20 Mai 2020
Nesta semana, o Papa Francisco inaugurou a “Semana Laudato Si’” no Vaticano, que comemora o 5º aniversário da publicação da sua ecoencíclica com o mesmo título, dando início a uma comemoração mais ampla do documento, ao longo de um ano, com o objetivo de estimular os cidadãos do mundo inteiro a adotarem práticas mais sustentáveis.
A reportagem é de Elise Ann Allen, publicada por Crux, 19-05-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Discursando na Biblioteca do Palácio Apostólico no Vaticano durante a oração do Regina Caeli transmitida ao vivo no domingo, o papa disse que o coronavírus destacou a importância de “cuidar da nossa casa comum” e manifestou a esperança de que as reflexões em torno do aniversário da Laudato si’ “ajudem a criar e fortalecer atitudes construtivas para o cuidado da criação”.
Oração comum para o 5º aniversário da encíclica Laudato si’ (Foto: Semana Laudato Si’)
Em seguida, ele inaugurou formalmente a Semana Laudato Si’, que será realizada de 16 a 24 de maio, e que é o começo de um ano inteiro de atividades dedicadas a implementar a Laudato si’, começando no dia 24 de maio de 2020 e terminando no dia 24 de maio de 2021.
Embora a Laudato si’ tenha sido publicada em junho de 2015, ela foi assinada pelo papa no dia 24 de maio daquele ano, na festa de Pentecostes.
Em um vídeo criado para a Semana Laudato Si’, o Papa Francisco questionou os espectadores, perguntando: “Que tipo de mundo queremos deixar para aqueles que nos sucedem, para as crianças que estão crescendo?”.
Exibindo cenas de protestos de um movimento climático liderado por estudantes, Francisco convidou os espectadores a participarem das atividades dessa semana e reiterou seu “chamado urgente a responder à crise ecológica”.
“O clamor da terra e o clamor dos pobres não aguentam mais. Cuidemos da criação, dom do nosso bom Deus Criador. Celebremos juntos a Semana Laudato Si’”, disse ele.
Projetado pelo Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano, liderado pelo cardeal Peter Turkson, de Gana, o Ano de Aniversário da Laudato Si’ enfatizará claramente a conversão e a ação ecológicas, de acordo com um comunicado do dicastério.
Cinco anos depois, a Laudato si’ é “cada vez mais relevante”, disseram, apontando para o derretimento das calotas polares, os recentes incêndios que queimaram faixas da Amazônia, o aumento dos padrões climáticos extremos e a perda de biodiversidade como indicadores de que a mudança é necessária.
Observando que o aniversário coincide com o surto de uma pandemia, o dicastério insistiu que a mensagem que a encíclica oferece “é tão profética hoje quanto em 2015” e pode fornecer “a bússola moral e espiritual para a jornada para criar um mundo mais cuidadoso, fraterno, pacífico e sustentável”.
“De fato, temos uma oportunidade única para transformar os atuais gemidos e dores de parto nos sinais do nascimento de uma nova forma de viver juntos, unidos no amor, na compaixão e na solidariedade, e de uma relação mais harmoniosa com o mundo natural, nossa casa comum”, disseram eles, insistindo que a Covid-19 demonstrou “como todos estamos profundamente interligados e somos interdependentes”.
Enquanto muitos países começam a imaginar como será o mundo pós-Covid, “precisamos acima de tudo de uma abordagem integral, pois ‘tudo está intimamente relacionado, e os problemas atuais requerem um olhar que leve em conta todos os aspectos da crise mundial”, disseram, acrescentando que a urgência da situação climática “respostas imediatas, holísticas e unificadas em todos os níveis – local, regional, nacional e internacional”.
Em termos das atividades da Semana Laudato Si’, haverá seis eventos online oficiais, além de várias oficinas online em inglês e espanhol sobre temas como sustentabilidade, como viver uma ecoespiritualidade no cuidado da criação e ação social para a promoção de uma ecologia integral e a construção comunitária durante a pandemia.
O dicastério também está incentivando as paróquias a organizarem uma “Oração Comum pela Terra e pela Humanidade” no domingo, 24 de maio, ao meio-dia, hora local, para encerrar a Semana Laudato Si’, como uma forma de envolver as suas comunidades na iniciativa.
A maioria dos eventos para o ano de aniversário ocorre no outono [no hemisfério Norte], incluindo uma “Estação da Criação”, com duração de um mês, que deve começar no dia 1º de setembro, Dia Mundial de Oração pela Criação, e que terminará no dia 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis.
Com o tema “Jubileu para a Terra”, o evento visa a ajudar as comunidades a repararem as relações entre si e com a criação, por meio de uma série de eventos organizados em nível local em todo o mundo.
Também está agendado um encontro no dia 15 de outubro dedicado a “Reinventar a Aliança Educacional Global”, para o Pacto Global sobre Educação, originalmente marcado para o dia 14 de maio no Vaticano, mas que foi adiado devido ao coronavírus.
Outro grande congresso que foi adiado, mas que está na agenda do fim deste ano do Vaticano, é o evento “Economia de Francisco”, que deveria reunir 2.000 jovens economistas e empresários de 115 países ao redor do mundo para ajudar a criar uma “nova e corajosa cultura” ao encontrar modelos inovadores de negócios que promovam a dignidade humana e protejam o ambiente.
Originalmente marcado para os dias 26 a 28 de março na cidade italiana de Assis, com a presença do Papa Francisco no dia final, o evento está marcado agora para os dias 19 a 21 de novembro, também com a presença do papa para encerrar o congresso de três dias, que é promovido pelo Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano.
As celebrações do ano de aniversário da Laudato si’ estão programadas para encerrar com um congresso de 20 a 22 de maio de 2021 em Roma.
Como parte das atividades desse ano de aniversário, também será lançada uma “Plataforma de Ação Laudato Si’”, com várias instituições que se comprometerão com um projeto de sete anos voltado a alcançar a sustentabilidade total no espírito da Laudato si’.
A iniciativa foi projetada para envolver famílias, dioceses e paróquias locais, escolas, faculdades e universidades, hospitais e outros centros de saúde, empresas, fazendas e ordens e províncias religiosas na elaboração de planos para uma vida sustentável daqui para frente.
Entre os objetivos da plataforma, de acordo com o Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano, estão a adoção de estilos de vida mais simples e o desenvolvimento de uma “economia ecológica” baseada na produção sustentável, no comércio justo, no uso de menos plástico e na adoção de uma dieta mais baseada em vegetais para reduzir o consumo de carne, assim como um uso mais amplo do transporte público, a fim de reduzir a poluição.
De acordo com o seu comunicado, o escritório de desenvolvimento do Vaticano pretende lançar a plataforma no início de 2021, convidando várias instituições para iniciar o projeto de sete anos. No ano seguinte, eles vão incentivar um novo grupo a participar, com a esperança de dobrar o número de entidades comprometidas com o plano de sete anos.
“Dessa forma, estamos planejando desenvolver uma rede inspirada na Laudato si’ que continue se expandindo e crescendo exponencialmente a cada ano”, disseram eles, observando que essa iniciativa continuará a cada ano consecutivo da nova década, com o objetivo de chegar à “massa crítica” necessária para liderar uma “transformação social radical” inspirada pelo Papa Francisco na Laudato si’.
Também será criada e montada uma série de “Prêmios Laudato Si’” a partir de 2021, a fim de “encorajar e promover ações individuais e comunitárias concertadas para o cuidado da casa comum e para reconhecer algumas das melhores práticas nesse sentido”.
Esses prêmios serão entregues a famílias, líderes globais, instituições de ensino, escolas e universidades, paróquias, dioceses, comunidades religiosas, movimentos e empresas, assim como uma série de outros indivíduos e entidades em uma tentativa de encorajar as melhores práticas ambientais.
Em uma oração especial elaborada para o 5º aniversário da Laudato si’, pede-se que Deus “abra as nossas mentes e toque os nossos corações”, para que a humanidade possa cuidar adequadamente das necessidades da criação.
“Ajudai-nos a ser conscientes de que a nossa casa comum pertence não apenas a nós, mas a todas as suas criaturas e todas as futuras gerações, e que é nossa responsabilidade preservá-la”, diz a oração, pedindo que cada pessoa guardem apenas a quantidade de comida e recursos de que precisam, e não mais.
A oração pede que Deus esteja próximo dos pobres e inspire uma maior solidariedade ao lidar com as consequências da pandemia do coronavírus. Também pede que a humanidade tenha a coragem de “abraçar as mudanças que são necessárias na busca do bem comum”.
“Fazei com que possamos escutar e atender ao grito da terra e ao grito dos pobres”, diz, pedindo que “estes sofrimentos atuais sejam as dores de parto de um mundo mais fraterno e sustentável”.
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Vaticano lança celebração do ano da Laudato si’ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU