28 Outubro 2020
Teólogos e Católicos LGBTQ, assim como defensores seculares da igualdade, continuam, em sua maioria, a demonstrar apreciação positiva sobre o reiterado apoio do papa Francisco ao reconhecimento das uniões civis entre casais do mesmo sexo. Entretanto, outros têm perspectiva diferente sobre as palavras do Papa.
A reportagem é de Robert Shine, publicada por New Ways Ministry, 26-10-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Bryan Massingale, que é um padre declaradamente gay e detentor de uma cátedra no departamento de Teologia da Fordham University, disse ao jornal Morning Edition, da emissora NPR, que estava “jubiloso” depois de ouvir as palavras do Papa. Ele chamou isso de “uma afirmação da humanidade de gays e lésbicas”.
“Eu vejo como um passo necessário na evolução do pensamento da Igreja sobre questões homossexuais. O que o Papa está fazendo com esse tipo de declaração, ele está evidentemente colocando a Igreja no lado contrário à criminalização do comportamento e a favor da proteção da dignidade de gays e lésbicas”.
Natalia Imperatori-Lee, uma teóloga do Manhattan College, sugeriu que as palavras do Papa poderiam “solicitar às instituições católicas de parar com as demissões de professores, catequistas, ministros da música e outros que são parte da comunidade LGBTQ e igualmente parte vital da comunidade católica”, em entrevista à Associated Press.
David Gibson, que dirige o Centro sobre Religião e Cultura na Fordham University, também disse a Associated Press:
“Essas palavras do Papa inflamarão muitos da direita católica... mas serão um bálsamo para a grande maioria dos católicos e, ouso dizer, para os pastores... Eles não querem se envolver nessas terríveis batalhas de guerra cultural, especialmente porque os gays católicos não são abstrações – eles estão em suas casas, são parte de suas famílias e parte de suas paróquias”.
Gibson disse ao jornal PGB News Hour que tanto o tom quanto o conteúdo das palavras de Francisco foram “muito significativas”, acrescentando:
“Veja, ele está pedindo por uma lei de união civil. Ele está chamando a Igreja para acolher essas pessoas, acolher a população gay na esfera secular. E isso é uma coisa que vai contra a própria política da Igreja Católica. Em 2003, foi dito que a Igreja não poderia apoiar as uniões civis”.
“Novamente, isso é diferente. Ele não está chamando por um casamento gay na Igreja. Mas a Igreja disse que não pode apoiar uniões civis. Então, ele está transformando isso”.
“E ele também está cortando, me parece, as guerras culturais em locais como os Estados Unidos, que têm um longo pensamento contrário a qualquer coisa que remeta ao casamento gay. Essa declaração também é uma grande mudança de tom. E isso é realmente o que ele quer aqui. Ele não gosta das guerras culturais. Ele quer que a igreja seja aberta e receptiva”.
A juíza Sara Smolenski, a quem foi negada a comunhão no ano passado por causa de seu casamento do mesmo sexo, falou à ABC: “Não sei o que isso significará, mas posso lhe dizer uma coisa – o papa Francisco tem muita coragem para falar”.
Dois padres de Nova Jersey, Alexander Santora e Robert Keading, disseram ao NorthJersey.com que receberam o apoio do papa Francisco. Santora disse que mostra que o papa está “reconhecendo a humanidade de todos”. Keading disse que a questão aqui era “proteger casais”, lembrando suas décadas de ministério de HIV/Aids de quando as pessoas LGBT eram impedidas de ver seus parceiros doentes em hospitais.
A organização We Are Church Ireland emitiu um comunicado, dizendo que “acolhe calorosamente as notícias maravilhosas”, mas pedindo ao Papa “que introduza as bênçãos da Igreja para casais do mesmo sexo e revise o ensino para remover as descrições de pessoas LGBTQ+ como objetivamente desordenadas e seu amor como intrinsecamente mau”.
Terry Gonda, um músico religioso de Detroit que foi demitido por causa de seu casamento homossexual, comentou à NBC News:
“Ainda temos uma crise de famílias sendo separadas, de pessoas deixando a Igreja, de suicídio, de espiritualidade ferida... Vamos ver isso como uma oportunidade para a igreja viver de acordo com sua mensagem de que, ‘Sê bem-vindos’”.
Alguns defensores LGBTQ foram menos otimistas. Veronica Urias, uma lésbica que deixou a Igreja Católica, disse à NBC News “Eu queria fazer parte de uma igreja na qual poderia me casar e constituir família algum dia... Eu não vou voltar para a Igreja Católica só porque posso me casar”.
John Marchese, diretor executivo do Quixote Center, opinou em uma postagem no blog:
“Lamentavelmente, concluo que não temos motivos para pensar que o Papa tenha assumido uma posição inédita neste documentário. Ele simplesmente declarou em novas palavras o que parece ser uma posição estática na última década; a saber, que a igreja deve apoiar pragmaticamente uniões civis diluídas para casais do mesmo sexo... E isso não deve ser comemorado”.
Bernard Schlager, diretor executivo do Centro para LGBTQ e Estudos de Gênero na Religião, escreveu em um comentário que as palavras do Papa eram boas, mas não o suficiente, porque ele ainda restringe o casamento a casais heterossexuais. Schlager concluiu:
“Papa Francisco: nós católicos queer conclamamos a você e a toda a Igreja para reconhecer e abençoar os muitos casamentos amorosos e comprometidos entre pessoas do mesmo sexo. Como o primeiro Papa a sancionar as uniões civis para casais do mesmo sexo, nós o desafiamos a estender seu apoio frequentemente declarado aos marginalizados deste mundo, reconhecendo nossa plena humanidade como filhos de nosso Deus Encarnado. Saiba que nossos casamentos são sacramentais porque são sinais corporificados da atuação de Deus no mundo”.
Nas nações onde a igualdade LGBTQ é mais restrita, advogados seculares dos direitos LGBTQ expressaram esperança que as palavras do Papa possam ajudar em avanços legais, reportou o Crux. David Aruquipa, da Bolívia, que tem trabalhado há mais de uma década para legalizar seu relacionamento, disse que o apoio do Papa era “muito pertinente para a legalização das uniões civis”.
Boniface Ramsey, padre da Igreja de São José, em Manhattan, sugeriu ao NorthJersey.com que o assunto principal não é atualmente as uniões civis ou o casamento, “mas a autoridade papal, como deveria ser, posta e balanceada”. Ramsey acrescentou: “Suspeito que a intenção do papa Francisco talvez seja iniciar uma discussão e não impor um fim. Ele entrou de pé nessa briga”.
Baseado em muitas vozes como aquelas acima (e de muito bispos) que continuam a entrar nessa conversa, Ramsey parece certo ao dizer que a conversa sobre o tratamento de casais do mesmo sexo e o reconhecimento na igreja está apenas no início.
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Enquanto alguns continuam aplaudindo o apoio do Papa para as uniões civis, outros têm uma visão diferente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU