29 Julho 2021
No editorial “Eis por que digo não ao Green Pass [passaporte vacinal] e à lógica do vigiar e punir”, que Massimo Cacciari escreveu nessa quarta-feira no jornal La Stampa, o filósofo levanta uma série de perguntas à Ciência e ao Direito.
O HuffPost contatou o professor Silvio Garattini, farmacologista e fundador do Instituto de Pesquisas Farmacológicas Mario Negri, de Milão, para oferecer as respostas da comunidade científica às dúvidas legítimas, em um hipotético diálogo à distância entre os dois.
Relatamos textualmente as perguntas do filósofo e as respectivas respostas do professor.
A reportagem é de Linda Varlese, publicada por L’HuffingtonPost.it, 28-07-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Perguntamos com grande humildade à Ciência: o cidadão não deveria ler e assinar, antes da vacinação, o informativo do próprio Ministério da Saúde?”
Certamente. Infelizmente, com a vacinação, perdemos uma oportunidade para coletar muitas informações. Por exemplo, um módulo para coletar os efeitos colaterais poderia ter nos dado a possibilidade de distinguir entre aquilo que se deve à vacina e aquilo que ocorre espontaneamente.
“O que a Ciência pensa do documento integral da Pfizer, em que se diz abertamente que não é possível prever os efeitos da vacina em longo prazo, uma vez que não puderam ser respeitados os procedimentos previstos (apenas 12 meses de experimentação em comparação com os anos que foram necessários para as gripes normais)?”
Não esqueçamos que estamos em uma emergência. Se tivéssemos esperado anos, quantas mortes teríamos? No entanto, as etapas fundamentais da experimentação foram respeitadas. A vacina antigripal é experimentada em poucos meses.
“Responde à realidade ou não o fato de que os testes para estabelecer genotoxicidades e carcinotoxicidades das vacinas em uso terminarão apenas em outubro de 2022? A fonte é a agência European Medicines – mas poderia se tratar de anti-vaxxers mascarados...”
É verdade. De fato, a autorização das vacinas é condicional e vale por três anos. No entanto, dada a composição química das vacinas de RNA, é improvável que haja substâncias cancerígenas. É preciso dizer que, mesmo para muitos medicamentos, esses estudos chegam em um segundo momento.
“É verdade ou não que, embora o próprio Ministério da Saúde tenha declarado que a administração da vacina está subordinada a condições e em caráter provisório, nenhum protocolo foi ainda estabelecido no que diz respeito a sujeitos imunodeprimidos ou com graves formas de alergia?”
Sabemos que os sujeitos imunodeprimidos desenvolvem respostas imunitárias apenas em uma porcentagem próxima aos 50%. A alergia não é uma contraindicação, a menos que diga respeito a produtos presentes nas vacinas. Sujeitos que declaram alergia são retidos por pelo menos uma hora, e, naturalmente, estão disponíveis os medicamentos necessários para combater um eventual choque anafilático.
“A Astrazeneca disse que vai publicar um relatório final sobre essas questões em março de 2024. É verdadeiro ou falso que aumentaram, de modo extremamente significativo, os casos de miocardite precoce em jovens que receberam a vacina? Ou o Center for Disease Control está mentindo? É fake news que, em Israel e na Grã-Bretanha, muitas das mortes no último período foram de pessoas que já haviam recebido as duas doses?”
Assumindo a premissa de que o vírus induz graves danos cardíacos, as miocardites a partir da vacina são geralmente de tipo modesto e reversível. Na Itália, os dados do Instituo Superior de Saúde indicam que, de fevereiro até hoje, a mortalidade das pessoas vacinadas foi de apenas 1%. Uma recente publicação relata que, em Israel, apenas 6% das pessoas vacinadas internadas em hospitais não sofriam de doenças graves. Deve-se considerar que as vacinas não protegem em 100%, principalmente no que diz respeito à variante Delta.
“O que tudo isso significa? Que a vacina é inútil, que não devemos nos vacinar? Absolutamente não. Significa que deve ser uma escolha livre, e uma escolha só é livre quando é consciente. Só somos livres quando decidimos com base em dados precisos e calculando racionalmente os custos e os benefícios para nós e para os outros. Assim eu fiz e me vacinei, embora ignorando danos eventuais de longo prazo e sabendo que, mesmo assim, eu podia adoecer ou contagiar outras pessoas não vacinadas (pois, que eu saiba, isso pode ocorrer, ou a Ciência o nega?)”
O posicionamento é compartilhável. Não existe uma obrigação para a vacinação, mesmo com base na Constituição [italiana]. No entanto, a minha liberdade termina quando afeta a liberdade dos outros. De fato, os profissionais da saúde podem não se vacinar, mas, como correm o risco de contagiar os seus próprios pacientes, se não se vacinarem, não podem exercer a sua atividade. As limitações à liberdade são múltiplas: por exemplo, não se pode dirigir um carro sem o documento de habilitação. É preciso enfatizar que os danos em longo prazo não são conhecidos para a maioria dos medicamentos que usamos todos os dias. Na Itália, falta uma clara informação capaz de explicar a relação risco-benefício da vacina em relação ao contágio.
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“As minhas respostas a Cacciari sobre a vacina, ponto por ponto” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU