06 Abril 2020
Pela primeira vez até onde a memória alcança, um papa celebrou uma liturgia de Domingo de Ramos sem a participação do povo, como fez o Papa Francisco na manhã desse domingo em uma Basílica de São Pedro praticamente vazia. A Semana Santa começa em meio à pandemia do coronavírus, que levou a severas restrições ao movimento impostas a quase a metade da população mundial.
A reportagem é de Gerard O’Connell, publicada em America, 05-04-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Papa Francisco celebrou a liturgia no altar da cátedra de São Pedro, na abside atrás do altar principal. Atrás dele, estava pendurado o crucifixo milagroso da Igreja de São Marcelo, em Roma, que foi carregado pelas ruas na época da peste em 1522 e ao qual se atribuiu o fim da calamidade. Ao lado do crucifixo, estava a muito venerada imagem bizantina de Nossa Senhora, a protetora de Roma (“Salus Populi Romani”), que normalmente fica na Basílica de Santa Maria Maior. Credita-se a ela o fato de ter salvado os romanos de uma peste no século VI e de uma epidemia de cólera no século XIX. Essas imagens permanecerão na Basílica de São Pedro durante toda a Semana Santa.
Na manhã desse domingo, o Papa Francisco iniciou a liturgia abençoando uma palma artesanal e depois caminhou com ela até o altar sem a procissão tradicional. Ele celebrou a missa em italiano, enquanto um Coro Sistino reduzido em cerca de nove homens – que ficaram distantes uns dos outros – cantou o Credo, o Santo e outras orações em canto gregoriano. Não houve a procissão das oferendas nem o beijo da paz.
Em sua homilia, o Papa Francisco procurou encorajar a sua audiência global de incontáveis milhões de pessoas que estavam acompanhando essa celebração única pela televisão, rádio ou mídia social. Com base no relato do Evangelho da paixão e crucificação de Jesus, ele lembrou que Jesus “desceu ao abismo dos nossos sofrimentos mais atrozes, até a traição e o abandono”, e disse que, a partir dessa experiência, a mensagem de Jesus para nós hoje é a seguinte: “Não tema, você não está sozinho. Eu experimentei toda a sua desolação para estar sempre ao seu lado”.
“Hoje, no drama da pandemia, diante de tantas certezas que desmoronaram”, disse Francisco, “diante de tantas expectativas traídas, no senso de abandono que nos aperta o coração, Jesus diz a cada um: ‘Coragem, abra o seu coração ao meu amor. Você sentirá a consolação de Deus que o sustenta’.”
Ele disse à pequena congregação de cerca de 30 pessoas na basílica, afastadas umas das outras, e à grande audiência global que Jesus “nos serviu até provar a traição e o abandono” e que “estamos no mundo para amar a Ele e aos outros. O resto passa, isso permanece”.
Francisco acrescentou que “o drama que estamos atravessando neste tempo nos impulsiona a levar a sério aquilo que é sério, a não nos perdermos em coisas de pouca importância; a redescobrir que a vida não serve se não se serve. Porque a vida é medida pelo amor”.
E continuou:
“Então, nestes dias santos, em casa, fiquemos diante do Crucificado, medida do amor de Deus por nós. Diante de Deus que nos serve até dar a vida, peçamos, olhando para o Crucificado, a graça de viver para servir. Busquemos contatar quem sofre, quem está sozinho e necessitado. Não pensemos apenas naquilo que nos falta, pensemos no bem que podemos fazer.”
Nesse ponto, Francisco se voltou para os jovens do mundo inteiro. Ele lembrou que, nos últimos 35 anos, o Domingo de Ramos tem sido dedicado a eles em memória do fato de que os jovens haviam acolhido Jesus em sua entrada em Jerusalém.
“Queridos amigos, olhem para os verdadeiros heróis, que nestes dias vêm à tona”, disse Francisco. “Não são aqueles que têm fama, dinheiro e sucesso, mas sim aqueles que doam a si mesmos para servir aos outros. Sintam-se chamados a colocar as suas vidas em jogo. Não tenham medo de gastá-la por Deus e pelos outros.”
No fim da missa, o Papa Francisco cumprimentou todos os que estavam acompanhando a celebração pela televisão, rádio ou mídia social. “Caminhemos juntos com fé nesta Semana Santa, na qual Jesus sofreu, morreu e ressuscitou”, disse ele. Ele encorajou as pessoas que não podem participar das celebrações litúrgicas desta semana a “se reunirem em suas casas em oração”, também com a ajuda das mídias sociais.
Ele as exortou a “estarem espiritualmente próximas de quem está doente, das suas famílias e de todos os que cuidam deles de forma altruísta”. Ele pediu a todos que “rezem por aqueles que morreram” e assegurou às pessoas em todo o mundo que “cada um está presente em nosso coração, em nossa lembrança, em nossa oração”. Ele também os encorajou a rezar a Nossa Senhora, “que caminha conosco e sustenta a nossa esperança neste momento”.
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Mensagem do papa no Domingo de Ramos: “Não tenham medo. Vocês não estão sozinhos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU