11 Março 2021
“O amor é digno de fé. E isto, nem mais nem menos, é o que está fazendo o Papa Francisco. A forma de entender a vida e a fé, na simplicidade, na bondade e na profunda humanidade deste homem singular, que é o Papa Francisco, é isto – e não as leis ou os cargos que indica ou deixa de indicar – o que está dando uma reviravolta na Igreja”, escreve o teólogo espanhol José María Castillo, em artigo publicado por Religión Digital, 09-03-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O melhor e maior, que eu sei e posso dizer, no oitavo aniversário do papado de Jorge Mario Bergoglio, nosso Papa Francisco, é o que explicarei.
Em 1963, quase se celebrava o Concílio Vaticano II, um teólogo do mais alto nível naquele tempo, Hans Urs von Balthasar, publicou um pequeno livro que deu muito o que falar. O título daquele livro era eloquente: “Glaubhaft ist nur Liebë”, que, traduzido ao francês apareceu com um título evocador e ambíguo: “L’amour seul est digne de foi”. Não se se este livro foi traduzido ao castelhano.
Como se pode entender, este pequeno livro é um elogio ao amor. Porém, a que amor? Dado que foi escrito por um teólogo, é um elogio do amor de Deus aos seres humanos? Ou, pelo contrário, trata-se do amor de seres humanos a Deus? Porém, também pode ocorrer que Deus não entre neste assunto para nada. Porque também poderia ocorrer que falemos do amor entre os seres humanos, sem ter que lançar mão de Deus para nada. Ainda que o certo é que, se o livro foi escrito por um teólogo, o lógico é pensar que Deus esteja neste assunto, seja como for.
E efetivamente, Deus está no centro e no fundo deste problema capital. Ele está, certamente, muito mais do que imaginamos. Porque se começamos dizendo que “só o amor é digno de fé”, e se a isto acrescentamos que isto é dito por um dos grandes especialistas nas coisas de Deus e da religião, então não resta dúvidas de que o que se está dizendo é que apenas aquele que ama todo ser humano, seja quem for, esse é quem pode crer em Deus. O que, em definitivo, vem a dizer que apenas onde há bondade, perdão, carinho e amor, somente quem busca isso e vive assim, somente esta pessoa, pode crer em Deus.
Por consequência, não se pode dizer que a fé nos prepara e capacita para amar. A realidade é justamente o contrário: a bondade e o amor, a todo ser humano, nisso está a força que nos capacita a crer em Deus e nos relacionarmos com Deus. O que quer dizer que quem causa sofrimento, maltrata ou ataca seus semelhantes, mantém ressentimentos e ódios, uma pessoa assim, por mais religiosa, observadora e piedosa que seja, não crê – nem pode crer – em Deus.
Por isto se compreende que, no juízo final, Deus dirá ao que se salvam: “Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram” (Mt 25, 40). Da mesma forma que dirá aos condenados: “todas as vezes que vocês não fizeram isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizeram” (Mt 25, 45). A conduta com meus semelhantes, isso é o que determina minha verdadeira relação com Deus. E isso mesmo é o que explica como e por que, na última ceia, o “mandamento novo”, que Jesus impôs a seus discípulos, se reduz ao amor mútuo, sem fazer menção alguma do amor a Deus (Jo 13, 34; cf. 1 Jo 2, 7-11). Com o acréscimo decisivo: “Se vocês tiverem amor uns para com os outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos” (Jo 13, 35).
De fato, “só o amor é digno de fé”. E isso é justamente o que explica como e por que Jesus disse, referindo-se a um militar romano, que “não havia encontrado uma fé tão grande em ninguém de Israel” (Mt 8, 10). Por que tinha tanta e tão admirável fé aquele militar romano? Porque aquele pagão tinha um carinho enorme a um servo que estava morrendo. Onde havia tanto carinho à vida e à saúde de um servo, sem dúvida alguma, aquele amor a um estranho, não tinha outra possível explicação que a imensa fé que, sem saber, tinha aquele pagão. De fato, o amor é digno de fé.
E isto, nem mais nem menos, é o que está fazendo o Papa Francisco. A forma de entender a vida e a fé, na simplicidade, na bondade e na profunda humanidade deste homem singular, que é Papa Francisco, é isto – e não as leis ou os cargos que indica ou deixa de indicar – o que está dando uma reviravolta na Igreja.
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Os oito anos de pontificado de Francisco: só o amor é digno de fé. Artigo de José M. Castillo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU