28 Janeiro 2021
O padre jesuíta indiano Stan Swamy marcou seus 100 dias na prisão com uma carta, em que destaca os casos de pessoas pobres que definham na prisão e que começam seus julgamentos sem nem saber quais são suas acusações criminais.
A reportagem é publicada por Catholic News Service, 26-01-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O UCANews.com relatou no dia 25 de janeiro, que em sua carta aos seus colegas jesuítas, o padre de 84 anos também expressou gratidão pela solidariedade “avassaladora” de seus apoiadores ao completar seus 100 dias na prisão.
O padre jesuíta Stan Swamy está preso em uma cadeia indiana desde o dia 9 de outubro de 2020. O Pe. Swamy marcou seus 100 dias de prisão com uma carta, destacando os casos de pessoas pobres que definham na prisão e começam seus julgamentos sem nem saber suas acusações criminais (Foto: CNS/YouTube)
O Pe. Swamy está detido na Prisão Central de Taloja, em Mumbai, desde o dia 9 de outubro. O padre ativista dos direitos humanos é acusado de sedição e de ter ligações com rebeldes maoístas ilegais.
Junto com o Pe. Swamy, 15 outros ativistas foram presos em diferentes momentos pelo seu suposto envolvimento em um incidente violento em Bhima Koregaon, no dia 1º de janeiro de 2018. Uma pessoa morreu, e cinco ficaram feridas no incidente.
Enquanto o Pe. Swamy completava seus 100 dias na prisão, grupos de defesa dos direitos humanos de toda a Índia organizaram passeatas pacíficas à luz de velas, procissões e webinars para marcar o encarceramento dele e de outros ativistas.
“Em primeiro lugar, agradeço profundamente a solidariedade avassaladora expressada por muitos durante os últimos 100 dias atrás das grades”, afirma o padre na carta.
“Às vezes, as notícias dessa solidariedade me deram uma força e uma coragem imensas, especialmente quando a única coisa certa na prisão é a incerteza. A vida aqui é dia após dia.”
O UCANews.com relata que, sem falar muito sobre si mesmo, a carta do Pe. Swamy se referia aos “undertrials” – um termo usado na Índia para denotar pessoas sob custódia que aguardam o início dos julgamentos.
“Muitos desses pobres ‘undertrials’ não sabem quais acusações foram feitas contra eles, não viram o documento acusatório e simplesmente permanecem na prisão durante anos sem qualquer assistência legal ou de outro tipo”, escreveu ele.
Os “undertrials” são a sua força na prisão, disse o padre.
Os dados publicados mostram que, no fim de 2019, a Índia tinha mais de 100.000 presos que esperavam por um julgamento há um ano ou mais.
“A maioria deles vem de comunidades econômica e socialmente mais frágeis”, escreveu o Pe. Swamy, aludindo à falta de educação e de dinheiro para contratar um advogado.
“De modo geral, quase todos os ‘undertrials’ são compelidos a viver em um nível mínimo, sejam ricos ou pobres. Isso traz um senso de fraternidade e de comunitarismo, no qual é possível ir ao encontro uns aos outros mesmo nesta adversidade.
“Por outro lado, nós, os 16 coacusados, não pudemos nos encontrar, porque estamos alojados em prisões diferentes ou em ‘círculos’ diferentes dentro da mesma prisão. Mas ainda vamos cantar em coro. Um pássaro engaiolado ainda pode cantar.”
O jesuíta também escreveu algumas cartas e poemas da prisão, narrando sua situação e a dos outros.
“O Pe. Swamy é sempre uma inspiração para todos nós”, disse o Pe. A. Santhanam, advogado jesuíta que está monitorando de perto o caso.
“Ele nos ensinou como um missionário deve ser, mesmo na situação adversa em que se encontra.”
Um tribunal especial da Agência Nacional de Investigação, o órgão federal antiterrorismo que prendeu o padre, negou várias vezes o pagamento de fiança ao Pe. Swamy. Ele tem mal de Parkinson e outras doenças relacionadas à idade.
O padre levou consigo um copo com canudo para beber líquidos, já que suas mãos tremem por causa da doença. As autoridades tiraram o copo dele e só lhe devolveram depois de uma campanha organizada por grupos de defesa dos direitos humanos e pelas mídias.
Copos com canudo com as imagens do Pe. Swamy e emblemas com slogans como “Libertem todos os presos políticos” e “Libertem BK16” também foram lançados como parte da campanha.
Os ativistas exigem a revogação da Lei de Prevenção de Atividades Ilegais, uma lei estrita sob a qual o Pe. Swamy foi autuado.
O Pe. Santhanam disse que é “lamentável que o justo pedido de pagamento de fiança do padre não seja aceito e ele tenha sido forçado a suportar inúmeros desafios na prisão”.
A campanha para libertar o Pe. Swamy vai continuar, disse ele.
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Em carta da prisão, padre jesuíta Stan Swamy detalha que indianos pobres estão presos sem saber por quê - Instituto Humanitas Unisinos - IHU