12 Junho 2020
Até junho, o caso do prédio de Londres deve estar encerrado. É o pedido do papa, que também quer nomes e sobrenomes dos responsáveis do que está assumindo todos os contornos de um escândalo.
O papa gostaria que o escândalo do prédio de Londres terminasse o mais rápido possível, talvez em junho: com os nomes e sobrenomes dos responsáveis pelo que se configura como um verdadeiro “golpe”. Mas é improvável que os tempos rápidos solicitados por Francisco sejam respeitados pela justiça da Santa Sé. As acusações em uma operação que cheira a fraude estão se avolumando. “Estão se enfrentando o anterior e novo substituto da Secretaria de Estado”, diz uma das pessoas envolvidas, “com o IOR no fundo e os Promotores e a Gendarmaria que tecem sua própria narrativa”.
O comentário é de Massimo Franco, publicado por Corriere della Sera, 11-06-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mas evocar os nomes do cardeal Giovanni Angelo Becciu, o anterior, e de monsenhor Edgar Pena Parra, atual substituto, corre o risco de simplificar um conflito travado com a infinidade de mediadores e financiadores envolvidos na venda do prédio na Sloane Avenue 60. Por trás daquele “negócio” que teria feito o Vaticano gastar 350 milhões de euros até agora em um prédio comprado em 2012 por uma empresa por cerca de 150, aflora um mundo pronto para se defender quando se sente ameaçado.
Jorge Mario Bergoglio ainda está determinado a endireitar as finanças do Vaticano após tentativas feitas em mais de sete anos. O novo código de concorrências provaria isso. Além disso, ele está prestes a indicar o número dois para a APSA, o cofre imobiliário da Santa Sé. E parece querer relançar as reformas confiadas em 2014 ao cardeal australiano George Pell; mas abruptamente interrompidas pelo processo de assédio, com a absolvição de Pell em apelação em Melbourne, e pela despedida sumária, quase simultânea, do auditor Libero Milone, em 2017. Mas sobre o processo de Pell, um amigo de Francisco afirma que foi armado “com canhões australianos e munição do Vaticano”: dando a entender que alguém tinha interesse em tirá-lo de campo para acertar o próprio pontífice. A sensação é de que agora a guerra entre as facções financeiras tenha explodido novamente. Após a prisão do mediador Gianluigi Torzi, no final de um dramático interrogatório de alguns dias atrás no Vaticano, o confronto se tornou mais áspero. Foi vazada a notícias que Francisco se encontrou com Torzi e sua família na Casa Santa Marta, sua residência no Vaticano, acompanhada por fotos.
E o financista Raffaele Mincione, ex-proprietário do prédio do escândalo, trouxe à tona lembranças traumáticas sobre a investigação em andamento. Em 6 de junho, ele disse à agência Adnkronos: “Há uma foto de Torzi com o papa, eu a tenho. Ele conseguiu esse cargo de Pena Parra, colocado pelo papa. ... Pena Parra será preso, imagino, junto com Torzi, já que ele o delegou ...”. E mais: “Há uma guerra política acontecendo lá, certo? O Papa se dá bem com Becciu? Não. E quem o papa colocou no lugar de Becciu? Pena Parra. Pois bem, quem comprou o prédio foi ele, que chegou depois do outro, por ordem do papa”. Simples demais, talvez. Fica a dúvida de que seja uma tentativa de descarregar no passadas recentes operações iniciadas no início do pontificado.
Vislumbra-se um formigueiro de interesses opacos, tocado pelas últimas decisões papais. Fala-se de documentos com os quais a Casa Santa Marta autorizou as movimentações de dinheiro do Óbolo de São Pedro para os investimentos imobiliários. E confirma-se a sensação de que o círculo de Bergoglio seja infiltrado e usado por personagens no mínimo controversos, eclesiásticos e não-eclesiásticos, com o pontífice empurrado por sinais conflitantes. A verdadeira pergunta é porque, para decidir sobre alguns investimentos no exterior, o Vaticano entra em situações tão opacas. O imbróglio imobiliário remete a mediações nas quais dezenas de milhões de euros aparecem e desaparecem; e transferências de títulos nas quais não está claro se alguns membros da Santa Sé são vítimas ou cúmplices, ou ambos. A magistratura está à procura de cinco milhões de euros que desapareceram nas negociações entre Torzi e o Vaticano.
Mas provavelmente existem outros vazamentos de dinheiro a serem rastreados no exterior. O resultado não é dado como certo. Entre outras coisas, questiona-se quem no futuro aceitará ser interrogado no Vaticano, com o risco de ser preso. O papa parece determinado a ir até o fim: está em jogo a credibilidade de um pontificado que sofreu altos e baixos em relação às reformas; e que nos últimos dias teve oportunidade de registrar a duplicação dos lucros do IOR, firmemente nas mãos do diretor “bergogliano”, Gianfranco Mammì. Também na APSA, como mencionado, aguardam a nomeação do novo número dois: um “laico” italiano. Enquanto isso, em meados de maio, após o término do isolamento pelo Covid-19, os funcionários tiveram uma surpresa: teria reaparecido monsenhor Gustavo Zanchetta, amigo de Bergoglio, contra quem a magistratura argentina emitiu um mandado de prisão em novembro de 2019 por abusos sexuais. Zanchetta, nomeado “assessor” da APSA em 2017, teria retomado seu trabalho: outro dos mistérios desta fase.
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Caso Londres, o papa quer os culpados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU