25 Março 2020
"De um lado, o governo presidido por ele traça medidas; do outro, ele se insurge contra esse mesmo governo, que na sua possível insanidade não deve ser respeitado. Jair presidente contra Jair rebelde. Ele contra ele mesmo, num mundo circular fechado, que para Chesterton era o espaço dos loucos. Não é um caso claro de interdição psiquiátrica?", questiona Luiz Alberto Gomez de Souza, sociólogo.
A fala de um desequilibrado, esta noite, superou todos os limites. Pediu o fim do confinamento e a reabertura das escolas, contra as medidas do seu próprio governo. Um caso típico de esquizofrenia. De um lado, o governo presidido por ele traça medidas; do outro, ele se insurge contra esse mesmo governo, que na sua possível insanidade não deve ser respeitado. Jair presidente contra Jair rebelde. Ele contra ele mesmo, num mundo circular fechado, que para Chesterton era o espaço dos loucos. Não é um caso claro de interdição psiquiátrica?
Depois disso, o ministro da saúde teria que se demitir. Feliz com a fama adquirida, possivelmente não o fará. Guedes e Moro estão calados. São eles que contam para os setores dominantes. A Globo trocou claramente de lado. No Jornal Nacional desta noite a Globo deu luz verde, assim como, meio sem graça, os tais de analistas da Globo News. Jair não se dá conta de que os ventos mudaram?
Puxando pela memória, lembro o que aconteceu em Brasília na noite de 2 para 3 de abril de 1964. O presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declarou vaga a presidência da República e empossou, rapidamente na madrugada, o presidente da Câmara, Ranieri Mazzili. Foi um golpe civil-militar, Jango ainda estava no Brasil.
Agora passo a um exercício de imaginação. O atual presidente do Senado, o pacato Davi Alcolumbre, acaba de fazer uma inesperada declaração dura. O presidente da Câmara fica na moita e parece esperar. Alcolumbre repetiria Auro e declararia vaga a presidência, desta vez por insanidade, convocando Rodrigo Maia? À primeira vista de pouca credibilidade.
Porém sigo imaginando. O Supremo, na base de um laudo rabiscado por três psiquiatras, referendaria a declaração de insanidade. Os partidos, em apertada maioria e bom número de governadores, também apoiariam. Os panelaços por todo o país poderiam ser um forte pano de fundo.
Quem estaria ao lado de Bolsonaro? Seus filhos e seu gabinete do ódio. Um bando de desvairados sem poder real.
Dois atos revestidos de ilegalidade? Em 64 foi claramente um golpe antidemocrático. Agora, talvez uma medida profilática. desenhada às pressas, para salvar o governo de mãos ensandecidas. Não seria a primeira vez que se fariam subterfúgios legais. Como o parlamentarismo que empossou Jango.
Ainda continuando livremente com a imaginação, lembrei-me do notável conto de Machado de Assis, O alienista. Ali, o médico Simão Bacamarte vai declarando insana, uma a uma, a população de Itaguaí e a vai confinando. Como Simão se considerava o único são, achou então mais prático soltar a população doida e encerrar-se no hospício local, para se preservar da loucura circundante. Quem sabe se Jair, num gesto de autodefesa, não se fecha no segundo andar do Planalto com seus filhotes, fugindo de uma perigosa contaminação esquerdista.
Aliás, seguindo ainda com uma imaginação solta, não parece ficar mais cristalina aquela facada em Juiz de Fora, quem sabe encomendada pelo candidato ou por um dos seus filhos, a um demente que teria errado na profundidade do talho? E seguimos com o tema dos doidos. Bendita facada, que fez do candidato um herói e uma vítima e o eximiu de debater ideias que possivelmente não as tinha.
São pensamentos soltos, numa madrugada, depois de ouvir, perplexo, em cadeia nacional, o Presidente da República.
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Insanidade. É agora ou nunca? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU