15 Janeiro 2020
"O presidente brasileiro Jair Bolsonaro suspendeu a proibição do cultivo de cana-de-açúcar na Amazônia por decreto em novembro de 2019 para ajudar a impulsionar a produção de biocombustíveis do país", escrevem Lucas Ferrante, biólogo pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), mestre e doutorando em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), e Philip Martin Fearnside, doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA), pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM), membro da Academia Brasileira de Ciências e pesquisador 1A de CNPq e recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em 2007, pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), em artigo publicado por Amazônia Real, 13-01-2020.
Em 07 de janeiro de 2020 a Nature, que é a revista científica com maior fator de impacto no mundo, publicou um breve texto nosso de “correspondência” [1], cuja tradução se segue:
A comunidade científica, os formuladores de políticas do Brasil e o público geral precisam tomar medidas coordenadas contra os planos de ampliação da produção de biocombustíveis à custa da floresta amazônica. O presidente brasileiro Jair Bolsonaro suspendeu a proibição do cultivo de cana-de-açúcar na Amazônia por decreto em novembro de 2019 para ajudar a impulsionar a produção de biocombustíveis do país.
Os planos para produzir mais óleo de palma (dendê) para biocombustível no estado de Roraima seguem, onde foi inaugurada uma usina de beneficiamento em abril do ano passado. No oeste do estado do Amazonas, novas estradas poderiam abrir áreas anteriormente inacessíveis para plantações de dendê e impulsionar outros ciclos devastadores de desmatamento.
Depois que o presidente assumiu o cargo em janeiro de 2019 [2], um consórcio do governo anunciou investimentos de 4,4 bilhões de reais (US $ 1,1 bilhão) em seis estados da Amazônia – Amazonas, Acre, Amapá, Mato Grosso, Rondônia e Roraima – para instalação de usinas movidas a etanol de milho.
O etanol de milho foi escolhido por causa da proibição da produção de cana-de-açúcar, introduzida para conter o desmatamento e a perda de serviços ecossistêmicos essenciais para a agricultura brasileira e para mitigar as mudanças climáticas globais [3].
A suspensão da proibição aumenta a já enorme pressão sobre a floresta tropical vindo da pecuária, produção de soja, represas hidrelétricas e mineração.
Notas:
[1] Ferrante, L. & P.M. Fearnside. 2020.Brazil’sbiofuel plans drive deforestation. [Versão Online: The Amazon: Biofuel plans will drive deforestation] Nature 577: 170.
[2] Nobre, C.A. 2019 To save Brazil’s rainforest, boost its science. Nature 574: 455.
[3] Ferrante, L. & P.M. Fearnside. 2018. Amazon sugarcane: A threat to the forest. Science 359: 1472.
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Os planos de biocombustíveis do Brasil impulsionam o desmatamento - Instituto Humanitas Unisinos - IHU