Morreu Padre Sorge: o adeus para o ícone do “renascimento” de Palermo

Padre Bartolomeu Sorge. | Foto: YouTube/San Fedele Musica/Reprodução

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03 Novembro 2020

O padre jesuíta tinha 91 anos e há tempo havia se mudado para Milão. Ele falava: "A maior emoção da minha vida foi a corrente humana em Palermo depois dos massacres de 1992".

A reportagem é de Salvo Palazzolo, publicada por La Repubblica, 02-11-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

Padre Bartolomeu Sorge morreu em Milão, tinha 91 anos. Foi um dos jesuítas mais conhecidos da Itália, teólogo e cientista político, ex-diretor da Civiltà Cattolica e do Instituto de formação política "Pedro Arrupe" de Palermo e, principalmente, foi um dos pais da "Primavera" da cidade. Ele nunca deixou de dar sua contribuição para o debate público sobre temas de grande atualidade, seu empenho social e cultural também continuava via Twitter.

Sua última batalha, contra as políticas anti-imigração. No ano passado, ele escreveu sem rodeios: "A máfia e Salvini comandam com o medo e o ódio, fingindo ser religiosos. Podem ser vencidos resistindo ao medo, ao ódio e revelando sua falsa piedade." O ex-ministro do Interior Matteo Salvini o havia atacado duramente: "Nem a idade avançada justifica certas bobagens, vergonha". Mas um forte movimento na web expressou muitas mensagens de solidariedade ao sacerdote.

"Eu nunca parei", disse ele em entrevista à Tv2000 por ocasião de seus 90 anos. “Para mim foi um grande consolo ter vivido pessoalmente a Primavera de Palermo. A máfia queria me matar, mas não conseguiu. Tive uma escolta por 7 anos, um dos meus guarda-costas Agostino Catalano explodiu com Borsellino. Ele havia se oferecido porque faltava pessoal”.

Sorge nasceu em 25 de outubro de 1929 em Rio Marina, Ilha de Elba, de pais de origem de Catânia. Em 1946 ingressou na Companhia de Jesus, foi ordenado sacerdote em 1958, formou-se em Milão, na Espanha e posteriormente em Roma. Em 1966, ingressou na redação de "La Civiltà Cattolica", quinzenal da Companhia de Jesus, e tornou-se seu diretor em 1973.

Na década de 1980, o padre jesuíta promoveu o empenho dos católicos na política, por meio de novas formas de participação, com o objetivo de reformar a Democracia Cristã. Chegou a Palermo em 1986, como diretor do Instituto Pedro Arrupe de Formação Política. Junto com o Padre Ennio Pintacuda e com o movimento "Uma Cidade para o Homem", foi um dos principais protagonistas da "Primavera" de Palermo de Leoluca Orlando.

A partir de 1997 mudou-se para Milão, no Centro San Fedele, do qual foi administrador até setembro de 2004. Foi também diretor das revistas "Popoli" e "Aggiornamenti Sociali". Mas seu coração permaneceu em Palermo. Assim ele dizia: “A experiência mais dramática e bela da minha vida apostólica foi quando vi uma corrente humana de 3 quilômetros, homens e mulheres, jovens e idosos que se seguravam pelas mãos atravessando a cidade e dizendo 'chega de máfia' depois dos massacres de 1992. Antes de chegar a Palermo, por outro lado, as pessoas tinham medo de dizer a palavra máfia. Olhavam em volta enquanto falavam. Depois vi os lençóis nas janelas dos bairros populares de Palermo. Aquela foi uma verdadeira vitória".

As reações

“O padre Sorge teve um papel importante no compromisso mais amplo dos jesuítas na história das mudanças na cidade e na política nacional – afirma o prefeito Leoluca Orlando – Um compromisso que encontrou em Palermo momentos de antecipação e experimentação de renovação ética, cultural e política desde o início dos anos 1980 e em cujo contexto diferentes instâncias e modelos encontraram espaço e voz. Entre estes, alguns ligados a formas partidárias ancoradas a uma abordagem ideológica e outros, que com as experiências da Primavera encontraram o seu ponto de partida e continuaram ao longo dos anos, marcados pela renovação das formas de política e da participação, não mais ligadas a ideologias, mas a uma visão de desenvolvimento das comunidades no contexto global mais amplo”.

“Com o padre Bartolomeu Sorge desaparece um teólogo e um intelectual refinado que dedicou na Sicília grandes esforços para difundir a cultura da legalidade no tecido social da ilha – afirma o presidente da Região Nello Musumeci – tornando-se uma referência para as classes dirigentes, não só políticas".

Para o Ministro do Patrimônio Cultural, Dario Franceschini, “o padre Bartolomeu Sorge representou um ponto de referência para gerações de católicos democráticos, tanto como mestre quanto como consciência crítica. Intelectual de grande profundidade, foi antes de tudo um formador, ativamente engajado na vida eclesial e civil do nosso país".

 

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