Cardeal Marx abre a porta para abolir o celibato sacerdotal obrigatório: “Por que não?”

Cardeal Reinhard Marx. | Foto: CNS photo/Paul Haring

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24 Novembro 2020

O cardeal Reinhard Marx abriu a porta para a abolição do celibato sacerdotal obrigatório perguntando: “Por que não?”.

A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Novena News, 23-11-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

O arcebispo de Munique e Freising na Alemanha abordou o assunto da mudança na disciplina da Igreja para os padres em um sermão de 21 de novembro na festa do padroeiro arquidiocesano, São Corbiniano.

Marx destacou que a crise do coronavírus tem “fortalecido e acelerado” debates sobre reformas na Igreja, inclusive sobre o sacerdócio.

“Não há Igreja Católica sem padres – mas o que manterá os padres no futuro?”, perguntou o cardeal. “Talvez nós tenhamos também padres que não são celibatários – por que não?”.

A questão de como abolir o celibato obrigatório é um dos tópicos para discussão no “Caminho Sinodal” da Igreja alemã, onde iniciou-se a discussão no fórum “Sacerdócio existente hoje”, ao longo de grupos de discussão sobre “Poder e Separação dos Poderes na Igreja – Participação e envolvimento na Missão”, “Vida em relacionamento de sucesso – Vivendo o amor na Sexualidade e Parceria” e “Mulheres em Ministérios e Cargos na Igreja”.

Em todas essas discussões de reforma, Marx pediu aos participantes para usar a situação da pandemia como um “rompimento criativo” o qual se desenha “ousando, com curiosidade para o novo e despertando”, conscientes do fato que “o Senhor nos mostrará o caminho”.

Para fazer a vontade de Deus, “nós não temos que nos esforçar excessivamente. Nós simplesmente devemos permitir nosso impulso interno para o amor”

Também no final de semana, o cardeal Marx deu um sermão para a festa de Cristo Rei, 22 de novembro, no qual insistiu que embora o coronavírus “não seja um julgamento de Deus”, não obstante deveria “nos fazer ter consciência do que é realmente importante”.

“O tempo em que estamos vivendo agora deveria nos fazer ser conscientes que nós estamos todos interligados, que o fraco pertence ao centro, que nós não devemos negligenciar o idoso, o doente, que nós não empurramos a pobreza para fora do mundo dizendo que não nos importamos com isso”, alertou Marx.

A perspectiva da vida futura trazida à tona pela festa de Cristo Rei encoraja-nos a lembrar da pergunta de Jesus sobre o que realmente importará no final, disse o cardeal. “O que é duradouro? Os preços das suas ações? Seu crescimento econômico? Suas guerras? Seus monumentos?”, perguntou Marx aos fiéis.

O que Jesus espera de nós não é um fardo, insistiu o cardeal. “Dar comida aos famintos, acolher um estrangeiro, visitar os doentes – isso não excede as possibilidades humanas!”, exclamou Marx, explicando que a festa de Cristo Rei é um convite “a fazer parte da nova criação”.

“Nós não temos que nos esforçar excessivamente. Nós simplesmente devemos permitir nosso impulso interno para o amor”, exortou o cardeal.

“Não há alternativa ao ecumenismo e à unidade dos cristãos”

No início da semana passada, o cardeal Marx concedeu uma entrevista ao Conselho Mundial de Igrejas na qual refletiu sobre sua premiação – recebida junto com o presidente do conselho da Igreja Evangélica na Alemanha, bispo Heinrich Bedford-Strohm – no Prêmio da Paz de Augsburg 2020, pela “Vontade incondicional de viver juntos em paz”.

“A reconciliação real das denominações é possível”, afirmou Marx naquela entrevista, destacando que “o ecumenismo não é elevar a sua visibilidade à custa dos outros, mas encontrar um terreno comum e destacá-lo, pelo bem do povo e do evangelho”.

Insistindo que “no ecumenismo, como em todos os outros encontros, se aplica o seguinte: sem boa vontade, sem amizade, não há compreensão real”, o cardeal acrescentou que “sou encorajado em meus esforços ecumênicos pelas obras do papa Francisco, para quem a unidade dos cristãos e a reconciliação das religiões estão muito próximas de seu coração”.

“Na Alemanha, temos uma responsabilidade particular pelo ecumênico, devido à história da nossa Igreja, que devemos fazer jus, porque o cisma veio da Alemanha. Pessoalmente, acredito que não há alternativa ao ecumenismo e à unidade dos cristãos”, disse o cardeal.

“O objetivo de uma unidade visível na diferença reconciliada é muito atraente para ambas as Igrejas, mas não irrealista. Acima de tudo, estou convencido de que o Cristianismo – não apenas na Alemanha e na Europa – terá um futuro, se nós, como cristãos, trabalharmos fortemente juntos ecumenicamente. Cristo deve ser o foco aqui”.

“Especialmente em nossos tempos, caracterizados pela pandemia do coronavírus e por tantas tensões (geo)políticas e sociais, a mensagem é importante – que todos estamos ligados em todo o mundo, e todas as pessoas são filhos de Deus e irmãos e irmãs de Jesus Cristo”, concluiu o cardeal.

 

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