24 Janeiro 2020
Apesar do fato de Roma ter cerca de 900 igrejas católicas, encontrar uma que esteja aberta para oração a qualquer momento pode ser desafiador. Algumas mantém o horário de expediente, mas a maioria abre só na hora das missas.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 22-01-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
No entanto, em dezembro passado houve uma igreja que ficou aberta 24 horas por dia, sete dias por semana, com adoração eucarística e uma equipe de oito a dez voluntários os quais, juntos com o pároco, certificam-se de sempre haver alguém disponível para receber os que precisam de uma mão amiga.
“Este projeto não é só para os pobres”, disse Roberta, voluntária na Igreja dos Santíssimos Estigmas de São Francisco, no começo desta semana ao mostrar um dormitório recém-inaugurado para cerca de 30 sem-tetos.
“Se viermos aqui à noite, vamos ver que sempre tem alguém rezando”, disse ela ao sítio Crux. “Normalmente são pessoas sem-teto. Eles em geral são jovens, que buscam por Deus. Eu sempre fico na esperança de que eles O encontrem aqui. E se precisarem, vão encontrar também um rosto sorridente e o conforto de saber que não só Deus está disposto a ouvi-los”.
Além de ficar aberto o dia todo e disponibilizar um lugar para dormir, a igreja conta ainda com banheiros, uma lavanderia e oferece café da manhã diário a cerca de 200 pessoas. Quando inaugurada em fins de dezembro, a iniciativa contou com a presença do cardeal vigário de Roma, Angelo de Donatis, e do Cardeal Carlos Osoro, de Madri.
Localizada no centro histórico da cidade, a poucos passos do Panteão e da Piazza Navona, o projeto é administrado pela ONG católica espanhola Mensajeros de la Paz. Fundada em 1962 pelo Pe. Ángel García, hoje a associação tem dezenas de lares para idosos na Espanha, organiza um sopão comunitário e gerencia centros formativos.
No início desta semana, antes de inaugurar o dormitório em Roma, García encontrou-se com o Papa Francisco na Casa Santa Marta, residência onde o papa vive no Vaticano, tendo também participado da missa matinal diária do pontífice.
“Em um encontro com o papa, às vezes ficamos sem palavras porque, sabe como é, ele é o representante ‘lá de cima’”, contou García aos jornalistas. “Mas já que é um papa com muito carisma, ficou fácil dividir com ele o projeto da Igreja Aberta 24 Horas, o que fazemos aqui e as pessoas que batem à nossa porta todos os dias”.
Muito embora o projeto seja recente demais para que seja possível mensurar o seu sucesso em Roma, García coordena uma igreja semelhante no centro de Madri e sabe que as pessoas que se aproximam de uma igreja aberta 24 horas o fazem não só pedir ajuda ou descansar, mas também para rezar.
“Embora as pessoas achem que estas igrejas estão abertas só para os ‘materialmente pobres’, não é bem assim”, disse García. “O que acontece é que, às vezes, estes são os únicos lugares que os que nada têm podem entrar sem ser julgados”.
“Projetos como estes são um sinal visível de uma sociedade que não está adoecida, como muitas vezes ouvimos”, disse ele. “Pelo contrário, ela está saudável e cheia de valor. Qualquer porta em que batermos, sempre haverá alguém disposto a ajudar, a ser caridoso com o próximo”.
Só em Roma existem cerca de 5 a 6 mil sem-tetos, muitos dos quais vivem nas redondezas do Vaticano – com várias tendas muitas vezes visíveis por debaixo das famosas colunatas de Bernini. Ano passado, o Cardeal Konrad Krajewski, responsável pelas atividades caritativas do papa, abriu uma nova residência aos desabrigados nas proximidades Vaticano, em um edifício historicamente conhecido como o Palazzo Migliori.
Do lado de fora da Igreja dos Santíssimos Estigmas de São Francisco há uma placa que convida as pessoas a entrar, com uma citação de Francisco, em que se lê: “As Igrejas sempre devem ter as portas abertas, porque isso é símbolo do que é uma Igreja, sempre aberta”.
Uma outra placa, com uma imagem do pontífice em pose de oração, diz: “Peço-vos perdão por todas as vezes que nós, cristãos, diante de uma pessoa pobre ou de uma situação de pobreza olhamos para o outro ado”.
Em dezembro, quando as portas da paróquia foram oficialmente abertas 24 horas por dia, o pontífice enviou a García uma carta em agradecimento pela iniciativa de “oferecer um serviço da Palavra de Deus que pode ajudar os que veem esta casa de oração como um lar comum para construir, juntos, um porto onde todos são bem-vindos e de onde podem sair para encarar a aventura maravilhosa da vocação cristã”.
“Desejo que a Casa de Deus sempre tenha as portas abertas porque ela caminha entre os povos, na história dos homens e mulheres”, escreveu o papa. “Se não, as igrejas com portas fechadas deveriam se chamar museus”.
Uma comunidade eclesial, escreveu Francisco na carta, é uma “tenda” capaz de crescer tanto que “todo mundo pode entrar, encontrar um oásis de paz no amor de Deus, um lugar de acolhimento, reconciliação e perdão”.
“Tudo se resume à misericórdia”, disse García aos jornalistas segunda-feira passada. “Como Francisco falou no começo de seu pontificado: necessitamos de uma Igreja pobre para os pobres, mas nunca esquecendo da misericórdia, que precisamos aplicar não só ao modo como tratamos o próximo, mas também a nós mesmos”.
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Paróquia em Roma abre as portas aos pobres, 24 horas por dia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU