30 Junho 2020
Dom Mark Seitz, bispo de El Paso, inaugurou na semana passada um centro para atender migrantes grávidas em Ciudad Juárez. Lá, denunciou que com as novas medidas adotadas pelo governo Trump, seu país pôs fim “de forma efetiva” ao “direito fundamental de obter asilo na fronteira”.
A reportagem é de María Martínez López, publicada por Alfa&Omega, 29-06-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O bispo de El Paso (Estados Unidos), dom Mark Seitz, denunciou na semana passada que os Estados Unidos puseram fim “de forma efetiva” ao “direito fundamental de obter asilo na fronteira”. A situação no norte do México, com 60 mil a 70 mil migrantes concentrados ao longo da fronteira entre ambos países, é equiparável a 1939, quando o governo estadunidense enviou “um barco cheio de refugiados judeus de volta aos campos de extermínio da Alemanha nazista”.
Aludia assim o prelado ao incidente do M. S. Saint Louis, no qual 900 judeus tentaram chegar aos Estados Unidos. Foram rejeitados. “Pensávamos que já tínhamos aprendido depois de sentir essa culpa”. Mas 81 anos depois “enviamos de volta aqueles que tinham escapado das pandillas do narcotráfico”.
Obrigar dezenas de milhares de pessoas a esperar nas portas do país para que tramitem suas solicitações de asilo, como faz o plano Permanecer no México, causou “mais de mil casos denunciados publicamente de violação, assassinato, sequestro e tortura de migrantes”, criticou o bispo de El Paso, citando dados da organização Human Rights First.
Seitz pronunciou estas duras palavras em 25 de junho, em Ciudad Juárez, onde inaugurou um projeto para mulheres grávidas apoiado pelo Fundo de Assistência para Refugiados Fronteiriços de sua diocese. Em seu discurso, difundido por Hope Border Institut no sábado, destacou que se trata de uma “expressão de solidariedade da Igreja”.
Depois de se reunir com migrantes grávidas e com crianças pequenas, deu o exemplo de Clara, quem por segurança não pode sequer dizer seu verdadeiro nome no país de origem ou as causas da sua fuga. Seus dois filhos, um deles recém-nascido, foram “concebidos da maneira mais brutal”. E ela está “ansiosa” para que recebam o batismo.
A integridade desta mulher contrasta com a realidade social dos Estados Unidos. Lá “o tecido moral está desgastado, um país exposto e desnudo diante do Senhor”, lamentou Seitz. “O compromisso estadunidense com os solicitantes de asilo e os refugiados erodiu”; um processo do qual “todos somos responsáveis” e que fará as gerações futuras se envergonharem.
O bispo concentrou suas críticas nos últimos passos dados pelo governo Trump para endurecer ainda mais esta política amparando-se na crise sanitária. Assim, invocando o artigo 42 do Código dos Estados Unidos, sobre “saúde e bem-estar públicos”, ordenou-se aos agentes fronteiriços expulsar todas as pessoas surpreendidas tentando entrar no país, em vez de lhes aplicar a legislação migratória. “Todos os dias devolvem a força aos migrantes, brutalmente despojados das proteções da lei, inclusive mulheres e crianças, a Ciudad Juárez, considerada a segunda cidade mais perigosa do mundo”.
Os que são presos, em vez de serem postos nas mãos de entidades humanitárias que os atendam, são enviados a centros de detenção que “tornaram-se laboratórios da covid-19”. Nos centros de El Paso, de fato, “atualmente há um surto importante e perigoso”. Depois, ao expulsá-los, está se contribuindo à expansão do vírus, recordou: “Na Guatemala, quase 20% dos casos de coronavírus podem ter relação com deportações”.
A Igreja teme que estas decisões tenham chegado para ficar. De fato, “os novos regramentos de asilo, propostos e publicados em 15 de junho, incorporarão muitos destes abusos”, salientou o prelado. Fatos que não estão “desconectados” do problema do racismo que vive o país. É precisamente esta atitude que permite “apartar a vista da massa de pessoas” que se aglomeram na fronteira e às quais são negados “proteção e o devido processo legal”.
“Eu levanto minha voz como cristão, como pastor”, para “ajoelhar-me e aprender com Cristo no sofrimento. E aprendi que somos nós que estamos causando sofrimento a ele”, compartilhou Seitz. E, no entanto, ele também queria enfatizar que a odisseia de Clara, como a de muitas outras, “é uma história de esperança. Apesar de tudo o que ela suportou, é duradoura e continuará, Clara é um sinal inspirador de força, resistência e esperança.”
Ele também se mostrou inspirado pela colaboração das igrejas de ambos os lados da fronteira para abordar essa realidade. “Mesmo no meio de toda a desumanidade, o Senhor está escrevendo um belo capítulo” da história da fronteira.
“Haverá um dia em que toda essa dor não existirá mais, quando as paredes do ódio desmoronarem e quando a graça transformará o presente sombrio em algo melhor. Mas essa é a nossa tarefa”, deixando agir o Senhor que “transforma o racismo e o ódio em arrependimento e reconciliação”.
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O bispo de El Paso denuncia que hoje os EUA expulsam os migrantes como fizeram com os judeus em 1939 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU