10 Julho 2021
“A chave para entender a liberdade religiosa desde uma perspectiva católica é primeiro entendendo a dignidade humana frente às liberdades individuais e comunitárias para crer e praticar suas religiões na sociedade moderna”, escreve Gloria Purvis, ativista por justiça racial e apresentadora do programa de rádio “Morning Glory”, em artigo publicado por America, 07-07-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Você deve ter ouvido a velha admoestação para nunca falar sobre sexo, religião ou política por respeito. Frequentemente essas conversas podem levar à discórdia, divisão e algumas vezes até violência. Nós todos conhecemos particularmente questões quentes: casamento, aborto, identidade de gênero, adoção por casais do mesmo-sexo... como resultado, muitas pessoas tentam evitar falar sobre esses tópicos juntos.
Eu, no entanto, falo sobre sexo, religião e política frequentemente. Eu tento fazer isso com civilidade, caridade e boa vontade. Eu escuto ativamente e me engajo com outras pessoas de boa vontade cujas visões estão em conflito com a minha própria.
Eu penso que muitos desses debates públicos centram sobre um princípio importante: liberdade religiosa. Infelizmente, muitas pessoas não têm um entendimento adequado ou apreciam a liberdade religiosa nos Estados Unidos.
O básico aqui é: os Estados Unidos protegem a liberdade religiosa na Constituição. De fato, liberdade religiosa é frequentemente chamada de “primeira liberdade” porque é garantida pela Primeira Emenda no Bill of Rights (Declaração de Direitos). A Primeira Emenda previne o governo de estabelecer uma religião e de proibir o livre exercício da religião.
Mas isso é necessário para lembrar ao povo que o governo não concede a liberdade religiosa. E sim, o governo reconhece e salvaguarda esse direito. De fato, nós católicos acreditamos que a liberdade religiosa é um dos “direitos inalienáveis” dados por nosso Criador, como descrito na Declaração de Independência.
John Courtney Murray, jesuíta, que foi editor associado da revista America, contribuiu muito para nosso entendimento coletivo de liberdade religiosa, tanto na Igreja Católica quando mais amplamente. O padre Murray ajudou a Igreja Católica a desenvolver de uma posição de tolerância religiosa para uma liberdade religiosa como definido em “Dignitatis Humanae” (“A Declaração sobe a Liberdade Religiosa” do Concílio Vaticano II) e “Nostra Aetate” (“Declaração sobre a Relação da Igreja com as Religiões Não-Cristãs” do Vaticano II).
A chave para entender a liberdade religiosa desde uma perspectiva católica é primeiro entendendo a dignidade humana frente às liberdades individuais e comunitárias para crer e praticar suas religiões na sociedade moderna.
Dignitatis Humanae declara:
“o direito à liberdade religiosa se funda realmente na própria dignidade da pessoa humana, como a palavra revelada de Deus e a própria razão a dão a conhecer. Este direito da pessoa humana à liberdade religiosa na ordem jurídica da sociedade deve ser de tal modo reconhecido que se torne um direito civil”. (n.2)
Nós devemos reiterar esse ensinamento enquanto nos agarramos aos desafios do livre-exercício religioso hoje.
Alguns devem ler o livro “Religious Freedom for the Good of All: Theological Approaches and Contemporary Challenges” (“Liberdade Religiosa para o bem de todos: abordagens teológicas e desafios contemporâneos”), publicado em 2019 pela Comissão Teológica Internacional da Igreja Católica.
Essa reflexão acadêmica coloca a liberdade religiosa como um pré-requisito, não apenas para a dignidade humana, mas também para a realização do bem comum em meio a ambientes cada vez mais diversos e complicados.
Achei essa passagem digna de nota, dados os desafios que enfrentamos ao testemunhar nossa fé hoje:
Uma igreja crente que vive em uma sociedade pluralista e multicultural deve desenvolver habilidades adequadas às novas condições existenciais para o testemunho da fé. Essas condições não são muito diferentes daquelas que a Igreja foi chamada a semear e florescer (nº 10).
No episódio desta semana do “The Gloria Purvis Podcast”, falo com Robert P. George, um especialista em liberdade religiosa. Ele é professor de Jurisprudência e o diretor do Programa James Madison em Ideais e Instituições Americanas da Universidade de Princeton. Ele é considerado um dos intelectuais conservadores preeminentes de nosso país e um defensor da liberdade religiosa e da liberdade de expressão nos Estados Unidos e em todo o mundo.
Prepare-se: esta é uma conversa sobre sexo, religião e política, porque o aprofundamento da nossa compreensão da liberdade religiosa exige isso. Casamento. Aborto. Identidade de gênero. Adoção. O que acontecerá se o exercício de minha liberdade religiosa nessas áreas for percebido como discriminação contra outra pessoa? Como pode a Igreja simultaneamente defender a liberdade religiosa e ficar ao lado daqueles que são, e historicamente foram, condenados ao ostracismo ou oprimidos? Ouça agora para saber como o professor George pensa sobre essas questões importantes.
O podcast, em inglês, está disponível abaixo.
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Católicos: nós precisamos falar sobre sexo, religião e política - Instituto Humanitas Unisinos - IHU