17 Fevereiro 2020
Na década de 1960, após o fim da guerra da Coreia (1950-1953), a economia da Coreia do Sul estava completamente arrasada. Seu PIB per capita (a riqueza produzida anualmente por um país dividido pelo seu número de habitantes) era a metade do brasileiro.
Bastou menos de uma década para que a Coreia do Sul igualasse a marca do Brasil. E, meio século depois, o PIB per capita sul-coreano é três vezes superior ao brasileiro.
A reportagem é publicada por BBC News, 16-02-2020.
Com investimentos maciços em educação e produtividade do trabalhador, a Coreia do Sul sempre foi considerada por muitos especialistas como um "modelo a ser seguido" pelo Brasil e outras nações em desenvolvimento. Um sinônimo de inovação tecnológica.
Atualmente, o país figura entre as 15 maiores economias do mundo. Ali, a expectativa de vida, já bastante alta inclusive para os padrões dos países desenvolvidos, deve chegar a 90 anos em 2030, superando a do Japão, atual recordista mundial. Quase metade da população sul-coreana tem Ensino Superior. A taxa de desemprego também é baixa: 3,6%.
No entanto, a jornada da Coreia do Sul rumo ao rol dos países mais ricos do mundo talvez não tivesse sido possível sem os bilhões de dólares injetados pelos Estados Unidos após o fim do conflito, em meio à Guerra Fria — a disputa com a extinta União Soviética por áreas de influência no mundo.
Tampouco sem a mão-de-ferro do Estado. Alçado ao comando do país por meio de um golpe militar, o então presidente Park Chung-hee (1963-1979) decidiu descartar as orientações americanas e investir o dinheiro na formação de grandes conglomerados controlados por um grupo restrito de famílias - os chamados chaebols (ou campeões nacionais).
Foram assim lançadas as bases para um amplo programa de desenvolvimento industrial, que tem em multinacionais como Samsung ou Hyundai alguns de seus principais expoentes - e que, segundo alguns especialistas, tem encorajado esquemas de corrupção.
Oscar
Parasita, o primeiro longa falado em outro idioma que não o inglês a ganhar o Oscar de Melhor Filme, lança luz sobre o legado que décadas de desenvolvimento deixaram à sociedade sul-coreana, ao pintar um retrato ácido das relações entre pobres e ricos no país.
O filme é uma crítica às nítidas diferenças de classe em uma sociedade capitalista e desigual, ainda que bem diferente do Brasil, onde mansões coexistem com favelas, e Estados Unidos, onde o 1% mais rico acumula 20,3% da riqueza do país, segundo dados da ONU. No Brasil essa relação mostra que o 1% mais rico detém 28,3% da riqueza total, a segunda maior concentração de renda, atrás apenas do Catar onde o 1% mais rico da população fica com 29% da riqueza nacional.
Na Coreia do Sul, o 1% da população detém apenas 12,2% da riqueza do país.
Apesar da menor desigualdade, muitos sul-coreanos não estão felizes com a situação atual: três em cada quatro jovens entre 19 e 34 anos querem deixar o país, de acordo com uma pesquisa publicada em dezembro pelo jornal The Hankyoreh.
Shin Hyun Bang, professor de Estudos Urbanos da London School of Economics (LSE), especializado em Ásia, explica que o país passou por grandes mudanças nos últimos 20 anos que ainda não foram assimiladas.
Depois de quase duas décadas crescendo anualmente em média 9% ao ano, a Coreia do Sul foi um dos países mais atingidos pela crise financeira asiática que eclodiu em 1997. No ano seguinte, seu PIB registrou uma queda de mais de 5%, segundo dados do Banco Mundial.
"Como o desenvolvimento do país foi muito rápido durante o século 20, há uma memória vívida entre as gerações mais adultas de oportunidades a que tiveram acesso nos anos 1970 ou início dos anos 1990, quando a economia se expandiu e os empregos ofereciam segurança", diz Shin à BBC Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC.
"Mas, desde então isso mudou, tornando o nível de desigualdade maior que a meta", acrescenta.
A íntegra da reportagem pode ser acessada aqui.
Leia mais
- Além do que se vê. Crítica do filme "Parasita", por João Ladeira. Revista IHU On-Line Nº 545
- “Quanto mais extremo o capitalismo, mais extrema é a desigualdade”, afirma diretor do filme Parasita
- Parasita: o cheiro ao redor
- “Parasita”, uma diversão sem limites. Também para quem gosta de filmes inteligentes
- 1% dos mais ricos possuem 45% de toda a riqueza pessoal global; os 50% mais pobres ficam com menos de 1%, segundo relatório do Credit Suisse
- Desigualdades, Oxfam: “2.153 super-ricos possuem mais do que outros 4,6 bilhões de pessoas. Enquanto os 50% mais pobres têm menos de 1%”
- Pobreza, desigualdade e precariedade. “O capitalismo faz mais mal do que bem”
- Desigualdade entre ricos e pobres é a mais alta registrada no Brasil
- Metade dos brasileiros vive com R$ 413 mensais
- A profundidade da atual crise social. Artigo de Waldir Quadros
- “É assustadora a bomba-relógio que temos pela frente”. 80% dos trabalhadores brasileiros são pobres e vivem com renda de até 1.700 reais. Entrevista especial com Waldir Quadros
- Desigualdade bate recorde no Brasil, aponta estudo da FGV
- 1% mais rico ganha 36 vezes o que ganha a metade mais pobre da população
- Renda do 1% mais rico é 36 vezes a da média da metade mais pobre, diz IBGE
- Brasil tem maior concentração de renda do mundo entre 1% mais rico
- Renda do trabalhador mais pobre segue em queda e ricos já ganham mais que antes da crise
- No topo da pirâmide brasileira, 270 mil pessoas compõem o 1% mais rico. Entrevista especial com Rodrigo Orair
- As razões da desigualdade de renda do trabalho são políticas, e não educacionais. Entrevista especial com Rogério Barbosa
- Pobreza aumenta e atinge 54,8 milhões de pessoas em 2017 - Síntese de Indicadores Sociais
- Desigualdade piora em 4 das 5 regiões do País em 2017, aponta IBGE
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O lado obscuro da Coreia do Sul, descrita como 'modelo' a ser seguido pelo Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU