02 Julho 2019
No encontro que tiveram em Osaka, na reunião do G20, o presidente Jair Bolsonaro ouviu uma proposta do presidente da França, Emanuel Macron:
"Você aceita se reunir comigo e com o Raoni [Metuktire, líder indígena]?", perguntou o francês a Bolsonaro.
"Não", respondeu de pronto o presidente brasileiro, explicando que Raoni "não representa o Brasil e sequer representa a comunidade indígena de onde veio".
A reportagem é de Cristiana Lôbo, publicada por G1, 01-07-2019.

Macron e Raoni reunidos. | Foto: Reprodução/Youtube
Líder da etnia kayapó, o cacique de 87 anos ganhou visibilidade internacional nas últimas décadas em sua luta pela preservação dos povos indígenas e da Amazônia.
Em maio, reuniu-se com Macron para promover sua luta contra o desmatamento da Amazônia e proteger o Parque Nacional Indígena do Xingu – reserva onde vivem vários povos indígenas – de madeireiros e do agronegócio. Raoni também foi recebido pelo Papa Francisco.


Papa Francisco reunido com Raoni. | Foto: Vatican News
A conversa se deu na última sexta-feira (28), quando Bolsonaro garantiu a Macron que o Brasil vai honrar o Acordo de Paris, do qual é signatário. O compromisso do presidente foi apontado como fundamental para a assinatura do acordo Mercosul e União Europeia.
Logo após a eleição, Bolsonaro cogitou deixar o acordo climático, o que elevou a tensão nas relações com países como França e Alemanha onde há forte cobrança de cumprimento de normas ambientais.
Foi depois desta recusa a uma reunião com a presença de Raoni que o presidente Bolsonaro convidou Macron para sobrevoar a Amazônia, de Boa Vista a Manaus, cerca de uma hora e meia de voo "sem encontrar qualquer ponto de desmatamento".
Ao revelar o diálogo com o presidente da França, "que começou mais tenso, mas o ambiente foi se desanuviando", um assessor do Palácio do Planalto afirmou que o Brasil não vai mudar sua política ambiental, mas pretende mostrar que é cumpridor dos acordos firmados e da legislação como o Código Florestal.
"O presidente não vai baixar a cabeça e não vai aceitar a tutela de ninguém", disse o porta-voz da Presidência, Otávio Rego Barros.
Segundo ele, o Brasil vai manter sua política em defesa do meio ambiente "sem radicalismos".
Já o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, avalia que o Brasil pode melhorar sua comunicação sobre a questão ambiental, tendo como alvo, principalmente, a opinião pública em países da Europa. Ele disse que se há uma imagem negativa no Brasil lá fora ela é fruto de campanha de ONGs que, segundo ele "recebiam dinheiro a rodo e agora não recebem mais".
O porta-voz Rego Barros também foi na mesma linha. "Há críticas ao ministro Salles porque ele meteu a mão em cumbuca que ninguém antes metia", afirmou.
"As versões não correspondem aos fatos", disse Salles.
Na discussão que culminou com a assinatura do acordo Mercosul-União Europeia, o Brasil conseguiu incluir o que chama de salvaguarda para cláusula de precaução prevista no acordo.
A primeira, é a de que se um país recusar a importação de produtos brasileiros por alegação de descumprimento da legislação ambiental ele terá de provar este descumprimento no âmbito jurídico e, em segundo, a recusa só valerá para aquele país e não se estenderá aos demais países europeus.
Nas conversas, a delegação brasileira ouviu de um dos comandantes da negociação. "Nós sabemos que vocês cumprem as normas ambientais, mas a imagem do produto brasileiro junto à opinião pública europeia é negativa".
Leia mais
- Cacique Raoni viaja à Europa para denunciar ameaças à Amazônia
- Bolsonaro quer explorar Amazônia com os Estados Unidos
- Líder histórico no Parque do Xingu rejeita “integração” ao agronegócio proposta por Bolsonaro
- MPF e cacique Raoni discutem MP 870 e invasões de terras indígenas
- Indígenas de todo Brasil se reunirão em Brasília para denunciar ataques e reafirmar resistências
- 'Amazônia é totalmente estratégica para nossa sobrevivência enquanto espécie'. Entrevista especial com Marcela Vecchione
- Dizer que povos indígenas estão sentados sobre imensas reservas minerais é racismo puro e simples. Entrevista especial com Leonardo Barros
- Bolsonaro transfere para a Agricultura a demarcação de terras indígenas e quilombolas
- Estímulo à exploração de terras indígenas visa ao franqueamento de terras públicas para o agronegócio. Entrevista especial com Marco Antônio Delfino de Almeida
- Desmatamento recorde em Terras Indígenas tem garimpo e madeira ilegal como protagonistas
- Mudança da Funai alimenta temor de política “integracionista” sob Bolsonaro
- Os gols do agronegócio contra o Brasil
- Planos de Bolsonaro para o meio ambiente deixam entidades em alerta
- Os riscos ao meio ambiente no governo Bolsonaro
- Sete propostas de Jair Bolsonaro contrárias ao meio ambiente
- Resistir sempre, desistir jamais: ato marca os 30 anos de defesa dos direitos constitucionais dos povos indígenas
- General que assume Funai era contratado de mineradora em conflito com indígenas no PA
- Medidas inconstitucionais do governo Bolsonaro afrontam direitos indígenas. Nota do Cimi
- Novo assessor do Ministério da Agricultura comandou operação que matou indígena no MS
- A Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
- Demarcação de terras indígenas x latifúndios: a grande tramoia brasileira. Entrevista especial com Vincent Carelli
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Bolsonaro se recusa a ter reunião com presença de líder indígena Raoni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU