25 Setembro 2020
As tecnologias de informação e comunicação têm papel fundamental em nossa sociedade, prova disso é sua grande expansão. Enquanto nos últimos 50 anos a população mundial dobrou, o consumo de aparelhos eletrônicos se multiplicou por 6 nesse mesmo período de tempo.
A reportagem é de Javier González de Eusebio, Fernando Tucho e Miguel Vicente, publicada por The Conversation, 23-09-2020. A tradução é do Cepat.
Os benefícios dessa revolução tecnológica são claros, principalmente na atualidade: a crise de saúde provocada pela Covid-19 acelerou e consolidou a digitalização da sociedade.
No entanto, a tecnologia não é neutra. O seu projeto, a obtenção de matérias-primas para a sua fabricação, a sua utilização e posterior eliminação têm um grave impacto ambiental e humano que necessita da nossa atenção para promover um consumo sustentável das telas.
O impacto ambiental dos dispositivos eletrônicos começa com o seu design. Isso tende a favorecer a obsolescência programada, que reduz artificialmente a vida útil dos aparelhos para promover o consumo. A lâmpada elétrica é a primeira aplicação documentada dessa estratégia. No campo dos canais de informação, a Motorola foi pioneira, nos anos 1950, ao fabricar um dos primeiros rádios portáteis irreparáveis.
A obsolescência planejada encontrou um desenvolvimento sem paralelo nas tecnologias de comunicação, durante o século XXI. Nos países desenvolvidos, o ciclo de vida de um smartphone é de 18 meses a 2 anos. Isso significa que a cada 24 meses, 2,8 bilhões de pessoas trocam de celular.
Notebooks e computadores de mesa, roteadores, consoles de jogos e aparelhos de televisão também pertencem à categoria de produtos eletrônicos com a maior taxa de substituição.
A produção de tecnologias de comunicação está associada aos chamados minerais de sangue ou de conflito, uma vez que sua exploração serve para financiar grupos armados. A República Democrática do Congo é um exemplo ilustrativo dessa problemática.
Em 2017, o Parlamento Europeu e o Conselho da União Europeia aprovaram um regulamento que entra em vigor em 2021 para impedir o acesso aos minerais de sangue na UE. Uma medida importante, embora considerada insuficiente porque se aplica apenas a matérias-primas e não a produtos acabados.
A fabricação dos dispositivos é um processo complexo que requer toneladas de água, produtos químicos e combustível. Por exemplo, para produzir um computador de mesa, são necessários 240 quilos de combustível, 22 quilos de produtos químicos e 1.500 litros de água, quase a mesma quantidade de recursos necessários para fabricar um carro. Por outro lado, um equipamento de informática requer o uso de mais de 1.000 materiais, muitos deles tóxicos.
Ligado ao impacto ambiental da produção dos dispositivos, está o humano. Diversas organizações denunciam condições abusivas de trabalho, bem como graves riscos à saúde decorrentes do manuseio de materiais perigosos, sem os respectivos equipamentos de proteção.
O pesquisador Jörg Becker afirma que sem o uso da Internet, a Alemanha poderia poupar o funcionamento de duas usinas nucleares.
Embora a crescente digitalização de vários aspectos da vida em sociedade seja considerada um processo benéfico para o meio ambiente, o desenvolvimento de aplicativos para tecnologias de comunicação e a construção e operação da infraestrutura necessária à sua execução gera um forte consumo de energia.
Dispositivos eletrônicos são responsáveis por 4% das emissões de gases do efeito estufa. Em 2025, esse valor poderá ser de 8%. Com a taxa de crescimento atual, a pegada de carbono global dessas tecnologias representará 14%, em 2040.
O tráfego de dados é responsável por mais da metade do impacto ambiental global da tecnologia digital. Representa 55% do seu consumo de energia por ano, com uma taxa de crescimento anual de 25%. Por exemplo, em 2018, a exibição de vídeos na internet gerou mais de 300 toneladas de CO2 e estima-se que plataformas como Netflix e Amazon Prime produziram tantas emissões de gases do efeito estufa como todo o Chile.
Um motivo importante para explicar essa forte demanda de energia são os data centers, necessários para armazenar e transmitir informações, que ainda são amplamente dependentes de combustíveis fósseis. Em Madri (Espanha), o maior data center da região consome a mesma energia que uma população de 200.000 habitantes.
O lixo eletrônico, consequência do consumo excessivo de todos os tipos de dispositivos, contém substâncias tóxicas que, sem o devido tratamento, podem ser perigosas.
Em média, estima-se que cada pessoa gere 6 quilos de lixo eletrônico por ano. Em 2018, foram produzidos 44,7 milhões de toneladas métricas desse tipo de lixo no mundo. Somente 20% deles foram reciclados corretamente. Nesse mesmo ano, 1,7 milhão de toneladas de lixos eletrônicos foram despejados junto aos lixos orgânicos.
De 50 a 80% do lixo eletrônico é exportado ilegalmente para países empobrecidos, geralmente como ajuda internacional ou como bens usados. A maioria acaba em lixões ilegais como Agbogbloshie, em Gana, ou Guiyu, na China.
Em suma, embora os benefícios das novas tecnologias sejam indiscutíveis, precisamos promover o consumo consciente e crítico. Devemos estar atentos à quantidade e onipresença que as telas adquiriram em nosso dia a dia e tomar consciência de seu impacto ambiental e socioeconômico.
Como podemos observar a cada dia com maior evidência, a digitalização tem uma face que está longe da aparente inocência dos nomes usados para se referir a muitas de suas aplicações, como o conceito de nuvem. A sustentabilidade do ambiente digital é um requisito imprescindível para se caminhar em direção a um equilíbrio ecológico e social.
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O impacto ambiental da sociedade da informação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU