07 Mai 2021
Um novo e exaustivo relatório de teólogos católicos e outros acadêmicos denunciam a doutrina negativa da Igreja Católica sobre a homossexualidade com o objetivo de ajudar “a colocar fim nesses cruéis e falsos ensinamentos”.
A reportagem é de Robert Shine, publicada por New Ways Ministry, 06-05-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O Instituto para Pesquisa Católica Wijngaards, uma think tank britânica, publicou o relatório, em forma de livro, “Christian objections to same-sex relationship: An academic Assessment” (“Objeções cristãs às relações homossexuais: uma avaliação acadêmica”, em tradução livre), depois de dois anos de pesquisas e preparação.
O prefácio, intitulado “Declaração acadêmica sobre a Ética nas relações homossexuais livres e fiéis”, oferece um resumo do documento, uma iniciativa interdisciplinar:
“Neste novo relatório, os teólogos uniram forças para provar que não há licença para a difamação oficial da Igreja Católica das uniões do mesmo sexo [...] o Vaticano, bem como a maioria das outras igrejas cristãs, é responsável por continuar com a discriminação contra pessoas em relacionamentos homossexuais, afirmando fundamentos bíblicos para justificar sua condenação. Nosso relatório pretende ajudar a acabar com este cruel e falso ensinamento”.
“Esse relatório de pesquisa é uma avaliação crítica do atual ensinamento papal que condena atos e relações homossexuais. Nós queremos chamar a atenção das autoridades vaticanas e bispos de todo o mundo para desconexão entre o ensinamento papal e a produção acadêmica, e os compelir a revisar e mudar os ensinamentos cruéis e ultrapassados. Nós também queremos ajudar todas as comunidades cristãs oferecendo apoio acadêmico robusto para suas iniciativas para resolver as divisões e fazer as Igrejas incluírem totalmente as pessoas em relações homossexuais. Nós queremos acabar com essa discriminação vestida de doutrina”.
Com as conclusões definitivas, o relatório pretende “servir como o último prego no caixão dos argumentos bíblicos que justificam a homofobia”. Embora estudos anteriores tenham desmascarado algumas das razões bíblicas e teológicas pelas quais a homossexualidade é reprovada no ensino católico, a declaração de imprensa continuou:
“Este é o primeiro relatório a reunir e avaliar a pesquisa mais recente revisada por pares sobre as passagens bíblicas usadas para condenar relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo. Muitas dessas pesquisas cruciais só foram publicadas recentemente, em março de 2020 e, portanto, ainda são conhecidas apenas nos círculos acadêmicos”.
Liderados por Luca Badini Confalonieri, do Wijngaards Institute, 19 outros acadêmicos estão listados como autores contribuintes. Dos EUA, se incluem irmã Jeannine Gramick, cofundadora do New Ways Ministry, Cristina Traina, professora da Fordham University e contribuidora do Bondings 2.0, irmã Margaret Farley, da Yale Divinity School, Todd Salzman e Michael Lawler, ambos de Creighton University, e Hille Haker, da Loyola University de Chicago. Entre os autores internacionais estão Michael Brinkschröder, da Alemanha, Sharon A. Bong, da Malásia, Aloysius Lopez Cartagenas, das Filipinas, Irina Pollard, da Austrália, e John Wijngaards do Reino Unido, de onde vieram vários outros colaboradores.
O prefácio do livro, que resume as principais conclusões das pesquisas, foi escrito por Krzysztof Charamsa, um teólogo gay que anteriormente trabalhou para a Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano, em 2014, antes do Sínodo sobre a Família. Em seu texto, diz:
“Uma mensagem de esperança em uma hora de certezas vacilantes: esta Declaração Acadêmica é um presente e um compromisso para a Igreja. Os teólogos, conscientes da sua responsabilidade científica e cristã, empenham-se em ajudar a amadurecer o julgamento da Igreja… Apresentando o progresso das humanidades e das ciências bíblicas, os signatários realizam um ato de honestidade intelectual e de confiança na Igreja”.
Mais de 60 estudiosos afirmaram o prefácio. Entre os signatários notáveis estão Lisa Sowle Cahill, Elisabeth Schüssler Fiorenza, Ivone Gebara, Mary McAleese, entre outros.
McAleese, que é a ex-presidente da Irlanda, canonista e crítica do histórico LGBTQ da hierarquia, comentou:
“Este projeto de pesquisa colaborativa internacional é a primeira tentativa séria de usar ferramentas interdisciplinares para desafiar, sondar e interrogar o ensino da Igreja na área da homossexualidade. O Povo de Deus precisava disso para ajudar a convencer um magistério cego a abrir seus olhos e ouvidos, para ver e ouvir os danos infligidos a pessoas boas, jovens e velhos, por ensinamentos que vão contra a ciência e contra o amor do Criador”.
Em março, o Vaticano causou um estrago tremendo ao proibir as uniões entre pessoas do mesmo sexo. O raciocínio dessa decisão foi exemplar em mostrar o quão cruel e quão falsos os ensinamentos da Igreja sobre a homossexualidade podem ser. Agora, apoiado por pesquisas contemporâneas de vários estudiosos, a iniciativa do Instituto Wijngaards oferece uma poderosa refutação a esses ensinamentos negativos da Igreja sobre as pessoas LGBTQ. O relatório deixa claro que não há base bíblica para tais ensinos e, em sua abordagem interdisciplinar, também deixa claro que também não há base nas ciências contemporâneas.
Muitos bispos e milhares de outros líderes da Igreja estão começando a reconhecer que o ensino da Igreja sobre a homossexualidade precisa se desenvolver melhor. A questão diante de nós é quanto dano será causado ao longo do caminho antes de chegarmos lá. Juntos, o relatório do Wijngaards e a proibição do Vaticano, oferecem à Igreja um ponto de inflexão único neste ano para estancar os danos e abraçar todo o amor.
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Novo livro de pesquisadores busca acabar com “os cruéis e falsos ensinamentos” sobre a homossexualidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU