17 Junho 2020
Esperamos que o ano de aniversário da Laudato si’ e a próxima década possam realmente constituir um tempo de graça, uma experiência de verdadeiro kairós e um tempo de “Jubileu” para a Terra, para a humanidade e para todas as criaturas de Deus.
A opinião é do salesiano Josh Kureethadam, coordenador do setor “Ecologia e Criação” do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral da Santa Sé. O artigo é publicado por Settimana News, 16-06-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O ano especial dedicado à Laudato si’ para celebrar o quinto aniversário da encíclica prevê muitas iniciativas importantes.
Como humanidade, estamos vivendo um momento crítico, ou seja, uma pandemia mundial por causa da Covid-19, que mudou profundamente a nossa vida em todos os níveis. Trata-se de uma crise sem precedentes, que expôs muitas das nossas certezas e colocou de joelhos o nosso sistema econômico e social.
Mas, no plano divino, até mesmo os momentos mais sombrios da história poderão se transformar em raios de luz. De fato, é significativo que o termo crise no original grego não tem apenas conotações negativas. A crise poderá se tornar precisamente um momento de virada! Os gemidos da dor e do sofrimento poderão se tornar os trabalhos de parto de um novo mundo.
É somente nessa chave providencial que podemos interpretar o ano do “Aniversário Especial da Laudato si’” convocado pelo Papa Francisco no dia 24 de maio, no quinto aniversário da encíclica.
O Papa Francisco propõe a Laudato si’ como uma bússola moral e espiritual para nos guiar nessa viagem comum, voltada à criação de um mundo mais consciente, fraterno, pacífico e sustentável.
O ano especial do aniversário da Laudato si’ intercepta o caminho que espera pela Igreja na mudança de rota radical na nossa salvaguarda da criação.
A notícia da convocação desse ano especial, divulgada pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, relança fortemente as palavras do Papa Francisco, que há cinco anos assinou a encíclica, um “divisor de águas que chamou a atenção do mundo para o estado cada vez mais precário da nossa casa comum”. As comunidades pobres em todo o mundo são as primeiras e desproporcionais vítimas da degradação ecológica em curso, e não podemos mais ficar indiferentes ao “clamor da terra e ao clamor dos pobres” (Laudato si’, n. 49), que se torna cada vez mais desesperado.
O ano jubilar, que começou no dia 24 de maio, prevê diversas iniciativas, com uma clara ênfase na “conversão ecológica” à qual cada um de nós é chamado.
O início foi dado pela “Semana Laudato si’” (celebrada de 16 a 24 de maio de 2020). Deve-se dizer que houve uma grande participação individual e comunitária, em todos os níveis: centenas de organizações, milhares de pessoas e muitos eventos correlacionados. Depois, no dia 24 de maio, ao meio-dia, foi feita a Oração Comum pela Terra e pela Humanidade, simultaneamente em todo o mundo.
Em alguns meses, festejaremos o “Tempo da Criação”, de 1º de setembro a 4 de outubro de 2020, e, depois, também no mês de outubro, haverá o encontro muito esperado sobre a aliança educacional, previsto inicialmente para junho, mas posteriormente adiado por causa da pandemia.
Em novembro, teremos outro evento muito importante, “Economia de Francisco”, que será realizado em Assis e envolverá a participação de milhares de jovens economistas de todo o mundo, prontos para refletir e projetar juntos um futuro mais sustentável e inclusivo.
O ápice ocorrerá por volta de maio de 2021, quando ocorrerão as celebrações conclusivas do ano do aniversário especial.
Durante este ano de encontros e de manifestações, lançaremos muitos projetos: um documentário sobre a Laudato si’, as “Capelas Vivas Laudato si’”, o concurso bíblico “Laudato si’” e muitos outros.
Tudo isso, porém, também gerará iniciativas múltiplas plurianuais, que terão, por isso, uma duração continuada e de longo prazo. No fim do ano do Aniversário Especial, de fato, será lançada a “Plataforma de Iniciativas Laudato si’”. Trata-se de um projeto para tornar as comunidades de todo o mundo totalmente sustentáveis, de modo progressivo. Será um caminho de sete anos, feito com as famílias, com as dioceses, com as escolas, com as universidades, com os hospitais, com o mundo dos negócios (particularmente as empresas agrícolas), com as ordens religiosas.
A intenção é iniciar esse processo no início de 2021, convidando várias instituições citadas a empreenderem o seu caminho pessoal de sete anos na direção da ecologia integral, no espírito da Laudato si’.
No ano seguinte, outro grupo se reunirá para começar esse caminho, e assim por diante, nos anos seguintes. Dessa forma, prevê-se a criação de uma rede inspirada na Laudato si’, que continuará se expandindo e crescendo a cada ano, exponencialmente. O processo se repetirá a cada ano da nova década. Ao fazer isso, esperamos poder alcançar a “massa crítica” necessária para levar em frente aquela transformação radical da sociedade invocada pelo Papa Francisco na Laudato si’.
No fim do ano do Aniversário Especial, serão conferidos os primeiros prêmios “Laudato si’”, reconhecendo o compromisso das pessoas envolvidas nesses caminhos plurianuais. Tudo está centrado na ação concreta e participativa, dada a grave situação que o planeta enfrenta.
Esperamos que esse ano e a próxima década possam realmente constituir um tempo de graça, uma experiência de verdadeiro kairós e um tempo de “Jubileu” para a Terra, para a humanidade e para todas as criaturas de Deus.
Entre outras coisas, é verdadeiramente “providencial” que este ano caia exatamente no momento em que o Santo Padre pediu à Igreja que enfrente unida os efeitos dessa terrível pandemia, e em particular ao Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral que coordene uma Comissão Vaticana para a Covid-19, encarregada de “preparar o futuro” e de superar as velhas estruturas socioeconômicas que criaram a cultura do descarte, rumo a modelos mais saudáveis, inclusivos, sustentáveis e, definitivamente, mais humanos. Que tragam no seu coração principalmente o destino dos mais vulneráveis e ponham a pessoa finalmente no centro de todas as suas necessidades, materiais e espirituais.
As palavras proféticas do Papa Francisco continuam ressoando nos nossos ouvidos: “Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai nos suceder, às crianças que estão crescendo?” (LS 160).
A urgência da situação é tamanha que requer respostas imediatas, holísticas e unificadas em todos os níveis, locais e regionais, nacionais e internacionais, pessoais e comunitários. Em particular, é necessário criar um “movimento popular” de baixo e uma aliança entre todas as pessoas de boa vontade. Como o Papa Francisco nos lembra, “todos podemos colaborar, como instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir da sua cultura, experiência, iniciativas e capacidades” (LS 14).
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Terra e pobres: um ano jubilar. Artigo de Josh Kureethadam - Instituto Humanitas Unisinos - IHU