23 Junho 2021
O Dia Nacional dos Povos Indígenas foi celebrado ontem no Canadá. É celebrado todos os anos, no dia 21 de junho, no dia do Solstício de Verão, com o objetivo de celebrar as culturas, línguas e tradições dos vários povos indígenas First Nations, Inuit e Métis. Este ano, o dia foi marcado pelo horror provocado pela descoberta dos restos mortais de 215 crianças perto de um antigo colégio residencial interno em Kamloops. Mensagem de vídeo do arcebispo de Ottawa-Cornwall: “Como bispo, junto-me a outros bispos e líderes religiosos no Canadá para expressar minhas desculpas. Como Igreja, falhamos”. Com um comunicado divulgado ontem, o primeiro-ministro Trudeau voltou a pedir à Igreja Católica um “pedido formal de desculpas”.
A reportagem é de Maria Chiara Biagioni, publicada por Agência SIR, 22-06-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Estou sem palavras para descrever a situação. Nas últimas semanas, tenho lido e ouvido para entender melhor a realidade das escolas residenciais, mas também o impacto que esse sistema teve sobre os povos indígenas. Como bispo, junto-me a outros bispos e líderes religiosos no Canadá para expressar minhas desculpas pelo papel desempenhado pela Igreja no sistema escolar residencial”.
Assim começa o vídeo gravado e postado ontem no canal do YouTube da arquidiocese de Ottawa-Cornwall pelo D. Marcel Damphousse para expressar a dor e as desculpas da Igreja Católica no dia em que se celebra o Dia Nacional dos Povos Indígenas no Canadá. Instituído pelo governo federal canadense em 1996, o Dia é celebrado todos os anos no dia do Solstício de Verão com o objetivo de celebrar as culturas, línguas e tradições dos vários povos indígenas First Nations, Inuit e Métis e reconhecer as importantes contribuições que os povos indígenas deram e continuam a dar ao Canadá.
A dor ainda queima pela trágica descoberta perto da antiga escola residencial Kamloops dos restos mortais de 215 crianças. Esses corpos são o sinal mais dramático da opressão sistêmica, das desigualdades e da discriminação que os povos indígenas sofreram no passado e das injustiças e desafios que continuam a enfrentar hoje.
Estima-se que pelo menos 150.000 crianças indígenas foram separadas à força de seus pais e das comunidades e levadas para locais onde sua língua e cultura eram proibidas na tentativa de eliminá-las intencionalmente. Essas crianças foram submetidas a abusos emocionais, físicos e sexuais. A Comissão da Verdade e Reconciliação também relatou que milhares de crianças que foram enviadas a essas escolas nunca mais voltaram para casa. O número exato de crianças mortas poderia, portanto, não ser conhecido e muitos pais nunca descobriram o que aconteceu com seus filhos.
O Arcebispo Damphousse faz referência em sua mensagem de vídeo a essa página trágica da história canadense e diz: "Como Igreja, falhamos não apenas porque não fomos testemunhas autênticas da caridade de Jesus Cristo, mas porque pecamos contra irmãos e irmãs que devíamos cuidar". “As palavras - acrescentou - não podem cancelar a dor e não podem fazer com que as crianças voltem para suas famílias”. “Como membro da Igreja Católica e como bispo, estou desolado. Eu sei que não estou sozinho em minha dor. Uno a minha voz àqueles que pedem ao Santo Padre um pedido de desculpas aos povos indígenas do Canadá”. Para o dia, os bispos lançaram uma "Oração Especial pela Tolerância, Perdão e Reconciliação".
Há poucos dias, a Conferência Episcopal Canadense anunciou em um comunicado que até o final do ano uma delegação de povos e comunidades indígenas do Canadá viajará para Roma para se encontrar com o Papa Francisco. "Um projeto" - especifica-se - para o qual os bispos juntamente com as organizações nacionais First Nations, Métis e Inuit estão trabalhando "há mais de dois anos", e que infelizmente a pandemia global causada pela Covid-19 interrompeu. O encontro com o Papa contará com a presença de um grupo heterogêneo de “anciãos/guardiões do conhecimento”, sobreviventes das escolas residenciais e jovens de todo o país.
“O governo do Canadá continua a pedir à Igreja Católica que apresente um pedido formal de desculpas às populações indígenas pelo impacto que sofreram com o sistema de escolas residenciais”. É o que escreve em uma nota o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, divulgada ontem, 21 de junho, por ocasião do "Dia Nacional dos Povos Indígenas do Canadá". "Assumir a responsabilidade é um dos 'apelos à ação' formulados pela Comissão da Verdade e Reconciliação e é um passo essencial para que possa avançar a verdade e a reconciliação no Canadá".
Em seguida, referindo-se à trágica descoberta de Kamloops, o primeiro-ministro lançou um convite a todo o país para "nunca esquecer aquelas almas inocentes perdidas: este deve ser o nosso compromisso coletivo com a reconciliação". “Não basta pedir desculpas por essas tragédias”, acrescentou o premiê. "Precisamos corrigir os erros do passado e enfrentar os desafios em curso, e só podemos fazer isso com a ação". Trudeau garantiu que o governo do Canadá está trabalhando em colaboração com os povos, as províncias e os territórios indígenas para formular uma série de “Chamados à Ação” e esse trabalho - disse ele - é “uma prioridade”.
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A dor e as desculpas dos bispos do Canadá: “Como Igreja, falhamos”. Mas não é suficiente para o primeiro-ministro Trudeau - Instituto Humanitas Unisinos - IHU