06 Outubro 2020
Povos da floresta retomam campanha pela entrega do Nobel da Paz ao cacique Kayapó, símbolo de resistência indígena. Resultado deve sair no dia 9/10.
A reportagem é publicada por Instituto Socioambiental - Isa, 02-10-2020.
O cacique Raoni Metuktire, que dedicou sua vida à defesa da Amazônia e dos povos da floresta, está na lista de concorrentes ao Nobel da Paz em 2020. A organização deve anunciar o vencedor no dia 9 de outubro. Em meio a diversos ataques aos direitos humanos e territoriais e à crescente pressão e ameaça sobre Terras Indígenas e Unidades de Conservação, os povos da floresta retomaram a campanha de apoio ao nome do cacique.
Assista ao vídeo e apoie a campanha.
Bepkrakti, mais conhecido por Raoni Metuktire, é reconhecido por indígenas e ribeirinhos como um dos principais representantes da luta pela preservação da floresta e dos povos amazônicos e dedicou sua vida a defesa da vida e dos territórios desses povos.
Da aldeia Kraimopry-yaka, onde nasceu, o cacique rodou o mundo pedindo paz. Em 2019, o presidente francês, Emmanuel Macron, recebeu na residência oficial o líder Kayapó e assegurou o apoio da França na luta pela proteção da biodiversidade e pelos direitos dos povos da floresta. Ainda no mesmo ano, o Papa Francisco recebeu o cacique no Vaticano, e afirmou seu apoio na luta de Raoni contra a devastação da Amazônia.
Nos últimos anos, Raoni passou a ser atacado diretamente pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas ainda assim continuou espalhando sua mensagem de paz, respeito, proteção das florestas e dos modos de vida dos povos indígenas. Aos 90 anos, o cacique sobreviveu três grandes desafios: a morte de sua esposa, Bepkwyjka, em junho deste ano; uma infecção intestinal e a contaminação pela Covid-19.

Raoni Metuktire no Encontro dos Povos Mebêngôkre, realizado em janeiro de 2020.
(Foto: Mídia Ninja)
São muitos os motivos pelos quais o cacique Raoni, e toda sua história de luta, devem ser reconhecidos pelo #NobelDaPaz. Listamos nove!
Confira:
1. Raoni é uma das mais importantes lideranças indígenas do Brasil! Sua trajetória de luta pelo seu e outros povos é antiga: em 1971, liderou a resistência contra a BR-080 (conhecida hoje como a MT-322) e, desde sempre, esteve à frente das lutas pela demarcação da TI Capoto Jarina.
2. Raoni foi um dos principais nomes nas mobilizações dos povos indígenas por direitos durante a Assembléia Constituinte (1987-88). As discussões do Capítulo dos Índios na Constituição Federal contaram com a participação ativa e essencial do cacique Kayapó.

Da esq. para dir. Teseya Panará, Kanhõc Kayapó, Raoni e Tutu Pombo Kayapó durante negociações do capítulo dos índios na Constituinte.
(Foto: Beto Ricardo/Isa)
3. Raoni sempre dialogou com líderes e políticos globais em defesa da #Amazônia e dos povos indígenas! De Juscelino Kubitschek ao então rei Leopoldo III da Bélgica, dos papas João Paulo II e Francisco a Emmanuel Macron, o cacique levou a causa indígena para o mundo.
4. Em 1987, Raoni alcançou notoriedade internacional ao participar da conferência da Anistia Internacional, em São Paulo. Lá, ganhou o apoio do cantor inglês Sting para a homologação da Terra Indígena Kayapó.
Após o encontro, ele e Sting saíram em turnê mundial para denunciar a destruição da floresta e o descaso do governo brasileiro com os índios. Eles voltaram a se encontrar em 2017, em São Paulo.
5. Raoni esteve à frente de várias mobilizações contra Kararaô, a atual hidrelétrica de #BeloMonte, como o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, em 1989. Feroz opositor, o cacique segue denunciando as violações aos direitos humanos e ambientais provocados pela usina.
6. Em 2001, os Kayapó, sob a liderança do Cacique Raoni, fundaram o Instituto Raoni, cuja a prioridade era a demarcação dos territórios Kayapó, que estavam sendo ameaçados por invasões.
7. Diante dos ataques de Bolsonaro, o cacique Raoni continuou espalhando sua mensagem de paz, respeito e proteção das florestas e dos modos de vida dos povos indígenas. "Minha luta é pelo futuro e pelo presente de todos vocês", disse.
8. Raoni é exemplo de luta para o seu e outros povos! Em janeiro, cerca de 600 lideranças atenderam ao chamado do cacique e uniram suas vozes no histórico Encontro dos Povos Mebêngôkre, em defesa da terra e dos direitos indígenas. “Não vou desistir, vou continuar até quando o meu corpo resistir,” disse durante o Encontro dos Povos Mebêngokrê. “Enquanto o indígena tiver ameaçado, eu vou pedir a paz”. [Saiba mais: https://isa.to/2sPXR2w]
9. Raoni é sinônimo de resiliência! Recentemente, o cacique sobreviveu à três grandes desafios: a morte da sua esposa, Bekwyiká, uma infecção intestinal e um quadro de #Covid19. Aos 90 anos, Raoni segue firme e forte, sempre buscando a paz!
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Por que o cacique Raoni Metuktire deve ganhar o Nobel da Paz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU