26 Janeiro 2021
Teria merecido maior evidência a mensagem do Papa Francisco para o 55º Dia mundial das comunicações sociais, divulgada último sábado. Pois nunca como desta vez o pontífice reflete sobre a nossa profissão de jornalista nesta longa era de transição, entre a velha mídia e a web, incluindo os meios sociais. Disso resulta o apelo a se reportar à mais antiga tradição deste ofício, muitas vezes considerada como retórica vazia: gastar as fatídicas solas dos sapatos. Lemos: “Vamos pensar no grande tema da informação. Vozes atentas há muito advertem contra o risco de um achatamento em ‘jornais fotocópias’ ou noticiários de TV e rádio e sites essencialmente iguais, onde o gênero da investigação e da reportagem perdem espaço e qualidade em benefício da informação pré-embalada, 'de gabinete', autorreferencial, que é cada vez menos capaz de interceptar a verdade das coisas e a vida concreta das pessoas, e não sabe mais apreender nem os fenômenos sociais mais graves, nem as energias positivas que se libertam da base do sociedade".
A reportagem é de Fabrizio D'Esposito, publicada por il Fatto Quotidiano, 25-01-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Disso resulta o convite: “A crise editorial corre o risco de levar a uma informação construída nas redações, na frente dos computadores, nos terminais das agências, nas redes sociais, sem nunca sair à rua, sem ‘gastar a sola dos sapatos’, sem encontrar as pessoas para buscar histórias ou verificar de perto certas situações”.
O Papa Francisco apresenta sua mensagem com o cenário de uma das reportagens mais extraordinárias da humanidade, não apenas um livro fundamental para os fiéis: o Evangelho. A fé cristã começa com "conhecimento direto, não por ouvir falar". O pontífice escreve: “Aos primeiros discípulos que o querem conhecer, depois do batismo no rio Jordão, Jesus responde: 'Vinde e vede' (Jo 1, 39), convidando-os a habitar em relação com Ele. Mais de meio século depois, quando João, muito idoso, escreve o seu Evangelho, lembra alguns detalhes 'de crônica' que revelam a sua presença no lugar e o impacto que aquela experiência teve na sua vida”. Vinde e vede, então. Porque não se trata apenas de ir a um local e relatar, mas também é preciso saber olhar. Os olhos são decisivos para a narrativa. Para citar Santo Agostinho: “Em nossas mãos estão os livros, nos nossos olhos os fatos”.
Ir e ver é a única maneira não só de evitar a deformação do jornalismo fotocópia de escrivaninha e papel carbono, mas também para truncar a tendência social para as fake news, tão típica do populismo e soberanismo: “Tornou-se evidente para todos, agora, até mesmo os riscos de uma comunicação social desprovida de verificação. Há muito aprendemos como as notícias e mesmo as imagens são facilmente manipuláveis, por mil motivos, às vezes até por banal narcisismo”.
Logo, ir, ver e finalmente compartilhar. Para encontrar histórias especialmente onde ninguém quer ir, entre os últimos da Terra. Por exemplo, Francisco se pergunta neste trágico tempo de pandemia: "Quem nos falará sobre a expectativa de cura nas aldeias mais pobres da Ásia, da América Latina e da África?".
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Informação. O apelo de Bergoglio: “Vão e vejam, senão acabam sendo feitos jornais fotocópia” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU