Por: André | 17 Junho 2015
Reuniram-se em Accra os presidentes das Conferências Episcopais do continente africano. Com Robert Sarah e outros quatro cardeais. Todos de acordo para enfrentar “a estratégia dos alemães” sobre o divórcio e as uniões homossexuais.
A reportagem é de Sandro Magister e publicada por Chiesa, 15-06-20154. A tradução é de André Langer.
Cinco cardeais e 45 bispos de outros tantos países africanos reuniram-se em Accra, a capital de Gana, de 08 a 11 de junho. Todos à luz do dia, não quase em segredo como alguns de seus colegas da Alemanha, França e Suíça, que se reuniram poucas semanas atrás na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma.
Em ambos os casos, o motivo, para os participantes, era o mesmo: preparar a próxima sessão do Sínodo sobre a Família.
Mas, enquanto na Gregoriana o objetivo era a mudança do ordenamento da Igreja sobre o divórcio e a homossexualidade, em Accra a orientação era a contrária.
O roteiro foi indicado pelo cardeal guineano Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino, com as primeiras frases que ele disse:
– “não ter medo de confirmar o ensinamento de Cristo sobre o matrimônio”;
– “falar no Sínodo com clareza e com uma só voz, com amor filial à Igreja”;
– “proteger a família de todas as ideologias que querem destruí-la e, portanto, também das políticas nacionais e internacionais que impedem a promoção de seus valores positivos”.
Este roteiro foi acolhido com total consenso. Mesmo o único bispo da África Subsaariana que nestes meses se manifestou a favor das “aberturas” do divórcio, Gabriel Charles Palmer-Buckle, de Accra, eleito delegado para o Sínodo pelos bispos de Gana, está de acordo com todos os participantes para defender a doutrina católica sobre a família.
Além de Sarah, os outros cardeais africanos presentes eram Christian Tumi, de Camarões, John Njue, do Quênia, Polycarp Pengo, da Tanzânia, e Berhaneyesus D. Souraphiel, da Etiópia, este último criado cardeal pelo Papa Francisco no último consistório.
Organizado pelo Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar, o encontro tinha o título: “A família na África. Que experiências e contribuições devemos levar para a XIV Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos?”
Para responder à pergunta do título, no primeiro dia, os participantes discutiram tendo como base quatro introduções temáticas, dividindo-se depois em grupos de trabalho, e no dia seguinte o fizeram a partir de outras cinco linhas de discussão.
Uma destas linhas, com o título “As expectativas do Sínodo”, foi lida aos presentes pelo teólogo e antropólogo Edouard Ade, secretário-geral da Universidade Católica da África Ocidental, com sedes em Cotonou, Benin, e em Abidjan, Costa do Marfim, e caracterizou-se por uma severa análise do peso que a Igreja da Alemanha teve e segue tendo no desenvolvimento do Sínodo em nível mundial.
Após ter descrito “o desaparecimento sem precedentes da fé cristã” ocorrida na Alemanha nas últimas décadas, acompanhada por desmedidas expectativas de mudança na doutrina e na prática da Igreja, alimentadas pela própria hierarquia, a intervenção do professor Ade se deteve sobre o que ele definiu como “a estratégia do Inimigo do gênero humano”.
Visto que os objetivos máximos da bênção das segundas núpcias e dos casais homossexuais parecem estar fora do alcance, esta “estratégia” consistiria em abrir caminhos que depois se ampliariam, obviamente afirmando com palavras que não se quer mudar nada da doutrina.
Estes caminhos seriam, por exemplo, os “casos particulares” ilustrados pelo cardeal Walter Kasper em sua intervenção no consistório de fevereiro de 2014, sabendo que não seriam em absoluto casos isolados.
Outra argúcia seria a de apresentar as mudanças como uma solução “de equilíbrio” entre, por um lado, a impaciência daqueles que desejariam na sequência o divórcio e os casamentos homossexuais e, por outro lado, o “rigorismo sem misericórdia” da disciplina fixada por João Paulo II e Bento XVI, fingindo ignorar que esta disciplina está de acordo com a doutrina de sempre da Igreja católica sobre o matrimônio.
Outro caminho seria dar a comunhão aos divorciados recasados e a todos os casais que vivem fora dos laços do matrimônio – algo que já se faz em muitos lugares –, sem nem sequer esperar qualquer decisão na matéria por parte do Sínodo e do Papa.
Além disso, o professor Ade preveniu os participantes para os “cavalos de Troia” adotados pelos inovadores, como este que consiste em atribuir um valor sempre positivo a todas as relações de vida comum fora do matrimônio, ou então este que consiste em considerar a indissolubilidade como um “ideal” que nem todos podem alcançar, ou ainda a utilização de novas linguagens – entre as quais a típica das Nações Unidas – que acabam transformando a realidade.
A fala de Ade foi muito apreciada pelos bispos e cardeais presentes, a ponto de que se pode ver sua marca no comunicado final, onde se lê que “é preciso partir da fé, reafirmá-la e vivê-la com o objetivo de evangelizar em profundidade as culturas”, cuidando para não adotar nem legitimar “a linguagem dos movimentos que militam pela destruição da família”.
Em uma longa entrevista de seis páginas publicada nos mesmos dias na França no semanário Famille Chrétienne, o cardeal Sarah disse entre outras coisas:
“No Sínodo de outubro próximo nós vamos abordar, espero, a questão do matrimônio de maneira totalmente positiva, buscando promover a família e os valores da mesma. Os bispos africanos intervirão para apoiar o que Deus pede ao homem sobre a família e acolher o que a Igreja sempre ensinou”.
E segue: “Por que devemos pensar que só a visão ocidental do homem, do mundo, da sociedade, é a boa, a justa, a universal? A Igreja deve lutar para dizer ‘não’ a esta nova colonização”.
Assim reza o título da entrevista, assim como aparece na publicação que se encontra nas bancas: “Quer nos escutem ou não, nós vamos falar”.
O encontro de Accra é a prova de que o bloco dos bispos africanos será um protagonista certo no Sínodo, como nunca foi no passado.
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Sínodo. A hora da África - Instituto Humanitas Unisinos - IHU