23 Mai 2020
Com a pandemia do corona, as teorias de conspiração estão se espalhando - e também representantes do alto escalão da Igreja concordam com isso. Forma-se uma aliança de irracionalidade.
O comentário é de Tilmann Kleinjung, publicado por Taggesschau, 11-05-2020.
Na quinta-feira passada, 07.05, o Papa Francisco e Angela Merkel falaram ao telefone. Foi uma conversa sobre coesão e solidariedade no mundo, diante da pandemia do corona.
Simultaneamente, cardeais e bispos da Igreja Católica, juntamente com médicos, jornalistas e advogados, publicavam uma convocação, que contradiz, sob todas as formas imagináveis, a intenção dessa conversa ao telefone.
O simples fato de a Chanceler alemã estar consultando o papa, já deveria ser suficiente para que os signatários daquela convocação reconhecessem a crueza do seu mito de conspiração.
Levianamente, reivindica-se um governo mundial, fora de qualquer controle, dizendo que a epidemia é apenas um pretexto para violar os direitos fundamentais dos cidadãos. Citação: "Não permitimos que séculos de civilização cristã ... sejam apagados, para ser criada uma odiosa tirania tecnocrática".
Nas manifestações contra as restrições ao corona, no fim de semana, tais afirmações foram citadas à vontade. Com isso se forma justamente uma aliança global de irracionalidade, de egoísmo e de uma estupidez aparentemente ilimitada.
Esse movimento pode se ufanar agora também do ex-prefeito da Congregação Romana para a Doutrina da Fé, o Cardeal alemão e professor de Teologia, Gerhard Ludwig Müller, como proeminente apoiador.
Müller é algo como o Hans-Georg Maassen da Igreja católica. Como aquele antigo defensor da Constituição, também este defensor da Fé foi bruscamente removido de seu alto cargo.
A ofensa penetrou fundo, e o ego ferido encontrou, junto a populistas de direita e tradicionalistas católicos, uma aprovação, que a maioria dos católicos na Alemanha, e o Papa também, lhe recusam. "O Cardeal Müller é o Donald Trump da Igreja católica", diz a princesa Gloria von Thurn und Taxis - e ela diz isso como um elogio.
Quando o papa faz da destruição da floresta amazônica o tema de um Sínodo, Müller adverte a Igreja contra a tendência de se tornar um "Lobby religioso-natural do Movimento Ecológico". E quando Francisco vai ao encontro de católicos que se divorciaram e se casaram novamente, Müller reage: "Nós não aceitamos nenhuma poligamia!"
Juntamente com alguns outros purpurados, mais à margem, mas que estão unidos na oposição ao papa Francisco, Müller fala de um "alarmismo" que "de forma alguma se justifica". Müller também fala de uma histeria, de uma produção de pânico, - tudo sem o comprovar, mas no tom de uma convicção bem católica.
Mesmo que esses apelos de convocação sejam dirigidos "a católicos e a todas as pessoas de boa vontade", o Papa Francisco pode se sentir particularmente visado e desafiado. Ele prega, desde o início da crise do Coronavírus, o respeito e a solidariedade. Todos os eventos públicos no Vaticano estão cancelados, até novo aviso.
Francisco vê a Igreja como parte de uma comunidade global em luta contra o vírus, e não como uma alternativa. Para Francisco, a igreja é um "hospital de campanha", no qual os doentes e os fracos são acolhidos.
Essa imagem nunca foi tão adequada quanto nos tempos do Corona. E nunca se tornou mais óbvia a mesquinhez de seus oponentes dentro da Igreja.
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Cardeal Müller e Corona. Aliança mundial da irracionalidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU