18 Março 2021
O cardeal, que no dia 7 de março deixou uma cabana sagrada de Bamenda, envia uma importante mensagem aos africanos.
A reportagem é publicada por La Voix du Centre, 15-03-2021. A tradução é de André Langer.
Vestido com um traje tradicional nativo dos campos relvados precisamente na região noroeste, o cardeal Christian Tumi fez sua aparição no dia 7 deste mês com uma cabaça e a árvore da paz descansando entre as suas pernas. Após ter passado por um rito iniciático de acordo com a autêntica religião africana, o bispo se reencontrou com as raízes, apesar de levar toda uma vida devotada ao catolicismo. Ciente de que sua ação provavelmente criará um debate dentro da comunidade católica, ela deixa entrever uma mensagem clara entre os africanos em geral e os camaroneses em particular.
Numa imagem do final da cerimônia, os mestres iniciadores não escondem o orgulho, um grande sorriso surge de seus rostos ao mesmo tempo em que guardam os objetos usados na cerimônia de ascensão do novo iniciado, que deixou o mundo profano em direção ao sagrado. Ao receber seu batismo tradicional, Christian Tumi, de 90 anos, ganha a admiração dos kemitas ou animistas cada vez mais ativos na proteção, defesa e promoção da espiritualidade africana manifestada por uma conexão com o mundo dos ancestrais.
“Damos as boas-vindas ao nosso irmão iniciado, Christian Tumi, que finalmente entendeu o valor e a importância das nossas tradições. Estamos felizes por tê-lo conosco agora. Que a sua sabedoria ilumine toda esta juventude africana com quem contamos para popularizar o culto dos nossos antepassados”. Mestre Moukoulimba, 40 anos de rito balagwei dos pigmeus do leste dos Camarões, revela todo o seu orgulho pela decisão do candidato em aderir ao modelo de espiritualidade africana e bantu.
No entanto, a reaproximação dos prelados da tradição africana não é de hoje. Abade Ngomsi, Albert Dongmo, Angelbert Mveng e Christian Tumi, neste caso, sugerem que eles estão apegados aos costumes e tradições de nossa região. Ao contrário de certas correntes religiosas conhecidas como “igrejas de avivamento”, que prescrevem a ruptura fundamental com os nossos costumes, a maioria dos padres católicos africanos foi capaz de manter o essencial da nossa civilização caracterizada pela crença.
A iniciativa de Christian Tumi irá, sem dúvida, inspirar o corpo sacerdotal camaronês, que terá um motivo para ver os seus membros seguirem o caminho espiritual africano nos rituais típicos das nossas grandes áreas étnico-culturais. Na verdade, a opinião pública duvida do gesto do cardeal. Ainda que alguns vejam nisso o forte cheiro do sincretismo, outros inicialmente apoiam a mensagem que o prelado transmite, e depois os sinais de um chamado para integrar os círculos dos místicos africanos para descobrir em nossas religiões os poderes ocultos.
Nascido em 1930 em Kumbo, na região noroeste, Christian Wiyghan Tumi foi ordenado padre em 1966 antes de ascender ao escalão mais alto do apostolado nos anos 1980-1990. Sua iniciação no esoterismo africano puro convence a mais de um da necessidade de nos reconectarmos com nossa Essência, prova de nossa identidade real.