28 Outubro 2020
O arcebispo Antoine Kambanda, de Kigali, é um membro do povo Tutsi e estudou teologia moral na Academia Alfonsiana, em Roma.
A reportagem é de Lucie Sarr, publicada por La Croix, 27-10-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O arcebispo Antoine Kambanda, teólogo moral formado em Roma, que perdeu quase toda a sua família no genocídio de Ruanda, foi nomeado o primeiro cardeal do pequeno país encravado na África.
O papa Francisco anunciou no último domingo que o prelado africano, que completa 62 anos no próximo mês, será um dos 13 homens a receber o chapéu vermelho no consistório de 28 de novembro no Vaticano.
O neo-cardeal Kambanda, um Tutsi, chefia a arquidiocese de Kigali, na capital de Ruanda, desde novembro de 2018.
Durante os cinco anos anteriores a isso, ele serviu como bispo de Kibungo, na parte oriental do país.
A diocese esteve sem bispo por mais de três anos, depois que o bispo anterior, dom Kizito Bahujimihigo, foi forçado a renunciar por causa de problemas financeiros.
A diocese estava fortemente endividada e os bancos assinaram um ultimato, ameaçando a apreender todos os bens da Igreja se o bispo não saísse.
Antoine Kabanda nasceu em 10 de novembro de 1958, na pequena cidade de Nyamata, ao sul de Kigali.
Ele estudou em escolas do Burundi, Uganda e Quênia antes de retornar a Ruanda para estudar filosofia e teologia.
Ele terminou sua formação de padre no seminário maior de Nyakibanda, próximo a Butare, no sul do país.
O papa João Paulo II ordenou Kabanda ao presbitério em 08 de setembro de 1990, durante uma visita papal a Ruanda.
Depois de sua ordenação, o padre Kabanda foi professor e reitor do seminário menor de Ndera, próximo a Kigali, entre 1990 e 1993.
Seu arcebispo o enviou para Roma, onde completou o doutorado em teologia moral em 1999, na famosa Academia Alfonsiana, dirigida pela Ordem Redentorista.
A sua permanência em Roma o fez escapar do genocídio em Ruanda, na qual mirava a população Tutsi durante a sangrenta guerra civil no país.
Somente um membro da família do neo-cardeal – um irmão que atualmente vive na Itália – não foi morto durante o genocídio, que resultou na perda de pelo menos 800 mil vidas, incluindo 104 padres.
Quando o padre Kabanda retornou a Kigali em 1999, ele foi nomeado diretor da Caritas arquidiocesana, assim como da Comissão para Justiça e Paz.
Ainda, ele lecionou teologia moral no seminário de Nyakibanda e serviu como diretor espiritual no seminário maior de Rutongo.
Kabanda então se tornou reitor do seminário maior de filosofia em Kabgayi, em 2005, e reitor do seminário de Nyyakibanda um ano depois.
O papa Francisco, que o nomeou bispo em 2013, promoveu Kabanda a Kigali em novembro de 2018 e lhe deu o pálio no dia 29 de junho do ano seguinte.
“Depois do genocídio perpetrado contra os Tutsis em 1994, um genocídio feito por ruandeses, vizinhos, até mesmo cristãos, a palavra-chave para reviver e reconstruir a comunidade é o perdão”, disse o arcebispo Kabanda a Vatican Radio quando esteve em Roma para a cerimônia do pálio.
“Estar aberto para pedir e dar o perdão... com a palavra perdão, o Papa evoca uma mensagem para minha missão em Ruanda”, disse ele.
Em breve, ele será o primeiro do seu país ter a grande distinção de ser cardeal da Igreja Católica Romana.
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Antoine Kambanda, primeiro cardeal de Ruanda, perdeu quase todos os seus familiares no genocídio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU