08 Julho 2021
O mandatário haitiano assassinado na madrugada desta quarta-feira, 07-07-2021, havia assumido em 2016 depois de ser eleito com 55,6% dos votos. Foi o primeiro e único cargo público que ocupou. Em 2019 denunciou uma tentativa de golpe de Estado.
A reportagem é publicada por Página/12, 07-07-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“Meu mandato começou em 07 de fevereiro de 2017 e em 07 de fevereiro de 2022 entregarei o poder a seu proprietário, o povo do Haiti”, havia prometido o presidente haitiano Jovenel Moïse. Porém, nesta madrugada, o mandatário foi assassinado a tiros em sua residência, quando um grupo invadiu a casa e disparou contra ele e sua esposa, Martine Moïse, que está hospitalizada em Miami, EUA.
Moïse, um empresário bananeiro, assumiu a presidência depois de ser eleito com 55,6% dos votos em 2016 e com um escrutínio demorado pelas acusações de fraude do outro candidato, Jude Célestin, da Liga Alternativa para o Progresso e Emancipação do Haiti.
Foi o sucesso do ex-presidente Michel Martelly, que governou entre 2011 e 2016, e fundo o partido de centro-direita Tèt Kale. O primeiro e único cargo público que Moïse ocupou foi o de presidente.
Filho de um comerciante com uma costureira, Moïse nasceu em 26 de junho de 1968, em Trou-du-Nord, uma zona rural no departamento Nordeste do Haiti. Estudou ciências da educação na Universidade de Quisqueya, localizada em Porto Príncipe. Em 1996, deixou a capital haitiana e se deslocou a Port-de-Paix, no noroeste do país.
Sua primeira incursão no mundo empresarial esteve relacionada com a venda de automóveis, porém, rapidamente passou a se dedicar ao cultivo e exportação de bananas. Em menos de uma década, Moïse chegou a ser secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria do Haiti e ganhou o apelido de “homem banana”.
Moïse também desenvolveu outros negócios vinculados à agricultura e à geração de energia eólica e solar.
Durante sua campanha eleitora enfatizou o setor rural, que representa a maior parte da população haitiana. Apoiando-se nas políticas de Martelly, Moïse prometeu levar água corrente e eletricidade a todo o país.
O Haiti nunca conseguiu se recuperar do terremoto de 2010, que deixou um saldo de mais de 300 mil mortos e um país devastado. Em 2019, os protestos começaram a mirar o governo de Moïse, que acusou a oposição e a oligarquia haitiana de estar gestando um golpe de Estado.
“O golpe de Estado não é um fato pontual, mas uma sequência de ações. Até agora os governos eram carrascos a mando de grupos econômicos, mas hoje isto não ocorre mais, e nossas decisões caem muito mal aos que se sentem poderosos e intocáveis. Um pequeno grupo de oligarcas estão por trás do golpe e quer se apoderar do país”, disse Moïse, em uma entrevista dada ao jornal espanhol El País, em fevereiro deste ano.
Em 31 de maio de 2019, o Tribunal Superior de Contas enviou ao parlamento seu relatório sobe o destino dos fundos da Petrocaribe – a organização fundada por Hugo Chávez, comandada desde a Venezuela para outros países do Caribe – e acusou que as empresas de Moïse e de seu antecessor Martelly haviam sido beneficiadas com projetos milionários que não foram executados.
Os protestos contra o governo haitiano deixaram vários mortos nas ruas de Porto Príncipe e uma grande quantidade de presos, e forçaram mudanças no gabinete.
Moïse apontou contou Joseph Mécène, um juiz de 72 anos, nomeado presidente interino pela oposição, composta por famílias e empresário “que controlam os principais recursos odo país, que sempre colocaram e tiraram presidentes e que utilizam as ruas para criar instabilidade”.
Em 07 de fevereiro deste ano, o Conselho Superior do Poder Judicial ditou uma resolução que dava por concluído o mandato de Moïse, que considerava que sua gestão se encerrava em 2022.
Para setembro estavam previstas eleições legislativas, assim como a convocação de presidenciais para novembro, nas quais Moïse não poderia ser candidato.
O presidente assassinado propôs fazer uma reforma constitucional para criar o cargo de vice-presidente e eliminar o de primeiro-ministro, unir Congresso e Senado em uma só câmara e permitir que os haitianos que vivem no exterior possam votar e ser votados.
“Eu não me beneficio com a nova constituição, mas sim o povo haitiano. Eu não participarei das eleições – dizia Moïse. A nova constituição trata de equilibrar os três poderes que atualmente estão acumulados pelo legislativo”.
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Haiti. Quem era Jovenel Moïse? De empresário bananeiro a chefe de Estado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU