08 Fevereiro 2021
Era 18 de janeiro quando o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, apresentou dados chocantes sobre o progresso das vacinações contra o coronavírus em todo o mundo. "Mais de 39 milhões de doses foram inoculadas em pelo menos 49 países de alta renda", disse ele. Apenas 25 doses foram administradas em um único país de baixa renda. Não 25 milhões, não 25 mil, mas apenas 25". O país em questão era a Guiné, que acabara de vacinar o presidente Alpha Condé e outras autoridades, graças a um mini-suprimento experimental de 55 doses totais da vacina russa Sputnik V.
A reportagem é de Paolo M. Alfieri, publicada por Avvenire, 03-02-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Duas semanas depois, enquanto as doses da vacina administradas em todo o mundo atingiram o pico de 101 milhões em 64 países, a desigualdade continua a ser abismal. Há, pois, um mundo, o dos países ricos, que começou sua corrida contra a Covid-19 e que já atingiu a taxa de 4,25 milhões de doses de vacina inoculadas por dia, e outro que, apesar dos repetidos apelos do Papa Francisco, da OMS e muitas organizações da sociedade civil, é forçado a ficar apenas assistindo.
Os últimos dados gerais, divulgados pela Bloomberg, mostram que os países com alta renda per capita (de acordo com a classificação do Banco Mundial), que abrigam apenas 16% da população mundial, administraram 65% do total das doses da vacina. Por outro lado, nenhum país de baixa renda, apesar de abrigar 35% dos seres humanos, conseguiu lançar uma campanha de vacinação em massa.
No nível absoluto, na liderança estão os Estados Unidos (32,8 milhões de doses administradas, ou 10 por 100 habitantes) e a China (24 milhões de doses), depois o Reino Unido (9,7 milhões de doses). Israel, o quarto com 4,9 milhões de doses, é o país que mais administrou doses por 100 habitantes, ou seja, 55. A Itália é o décimo, com 2 milhões de doses, 3,3 por 100 habitantes.
Por enquanto, entre os países ricos que ficaram para trás estão Japão, Coreia do Sul e Austrália, cujos órgãos reguladores adotaram uma postura mais cautelosa, mas que devem iniciar as vacinas na segunda quinzena de fevereiro. Entre os pobres, todos estão atrasados. “A pandemia expôs a difícil situação dos pobres e a grande desigualdade que reina no mundo”, denunciou o Papa Francisco em agosto passado.
A reserva de vacinas por parte dos países ricos, os fundos escassos, os regulamentos de aprovação de medicamentos locais e os requisitos necessários para o armazenamento e transporte a baixas temperaturas estão retardando a chegada das vacinas para o hemisfério Sul. A iniciativa Covax, o programa internacional para a compra e distribuição justa de vacinas em todo o mundo (pretende fornecer vacinas para pelo menos 20% da população em 92 países de renda média e baixa, incluindo toda a África), tem sido lenta.
Até agora, US $ 6 bilhões foram arrecadados para uma meta de 8 bilhões com a reservas para 2 bilhões de doses da vacina, 600 milhões das quais para o continente africano. Nem todas essas doses, no entanto, estarão disponíveis este ano: elas incluem, por exemplo, 500 milhões de doses da vacina candidata experimental da Johnson & Johnson, com entregas finais esperadas em 2022.
A Pfizer fornecerá à Covax apenas 40 milhões de doses no primeiro trimestre 2021, enquanto as doses da vacina AstraZeneca para a iniciativa são 100 milhões.
Na África, as primeiras "doses da Covax" devem ser inoculadas em março, enquanto Bolívia, Colômbia, El Salvador e Peru serão os primeiros países da América Latina a compartilhar as primeiras 378.000 "doses da Covax" (via Pfizer) na região a partir de meados de fevereiro. Além da Covax, países individuais e organizações locais tentam, geralmente a custos elevados, fazer acordos com empresas farmacêuticas individuais.
A África do Sul, o país africano mais afetado pela Covid-19, comprou 1,5 milhão de doses da vacina AstraZeneca por US $ 5,25 por dose, mais que o dobro do preço reservado para os países da UE. Em vez disso, três dólares é o preço arrancado pela mesma empresa da União Africana.
No total, o órgão regional garantiu 270 milhões de doses da vacina para um continente habitado por 1,2 bilhão de pessoas. Apenas 50 milhões dessas doses, fornecidas pela Pfizer, AstraZeneca e Johnson & Johnson, estarão disponíveis entre abril e junho. Para as demais será preciso esperar mais um pouco.
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Mais de 100 milhões de vacinações. 65% nos países ricos do mundo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU