14 Abril 2021
"Em 13 de abril de 1986, o Papa João Paulo II fez a histórica visita ao Templo Judaico Maior de Roma. Recordamos aquele momento 35 anos depois", escreve Riccardo Di Segni, rabino chefe da Comunidade Judaica de Roma, em artigo publicado por La Repubblica, 13-04-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em 13 de abril de 1986, o Papa João Paulo II fez a histórica visita ao Templo Judaico Maior de Roma. Recordamos aquele momento 35 anos depois. Os judeus romanos, devido à sua proximidade geográfica e à história de dois mil anos de convivência, têm uma relação muito particular com a Igreja e sobretudo com os papas; eles conheceram todos os tipos e, apesar de tudo o que tiveram que suportar, sempre existiu uma espécie de relação particular. O dia em que o polonês Karol Wojtyla foi eleito papa foi 16 de outubro de 1978 e para os judeus romanos havia dois sinais preocupantes: a origem de um mundo, como o catolicismo polonês, tradicionalmente imbuído de forte antijudaísmo, e a circunstância de 16 de outubro, que é o dia funesto em que em 1943 ocorreu o atentado nazista em Roma. Logo sinais tranquilizadores chegaram quanto à questão polonesa; a biografia do novo papa ia contra a corrente de seu ambiente. Wojtyla tinha conhecido e apreciado um judaísmo vital e o vira desaparecer nos anos do Holocausto. Aliás, ao chegar a Roma, ele ficou surpreso de que os judeus locais não fossem reconhecíveis por suas roupas como os concidadãos judeus de sua juventude.
O clima em que a visita amadureceu foi muito diferente daquele de hoje; havia o terrorismo, o próprio papa tinha escapado de um atentado, as relações entre a Igreja Católica e o mundo judaico eram complexas. Do ponto de vista doutrinal, as aberturas assinaladas pela declaração conciliar Nostra Aetate de 1965, que "absolveu" os judeus da culpa do deicídio, haviam tido um seguimento, com comissões de especialistas ao trabalho, mudanças na pregação e na formação dos sacerdotes.
Do ponto de vista político, continuava a frieza para com o Estado de Israel, que só seria reconhecido pela Santa Sé em 1993. Testemunhas oculares relataram que durante um almoço do Papa com seus colaboradores mais próximos, no qual discutiam como responder de alguma forma às acusações pelas reticências do Vaticano, alguém propôs como gesto de abertura uma visita do papa à Sinagoga de Roma, como se fosse a representação do mundo judaico e a porta do Estado de Israel. Mas isso porque, se os judeus romanos têm uma relação particular com o papado, o mesmo é mutuamente verdadeiro para o Vaticano, mesmo que não seja declarado.
A ideia agradou ao Papa, que era especialista em gestos clamorosos e simbólicos, e as secretarias começaram a trabalhar. Para o rabino chefe Elio Toaff, que recebeu a proposta discretamente, foi uma surpresa e um desafio; isso nunca tinha acontecido desde a época do primeiro papa, Pedro. Ignorando completamente seus colegas italianos e o rabinato israelense, que provavelmente teriam criado problemas para ele, Toaff procurou e encontrou um apoio firme e de respeito no rabinato europeu, do qual era expoente. Nesse ponto, os problemas tornaram-se problemas organizacionais, diplomáticos e midiáticos.
Os meios de comunicação foram os verdadeiros interlocutores da operação e os transmissores da mensagem. Que era aquela simplificada do abraço e da reconciliação. Wojtyla sabia bem o quanto uma imagem, naquela época, valia muito mais do que teoria e palavras. Comparadas à imagem sensacional dos dois representantes religiosos trajados de branco e sorridentes, que se abraçavam, as sutilezas doutrinárias, os documentos das comissões, as polêmicas quase diárias desapareciam. Mas, em qualquer caso, as palavras também contaram; a famosa frase do papa que indicava os judeus como "irmãos mais velhos" é desse evento. Expressão genial que parece ter sido sugerida pelo carismático Cardeal Etchegaray, que à primeira vista inspira amor e respeito; mas também sutileza teológica ambígua, porque na Bíblia os irmãos mais velhos, começando com Caim, são os maus e aqueles que perdem a primogenitura.
O professor Saban, então presidente da Comunidade, e o Rabino Toaff não esqueceram a história, a atualidade e os problemas em suas intervenções. Ao pedido de reconhecimento do Estado de Israel, o Papa Wojtyla argutamente respondeu em privado, citando o Eclesiastes: "existe um tempo para cada coisa". O tempo passou com muitas novidades, mas certamente desde aquele 13 de abril as relações entre os dois mundos mudaram radicalmente.
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Wojtyla, Toaff e o abraço que fez história - Instituto Humanitas Unisinos - IHU