15 Abril 2020
“Os países ricos estão injetando bilhões de dólares em suas próprias economias e sistemas de seguridade social para manter pessoas e empresas em atividade, mas haverá um enorme apoio financeiro internacional coordenado para os países em desenvolvimento combaterem a COVID-19? Ou estamos nisso juntos ou ninguém está seguro. Nada além de uma resposta global derrotará esse vírus agressivo”, escreve Winnie Byanyima, diretora executiva do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), em artigo publicado por ONU Brasil e reproduzido por EcoDebate, 14-04-2020.
Em artigo, a diretora-executiva do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), Winnie Byanyima, demonstra preocupação com o impacto da COVID-19 na África e nas pessoas vivendo com HIV/Aids. Ela afirma que a falta de investimento nos sistemas de saúde, as dívidas crescentes e a enorme sonegação de impostos corporativos, deixaram o continente mal preparado para enfrentar esta emergência.
O surto da COVID-19 está pressionando sistemas sofisticados de saúde na Europa e Ásia, com equipes médicas sobrecarregadas lutando para tratar seus pacientes, e instalações de terapia intensiva sobrecarregadas nos países ricos. Imagine, então, o que acontecerá com os sistemas de saúde na África quando o vírus chegar aqui.
A crise está expondo desigualdades gritantes entre ricos e pobres no mundo desenvolvido, e está prestes a refletir desigualdades ainda maiores entre o Norte e o Sul. Nós precisamos agir.
A falta de investimento na infraestrutura social da África, incluindo seus sistemas de saúde, dívidas crescentes e enorme sonegação de impostos corporativos, deixaram o continente mal preparado para enfrentar esta emergência. Sem a prestação de serviços de saúde pública, as pessoas são expostas a doenças.
Os custos para acessar os serviços de saúde negam às pessoas comuns o direito à saúde. Este é o momento de acabar com estes custos. Os países ricos estão injetando bilhões de dólares em suas próprias economias e sistemas de seguridade social para manter pessoas e empresas em atividade, mas haverá um enorme apoio financeiro internacional coordenado para os países em desenvolvimento combaterem a COVID-19? Ou estamos nisso juntos ou ninguém está seguro. Nada além de uma resposta global derrotará esse vírus agressivo.
Também estou preocupada com o que a COVID-19 pode significar para pessoas com HIV/Aids. Duas em cada três pessoas vivendo com HIV em todo o mundo residem na África Subsaariana. Milhões ainda desconhecem seu estado sorológico e não estão em tratamento. Sabemos que os idosos e aqueles com doenças cardíacas e pulmonares preexistentes, incluindo as pessoas que vivem com HIV, estão em maior risco. Portanto, é essencial que as pessoas com HIV/Aids sigam as mesmas orientações para evitar o vírus que a população em geral. Além disso, nunca foi tão importante testar pessoas para o HIV e proporcioná-las o tratamento antirretroviral.
Para as pessoas que vivem com HIV/Aids, e que já estão em tratamento, os governos devem seguir as diretrizes recomendadas pela Organização Mundial da Saúde de dispensação de medicamentos para vários meses. Isso ajudará a aliviar a carga nas unidades de saúde quando a COVID-19 chegar e permitirá que as pessoas mantenham seus regimes de tratamento ininterruptamente, sem correr o risco de aumentar a exposição ao vírus para coletar seus medicamentos. Devemos garantir que grupos vulneráveis de pessoas vivendo ou afetadas pelo HIV/Aids não sejam esquecidos na pressa de lidar com a crise do coronavírus.
Durante esta situação grave e difícil, o UNAIDS está trabalhando em estreita colaboração com redes de pessoas vivendo com HIV em todo o mundo para garantir que suas inquietações sejam ouvidas e que possam trazer soluções para a mesa. Continuaremos a fazê-lo ao longo desta crise.
A resposta à COVID-19 na África e em todo o mundo deve ser fundamentada nos direitos humanos. Já houveram incidentes em todo o mundo em que indivíduos ou comunidades estão sendo responsabilizados pelo vírus. Isso deve parar. É errado e contraproducente para o bem público em geral. Vamos aprender as lições da resposta ao HIV/Aids e entender que o estigma e a discriminação irão atrasar os esforços para enfrentar essa pandemia.
Na resposta à epidemia de HIV/Aids, os serviços liderados pela comunidade foram essenciais para os nossos avanços mais importantes na prevenção de novas infecções e no tratamento de pessoas. Na resposta à COVID-19, as comunidades, sem dúvida, entrarão nessa brecha, e as autoridades de saúde pública devem se envolver com elas agora e criar confiança para a batalha que se aproxima. Não venceremos sem as comunidades. São as comunidades que projetarão e implementarão suas próprias medidas de prevenção específicas ao contexto, nos mercados, nos ônibus, nos funerais.
Como vimos na resposta ao HIV/Aids, na maioria das vezes, as mulheres ficarão com a responsabilidade de cuidar dos doentes e garantir que seus filhos e comunidades estejam o mais seguras possível. Devemos garantir que os recursos fluam para elas, para que possam continuar seu importante trabalho, para que sejam justamente recompensadas e que suas famílias permaneçam financeiramente seguras.
Eu gostaria que estivéssemos em um lugar diferente. Em um lugar que todos tivessem direito à saúde e que estivéssemos em uma posição mais forte para enfrentar esse novo desafio. Esse debate continuará e minha voz permanecerá forte. Por enquanto, devemos fazer o melhor possível para nossas comunidades. Vamos ajudar e apoiar um ao outro durante esse tempo — estamos todos juntos nisso e venceremos esse vírus através da solidariedade, compaixão e bondade.
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COVID-19 expõe desigualdades gritantes entre ricos e pobres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU