Faggioli, professor de Teologia e Estudos Religiosos da Universidade de Villanova, na Filadélfia, EUA, analisa Querida Amazônia e reconhece “a diferença entre a exortação e o documento final do Sínodo Pan-Amazônico”.
No documento se vê o Papa mais inclinado à aprovação de um rito próprio amazônico que a solucionar a falta de visibilidade da mulher na Igreja ou aprovar os viri probati.
“A impressão é que o capítulo 4 não foi escrito pela mesma mão que os outros três”, diz Faggioli.
A reportagem é de Lucía López Alonso, publicada por Religión Digital, 17-02-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Historiador da Igreja, Massimo Faggioli é professor de Teologia e Estudos Religiosos da Universidade de Villanova, na Filadélfia. Entrevista pelo jornal italiano Quotidiano, ofereceu sua interpretação da exortação pós-sinodal Querida Amazônia, do papa Francisco, a qual tem muitos pontos polêmicos.
Completamente de acordo com o profetismo de Francisco na “parte político-ecológica” da exortação, que segue a linha da Laudato Si’, não escondeu que entende a crispação dos que esperavam, depois da publicação do documento, uma ampla reforma eclesial, que reconhecesse o diaconato feminino, a ordenação de homens casados e a instituição de um rito amazônico específico.
“Certamente, a diferença entre sua exortação e o documento final do Sínodo sobre a Amazônia criou um vazio”, reconhece Faggioli, explicando que a exortação não reflete “uma aprovação explícita” das reformas propostas ainda antes da inauguração do Sínodo, nos grupos de trabalho prévios ao evento no Vaticano.
Reforma na Amazônia
O cenário que se apresenta, nas palavras de Faggioli, dependerá dos próximos movimentos das Igrejas locais da região amazônica, posto que em Querida Amazônia se vê o Papa mais inclinado à aprovação de um rito próprio da Amazônia que a solucionar a falta de visibilidade da mulher na Igreja ou aprovar os viri probati.
Um texto decepcionante e um pouco confuso
O professor comentou que o texto de Francisco carrega uma certa confusão: “a impressão é que o capítulo 4 não foi escrito pelas mesmas mãos que os outros três”; demonstrou temor: “creio que o medo de uma ruptura na unidade católica teria seu peso”; e decepcionou, sobretudo, o episcopado sul-americano “que apoia Bergoglio e trabalhou duro antes e durante a assembleia”.
Não obstante, ponderou que, apesar de não acolher as propostas votadas pelo Sínodo, Francisco “tampouco as rejeita” e mantém a porta aberta a medidas progressistas. “Bergoglio não é como Montini ou Wojtyla, que se expressaram em termos definitivos”, concluiu.
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“Bergoglio não é como Montini ou Wojtyla”, avalia Massimo Faggioli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU