10 Julho 2020
A restrição de fazer eventos públicos, em razão dos contágios pelo coronavírus, foi o último golpe a um Pontífice que se sente mais cômodo comunicando-se com as massas que lidando com a burocracia do Vaticano.
A reportagem é de Francis X. Rocca, publicada por La Tercera, 08-07-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
As restrições para a realização de eventos públicos, com o fim de lidar com a pandemia do coronavírus, é o último golpe ao papa Francisco, cujo pontificado esteve lutando nos últimos anos para sustentar as esperanças progressistas que o argentino ofereceu no começo do seu papado.
A pandemia dificultou a habilidade do papa Francisco de comunicar seus ensinamentos e promover suas causas, que vão desde o meio ambiente aos direitos dos migrantes, assim como também seus esforços para fazer frente aos problemas financeiros do Vaticano. A falta de eventos públicos e as interações pessoais constituem uma carga especial para um Papa que se sente mais cômodo comunicando-se com as massas que lidando com a burocracia do Vaticano.
Inclusive antes da pandemia, a tendência progressista do seu pontificado, exemplificada com a abertura para os divorciados e católicos gays, havia terminado em meio às divisões internas da igreja. Uma série de escândalos sobre abusos a menores em vários países em todo o mundo, assim como também assuntos que têm a ver com um manejo financeiro ruim no Vaticano, fizeram sombra sobre a instituição.
Agora, no oitavo ano do mandato do Papa de 83 anos, algumas vozes no interior do Vaticano e também observadores estão olhando para seu final. “O próximo Papa”, é o título de dois livros programados para publicação nas próximas semanas. Ambos foram escritos por autores conservadores, mas eles não são os únicos preocupados.
“Em alguns temas, o potencial de mudança institucional do papa Francisco parece ter alcançado o limite”, disse Massimo Faggioli, um teólogo que tem sido um dos partidários mais entusiastas do Papa. Ele citou a recente decisão de não relaxar as regras sobre o celibato dos padres e sua resistência à ordenação de diáconas, que estão em um alcance menor no clero. Em ambos os temas, a falta de mudança decepcionou os católicos progressistas.
Faggioli escreveu em um artigo esta primavera (boreal) que “os partidários do papa Francisco e de seus esforços para reformar a Igreja Católica estão preocupados de que o dinamismo de seu pontificado tenha começado a cair”. Uma razão para isto, disse, poderia ser o desejo de manter a unidade entre os católicos liberais e os conservadores cada vez mais críticos com o Papa.
Os progressistas estão contentes com a ênfase que o papa Francisco tem dado à justiça social e econômica e ao meio ambiente. Porém, a pandemia limitou drasticamente sua habilidade de promover essas causas, ainda quando ele crê que a crise de saúde global e econômica fez com que isso seja mais urgente.
“O interesse está aí sobre a mesa para moldar a ordem mundial pós-coronavírus”, disse John Allen, presidente de Crux Catholic Media e autor de inúmeros livros sobre o Vaticano. “Se ele não é capaz de se projetar na conversa, devido a sua impossibilidade de viajar ou de fazer grandes eventos públicos, então ele perde a relevância”.
Os maiores eventos papais foram transferidos até o final de 2023. O Papa deixou de viajar e a maioria das aparições no Vaticano agora ocorrem por vídeo, com uma pequena audiência presente fisicamente. Os encontros pessoais, que fizeram uma das imagens mais cativantes de seu papado, agora são impossíveis. Agora se encontra em suas “férias em casa” anuais, não está fazendo audiências públicas semanais, mas descansará dentro das paredes do Vaticano durante o mês de julho.
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Papa Francisco enfrenta outro revés durante a pandemia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU