06 Agosto 2020
"Os olhos marejados revelam outro pormenor da vida de Inácio de Loyola: um Inácio menos rude, mais sensível; menos rigoroso, mais dócil; menos vanglorioso, mais simples. Um pequeno detalhe da vida de um grande missionário, um pormenor que faz desse missionário: um homem sensível, dócil e simples", escreve Carlos Rafael Pinto, mestre em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE-BH) e professor de ensino religioso, sociologia e filosofia no Colégio São Judas Tadeu (Contagem/MG).
O que nos impressiona na história de Santo Inácio de Loyola? Sua imagem sacerdotal imponente presente nos altares? Sua ordem religiosa presente nos quatros cantos do mundo? Seus fascinantes Exercícios Espirituais? Suas maravilhosas Cartas? Talvez tudo isso... Ou nos impressionam os projetos da ordem religiosa de Santo Inácio de Loyola, a Companhia de Jesus: a formação dos irmãos e padres jesuítas; as obras sociais; os inúmeros Colégios e faculdades; as igrejas; as Casas de Retiro; os Centros e as Casas formação de Juventude?
Ou nos impressionam os jesuítas imortalizados nos corações, dentre eles: Padre Manoel da Nóbrega; Santo José de Anchieta; Santos Roque Gonzalez, Afonso Rodrigues, João de Castilho; Beato Inácio de Azevedo; Padre Arrupe; Dom Luciano Mendes de Almeida; Padre João Batista Libanio; Irmão Costinha (Laudelino Costa); Padre Óscar Quevedo; Padre Henrique Cláudio de Lima Vaz; Padre Henrique Munáiz; Padre João Batista Reus; Padre Popó (Hipólito Maria Chemello)? Talvez tudo isso.
No dia 31 de julho, a Igreja celebra a memória de Santo Inácio de Loyola e, com ele, todo o magnifico legado de sua ordem religiosa. Afinal, o que mais pode nos chamar a atenção na sua história? Na verdade, antes de sua canonização, o que se sublinha na vida de Inácio de Loyola? Tudo o que foi listado acima nos impressiona, sem dúvida. Todavia, há um pormenor, um detalhe desconhecido ou que pode passar despercebido quando se refere à vida de Inácio de Loyola e à sua ordem religiosa.
O que será?
Por ocasião da memória de Santo Inácio de Loyola, acompanhado pela cítara, a assembleia litúrgica repete o refrão do Salmo 68: “Respondei-me, ó Senhor, pelo vosso imenso amor”. Inácio de Loyola pede em sua oração, imortalizada em muitos corações:
“Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade e a minha memória também.
O meu entendimento e toda a minha vontade,
tudo o que tenho e possuo vós me destes com amor.
Todos os dons que me destes com gratidão vos devolvo.
Disponde deles, Senhor, segundo a vossa vontade.
Dai-me somente o vosso amor, vossa graça.
Isto me basta, nada mais quero pedir”.
Durante os Exercícios Espirituais, em outro momento, Inácio de Loyola orienta o exercitante que “o amor consiste mais em obras do que em palavras”. Talvez nos impressione a radicalidade da vivência do amor de Santo Inácio de Loyola e seus companheiros.
Porém... O que ainda pode nos tocar mais?
São “os seus belos olhos, sempre um pouco marejados de lágrimas”, assim escreve Roland Barthes. Inácio de Loyola, em seu Diário Espiritual, pedia inúmeras vezes o dom das lágrimas, como assinatura da presença da Santíssima Trindade, conforme escreve o Padre jesuíta Peter-Hans Kolvenbach, “nas 165 vezes em que Inácio recebe o dom de lágrimas num espaço de 40 dias (de 2 de fevereiro de 1544 a 12 de março de 1544), elas constituem a resposta do Espírito, a visita da Santíssima Trindade”.
Os olhos marejados revelam outro pormenor da vida de Inácio de Loyola: um Inácio menos rude, mais sensível; menos rigoroso, mais dócil; menos vanglorioso, mais simples. Um pequeno detalhe da vida de um grande missionário, um pormenor que faz desse missionário: um homem sensível, dócil e simples. Enfim, os seus olhos receberam a assinatura da visita da Santíssima Trindade e suas mãos calejadas traduziram em obras de amor, tocando e transformando muitos corações e muitas realidades no mundo afora.
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Os olhos marejados de Inácio de Loyola - Instituto Humanitas Unisinos - IHU