27 Outubro 2020
A estreia mundial de um documentário sobre o papa Francisco deveria ser um momento luminoso para um pontificado enclausurado pela pandemia e assediado por um escândalo de corrupção, ao recordar dos dias de glórias quando Francisco recorria o mundo para bendizer os oprimidos.
Porém, a estreia com tapete vermelho do documentário “Francesco” fez o contrário ao surgirem provas de que o Vaticano censurou o Papa no ano passado, ao apagar de uma entrevista o seu respaldo às uniões civis de pessoas do mesmo sexo, fragmento que reapareceu no documentário.
A informação é publicada por Semana, 23-10-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Além da tempestade gerada pelos comentários, o fiasco reorientou os holofotes sobre as feridas frequentemente autoinfligidas do Vaticano nas comunicações e na disposição de Francisco de promover sua própria agenda, mesmo ao custo de reação dos conservadores dentro do Igreja.
A reação foi tão rápida como prevista: o cardeal Raymond Burke frequente nêmesis de Francisco em matéria de doutrina, disse que as declarações do Papa careciam de “peso magisterial”, porém Burke expressou a preocupação de que opiniões pessoais semelhantes do Papa “geram grande desconforto e sejam causa de confusão e erro entre os fiéis católicos”.
A confusão começou na quarta-feira passada com a estreia mundial de “Francesco”, um longa-metragem sobre Francisco e os assuntos que mais importam para o Papa: mudança climática, refugiados, desigualdade social. Na metade do filme, expressa a opinião de que os gays merecem ser parte de uma família e que apoia uma “lei de convivência civil” para que gozem da proteção legal, como disse em espanhol.
Christopher Lamb, da revista britânica The Tablet, observou que em alguns países os direitos dos homossexuais são questão de vida ou morte e que Francisco quer que a Igreja defenda os católicos LGBT de uma discriminação fatal.
“O Papa está disposto a ‘quebrar pratos’ para garantir que comunica esta mensagem de compaixão baseada no Evangelho”, tuitou.
Porém, o conteúdo das palavras do Papa quase foi perdido na controvérsia sobre a sua origem.
No início, o direto Evgeny Afineevsky assegurou que Francisco havia lhe dito essas declarações diretamente. Então um assessor de Francisco disse que eram de uma entrevista de 2019 à rede mexicana Televisa e que, portanto, eram uma notícia velha.
A Televisa confirmou a origem das citações, porém disse que nunca foram ao ar. Uma fonte no México disse que o Vaticano – que filmou a entrevista com suas próprias câmeras e entregou a filmagem sem editar para a Televisa – eliminou a citação sobre as uniões civis. A fonte falou sob condição de anonimato por não estar autorizada a informar a imprensa.
O Vaticano negou-se a fazer declarações e impôs uma espécie de apagão jornalístico sobre todo o assunto. Nenhum dos organismos internos do Vaticano informou sobre a censura e na sexta-feira o jornal italiano Il Fatto Quotidiano reproduziu um e-mail de um empregado do ministério de Comunicações do Vaticano, no qual não eram feitas declarações, mas dizia que “foram iniciadas conversas para enfrentar a atual crise midiática”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Surgem provas de que o Vaticano censurou o Papa Francisco em 2019 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU