianos das Américas e do Caribe e a Rede de Igrejas e Mineração selaram o compromisso de desinvestimento em mineração. As entidades fazem um chamado às congregações religiosas e organizações religiosas para romper, como testemunho para o Cuidado da Casa Comum, os círculos de violência que ameaçam os povos indígenas. O webinar que marcou o compromissso destacou os contextos latino-americanos de pressão, ameaças e morte para milhares de povos indígenas. O documento assinado pelas coordenações latino americana da organização claretiana Solidariedade e Missão convida à co-responsabilidade de promover uma economia que atue como instrumento da ação missionária da Igreja. A transmissão do evento pode ser acessada aqui.
Através do testemunho do povo mapuche e da população de Chubut, na patagônia argentina, em sua luta contra a mineração, o evento lembrou os processos violentos e colonizadores aos quais o povo tem sido submetido. "Eles não sabem que estamos aqui e que queremos um modo de vida decidido pela comunidade. Eles não nos garantem a propriedade indígena e comunitária da terra e assim permitem que as indústrias extrativistas avancem", pontuou Angel Callupil, líder Mapuche e membro da Equipe Pastoral Aborígene Argentina (ENDEPA).
Padre Tono - Antonio Sánchez Lara, missionário salesiano, lembrou na ocasião a urgente conversão ecológica convocada pelo papa Francisco nas encíclicas Laudato Si' e Fratelli tutti. "Precisamos uma urgente conversão para que passemos de reis e donos da terra a parte dela. Para isso, precisamos reconhecer que uma porcentagem de nossos pastores e fiéis estão promovendo a exploração indiscriminada dos recursos naturais", ressaltou o religioso. "A atividade de mineração não está em andamento em Chubut devido à força das comunidades Mapuche Tehuelche, por causa da vontade popular de não dar uma licença social para a mega-mineração na província. Eles têm o direito de dizer não. E não é não", sustentou o padre.
Um ano após a morte do bispo claretiano Pedro Casaldáliga, em memória e oferta viva de seu legado, a congregação dos claretianos da América e do Caribe selou seu compromisso de denunciar a violência genocida e avassaladora que é tecida no interesse das empresas extrativistas. "Temos assumido como uma de nossas prioridades continentais a luta e a resistência à mega-mineração e o compromisso com a vida em suas diferentes manifestações", acrescenta Emilia Sena, leiga e membro da Equipe Solidariedade e Missão. "Pedro, encarnando o Evangelho, soube ser subversivo e de paz inquieta diante de um sistema que oprimia e matava a maioria dos empobrecidos", lembrou a leiga.
Pedro Casaldáliga foi bispo de São Félix do Araguaia, no nordeste do Mato Grosso. Ele deixou a Espanha sob a ditadura de Franco para se estabelecer em São Félix, então um vilarejo de 600 habitantes. Ele chegou ao Brasil em 1968 e foi ordenado bispo três anos mais tarde. A Prelazia do Xingu tinha 150 mil quilômetros quadrados de extensão e era lá que Pedro estava ativo. O latifúndio foi instalado violentamente nesta região, expulsando aldeias e povos indígenas, escravizando trabalhadores sem terra com o apoio da polícia e financiamento público. Pedro identificou o latifúndio como o inimigo do povo.
Em memória do profeta claretiano, a congregação, juntamente com a rede Igrejas e Mineração, convocam a Campanha de Desinvestimento Mineiro denunciando a violência financeira que mata as populações; denunciam o capital que quer continuar se acumulando à custa da vida das pessoas e da devastação da terra.
"Convidamos as organizações de fé a revisarem seus códigos éticos de investimento e dos bancos comerciais que utilizam. Ao nos responsabilizarmos por uma conversão ecológica integral, é urgente que lancemos um olhar para aqueles que financiam e lucram com a morte causada pela extração mineira. Os investimentos não são neutros e a Igreja é chamada a coerência, desde sua ética social cristã, a buscar caminhos para uma economia samaritana", lembrou Guilherme Cavalli, coordenador da Campanha de Desinvestimento em Mineração. "As economias extrativas são atividades que estão no centro da estruturação colonial do mundo, se caracterizam como a essência das desigualdades e da morte da mãe terra. Desde nossa opção cristã, como nos posicionamos diante a esse chamado?", finalizou.
A Rede Igrejas e Mineração e os Missionários Claretianos da América, através da Área de Solidariedade e Missão, promovem a campanha de Desinvestimento em Mineração na busca de um modelo econômico evangélico que promova a justiça e a dignidade das pessoas e da natureza. "Assumimos nossa co-responsabilidade em investimentos éticos que favorecem a vida e as iniciativas das comunidades", afirma a carta assinada pelas organizações. "Nós nos comprometemos a promover economias solidárias baseadas nos valores do cooperativismo, para uma conversão ecológica (cf. DfS 70 e LS 101)". Leia o documento aqui.
A adesão à Campanha de Desinvestimento Mineiro da Rede Solidariedade e Missão dos Missionários Claretianos da América com Presença na ONU, supõe um sinal de esperança e luz para muitas outras congregações e organizações religiosas, num caminho de coerência ética, transformação e ação de dentro da Igreja, num processo em direção às economias samaritanas onde ninguém é deixado para trás e no horizonte de uma terra sem males. Para saber mais sobre a Campanha de Desinvestimento em Mineração, visite o site ou escreva para a equipe da Rede Igrejas e Mineração.
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Em memória de Pedro Casaldáliga, Claretianos e Rede Igrejas e Mineração promovem campanha para uma economia que se distancia do modelo extrativista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU