12 Mai 2021
"A sexta-feira, 07 de maio, representou mais uma data a ser lembrada pelos crimes cometidos através das forças de segurança dos invasores europeus na Palestina Ocupada. No 28º dia do Ramadã, em plena sexta, a Esplanada das Mesquitas se viu novamente cercada e militarizada", escreve Bruno Beaklini, cientista político e professor de relações internacionais de origem árabe-brasileira, editor dos canais do Estratégia & Análise, em artigo publicado por Monitor do Oriente Médio.
O presente artigo foi produzido na noite de domingo dia 09 de maio, antes do bombardeio covarde do Apartheid Israelense contra a Faixa de Gaza, mas no auge das provocações e tentativa de limpeza étnica na Al Quds Ocupada (Jerusalém Oriental ocupada). Os fatos subsequentes como a reação da artilharia de Gaza contra a entidade sionista criada a partir da Nakba e o estado de tensão absoluta em toda a Cananeia sob agressão de eurodescendentes só se agrava após os acontecimentos. Jamais abandonaremos a Palestina.
A sexta-feira, 07 de maio, representou mais uma data a ser lembrada pelos crimes cometidos através das forças de segurança dos invasores europeus na Palestina Ocupada. No 28º dia do Ramadã, em plena sexta, a Esplanada das Mesquitas se viu novamente cercada e militarizada. Não se trata de um país independente em protesto contra um mau governo. Não. É uma força ilegal, invasora, racista e que desde o início do Mandato Britânico (1920-1948) vem promovendo limpeza étnica e mudando a geografia humana, cultural e econômica do território histórico da Cananeia.
Sempre foi assim, desde a concepção do termo e conceito de sionismo em Viena, em abril de 1892. Os acordos do sionismo com os impérios datam do final do século XIX e incluem arranjos com dois Estados regionais desaparecidos, o Austro-Húngaro e o Otomano. Até a derrota desse último, em 1918, os invasores eurojudeus se dedicavam a “comprar” terras de proprietários que nunca viram sequer uma oliveira plantada. Após a vitória de Inglaterra, França e EUA na Primeira Guerra Mundial, a agência liderada pelo ex-estudante de direito em Tessalônica (Grécia sob o jugo otomano), David Ben Gurion, se dedica a expulsar camponeses e colaborar com os colonialistas de turno. A fundação do Estado ilegal se deu através de um gigantesco pogrom, a Nakba (A Tragédia) quando, em maio de 1948, mais de 800 mil pessoas foram expulsas de suas casas e mais de 500 aldeias simplesmente destruídas.
Ou seja, o que o inimigo promove em Jerusalém, especificamente na sua parcela oriental e em definitivo no bairro Sheikh Jarrah não é “novidade”. Ao contrário, se trata do padrão de comportamento da entidade sionista que promove o Apartheid e o racismo como política de Estado. Os Territórios Ocupados em junho de 1967 foram anexados por Israel. Contra todas as resoluções do direito internacional, à época os europeus tomaram para si a Península do Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, Jerusalém e as Colinas de Golã. Em outubro de 1973, a coalizão de Síria e Egito, além das forças expedicionárias de demais países árabes – incluindo a Palestina através da OLP – tentou retomar a Península do Sinai como as Colinas de Golã. Podemos afirmar que as forças de Sadat comandando o antigo exército nasserista empataram e infelizmente, as forças armadas sírias perderam. O Sinai só foi “devolvido” em definitivo em 1982, mas através de um péssimo e vergonhoso acordo de reconhecimento do Egito para com a entidade sionista.
Golã continua ocupada, assim como a Cisjordânia e Jerusalém Oriental. A Faixa litorânea de Gaza foi desocupada com a retirada das colônias invasoras somente entre agosto e setembro de 2005. Como já sabemos, trata-se da única parcela da Palestina histórica totalmente liberta e sofrendo um cerco militar 24 horas por parte do inimigo desde junho de 2007. O outro território árabe em que o invasor perdeu e foi expulso é o Líbano, especialmente na sua parcela ao sul – o antigo norte da Cananeia -, desde maio de 2000. É disso que se trata. Uma guerra de ocupação e tratados não respeitados. A entidade sionista não respeita os Acordos de Oslo (1 e 2), assim como nunca respeitou acordo algum, desde a armadilha propagandística montada pelo oficial de inteligência britânica T. E. Lawrence (vulgarmente conhecido como Lawrence da “Arábia”) com as conversações entre o emir Faisal e o agente sionista bielorusso Chaim Weizmann, em fevereiro de 1919.
Não por coincidência, a temperatura política do Apartheid Israelense é manipulada com discursos racistas e ações de “securitização”. O processo é simples, ao provocar a população nativa aumentando a legítima revolta do povo palestino como forma de “solucionar” querelas internas. Considerando que tanto a direita histórica do Likud (herdeira dos bandos fascistas da Irgun e da Stern) como a nova direita do Partido da Resiliência, esteticamente melhor apresentável e comandada por Benny Gancz (o carniceiro de Gaza em 2012 e 2014), não formam maioria e nem sequer um governo estável, logo, a tendência é transformar o modus operandi dos “falcões militares” em modus vivendi. Israel, a entidade sionista invasora, vive de sua economia de guerra (incluindo a indústria da segurança e da alta tecnologia), da ajuda militar dos Estados Unidos, da internacionalização de sua população e da conquista de territórios vizinhos. Sem isso, não alcançam o “equilíbrio” necessário para justificar seus crimes.
O bairro de Sheikh Jarrah é o exemplo da prepotência do inimigo. Alegam que zonas do bairro palestino teriam sido compradas no século XIX e que o fundo dos sionistas teria revendido os “direitos de propriedade” para um investidor da extrema direita. Este, de sua parte, aposta na presença cada vez maior de colonos estrangeiros e na consequente expulsão das famílias que habitam a região desde pelo menos o ano 1100! Segundo o portal alemão em língua inglesa DW, o ataque dos invasores é contra famílias historicamente situadas nos bairros circunvizinhos: “De acordo com organizações de direitos humanos, as quatro famílias estão entre as oito na área que atualmente estão sob a ameaça de ações de despejo imediatas movidas por organizações de assentados. As outras quatro famílias podem ser despejadas até agosto, com mais famílias em vários estágios do processo legal. Além disso, várias famílias no bairro de Silwan, ao sul da Cidade Velha, também enfrentam expulsão.”
Nos dados apurados pelo portal Quem lucra com a Ocupação da Cisjordânica, são identificadas uma empresa de segurança e temas sensíveis de Israel, a Modi'in Ezrachi como dando apoio e suporte aos colonos. Trata-se da implantação de postos de controle terceirizados, sendo a verba dividida entre a empresa acima citada e a Sheleg Lavan.
A manipulação dos colonos na região é principalmente através de uma organização de extrema direita, a Ateret Cohanim. Esta organiza uma Yeshiva com estudos religiosos, para casados e uma academia pré-militar. Seu papel é defender o que alegam ser “a libertação da Cidade Velha”, ou seja, a prática de crime de direito internacional no espaço urbano.
Segundo a publicação Electronic Intifada, a coleta de fundos nos EUA se daria pela pessoa jurídica da Nahalat Shimon International, uma empresa estadunidense cujo domínio de internet não foi localizado. Todo o esforço tem como alvo primário as oito famílias já citadas, acompanhadas de vinte negócios locais demolidos e tendo como meta de curto prazo a expulsão de 700 moradores históricos da cidade. É a Nakba de Jerusalém, mas dessa vez contando com denúncias internacionais e uma elevada mobilização popular e comum satisfatório grau de unidade na luta contra o Apartheid Israelense.
Parece que realmente os criminosos não aprendem. Sheikh Jarrah é o título em homenagem ao emir Hussam al-Din al-Jarrahi, nome do médico que atendia ao sobrinho do leão, o Sheikh Salahhadin, libertador de Jerusalém que respeitou todos os códigos de benevolência para com os derrotados. Nenhuma igreja ou templo fora profanado, nenhum inocente ou despossuído perdeu sua vida ou bens. A cimitarra que derrotou os invasores cruzados hoje são as pedras que organizam a terceira Intifada.
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O cerco do Apartheid Israelense e a Nakba de Jerusalém - Instituto Humanitas Unisinos - IHU