09 Fevereiro 2021
No dia 8 de fevereiro, o Papa Francisco exortou os governos globais a saírem da pandemia do coronavírus com um foco na criação de uma economia de mercado mais justa, enfrentando os perigos cada vez mais crescentes das mudanças climáticas e fornecendo cuidados básicos de saúde a seus cidadãos.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada em National Catholic Reporter, 08-02-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em um discurso anual de política externa aos 183 embaixadores credenciados junto à Santa Sé, o pontífice disse que a pandemia lançou uma luz sobre cinco crises interligadas que o mundo enfrenta e “nos colocou diante de uma alternativa: continuar na estrada que percorremos até agora ou tomar um novo caminho”.
Entre os elementos que Francisco disse que marcarão esse novo caminho:
- “Acesso universal aos cuidados básicos de saúde”,
- “Distribuição equitativa” das vacinas contra o coronavírus,
- Um “acordo efetivo” na próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que será realizada em Glasgow em novembro, para reduzir as emissões de gases do efeito estufa,
- Uma reavaliação da “relação entre a pessoa e a economia”.
Sobre o último ponto, o papa comparou a necessidade de mudanças no sistema de mercado global à percepção do século XVII de que a Terra girava em torno do sol, dizendo que é hora de “uma espécie de ‘nova revolução copernicana’ que recoloque a economia a serviço do ser humano, e não vice-versa”.
Em entrevistas nos últimos meses, Francisco frequentemente convocou os líderes mundiais a usarem a pandemia do coronavírus como uma forma de enfrentar as persistentes desigualdades econômicas e sociais. Seu discurso do dia 8 de fevereiro, que durou cerca de 55 minutos, abordou isso e uma ampla gama de outros temas.
O discurso foi realizado em um salão no Vaticano maior do que o de costume, para permitir o distanciamento entre os cerca de 80 embaixadores que compareceram. Francisco, que foi vacinado contra o coronavírus, não usava máscara, mas em geral manteve distância dos demais presentes.
O papa disse que o mundo enfrenta crises em cinco áreas: na saúde, no ambiente, nas questões econômicas e sociais, na política e nas relações humanas.
Francisco disse que a crise na política é “muito mais profunda” do que as outras crises, e disse que ela resultou no “crescimento das contraposições políticas e na dificuldade, senão até na incapacidade, de buscar soluções comuns e compartilhadas para os problemas que afligem o nosso planeta”.
“É uma tendência à qual já se assiste há muito tempo e que se difunde cada vez mais também em países de antiga tradição democrática”, disse.
Naquela que pareceu uma possível referência velada aos Estados Unidos, o pontífice acrescentou: “O desenvolvimento de uma consciência democrática exige que se superem os personalismos e que prevaleça o respeito pelo estado de direito”.
O papa abordou diretamente o recente golpe militar em Mianmar, país que ele visitou em 2017, conclamando os líderes políticos presos do país a serem “prontamente libertados”.
Entre outras áreas de preocupação, Francisco mencionou conflitos na República Centro-Africana, na Líbia, entre israelenses e palestinos, e a recente instabilidade política no Líbano, provocada pela devastadora explosão no porto de Beirute em agosto de 2020.
O papa também fez referência especial à guerra civil em curso na Síria, que matou centenas de milhares de pessoas e transformou milhões delas em refugiados. “Como eu gostaria que 2021 fosse o ano em finalmente se escrevesse a palavra ‘fim’ no conflito sírio, que começou há já 10 anos!”, disse Francisco.
O papa deveria ter falado ao corpo diplomático no dia 25 de janeiro, mas teve que adiar o evento devido a um surto de dor ciática, uma condição nervosa que pode causar fortes dores na parte inferior das costas.
Francisco não parecia em nada pior no dia 8 de fevereiro, capaz de se manter de pé durante todo o seu longo discurso. Ele também ficou de pé por quase uma hora mais, cumprimentando cada um dos embaixadores presentes, um por um.
O papa não apertou a mão de cada diplomata individualmente, mas falou com cada um deles a alguns metros de distância. Cerca da metade deles removeu suas máscaras ao saudar o papa.
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Papa pede “revolução copernicana” para a economia pós-Covid-19 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU