10 Dezembro 2019
Antonio Diéguez (Málaga, 58 anos) é professor de lógica e filosofia da ciência na Universidade de Málaga e autor de Transhumanismo. La búsqueda tecnológica del mejoramiento humano (Herder). Junto com o economista Enrique Benítez, ontem, deu uma palestra na República das Letras [Córdoba, Espanha], no marco do ciclo “O mundo que vem”.
A entrevista é de Pillar Cobos, publicada por Diario Córdoba, 04-12-2019. A tradução é do Cepat.
O transumanismo defende o uso da tecnologia para melhorar o ser humano, seria algo semelhante ao que já é feito com os alimentos?
Não exatamente. O transumanismo é uma corrente filosófica e cultural que está sendo colocado muito em voga. O que pretende é aplicar a biotecnologia e a tecnologia da inteligência artificial ao próprio ser humano. A analogia com os alimentos é que, no futuro, poderiam criar seres humanos transgênicos. Mas, a pretensão não é resolver nenhum problema concreto, mas, ao contrário, melhorar o ser humano através da tecnologia.
Seria possível perder a humanidade?
Esse é um dos perigos e o objetivo central dos transumanistas mais radicais, não se deve esquecer, é justamente esse: fazer com que a espécie humana deixe de existir e seja substituída por uma espécie pós-humana que melhoraria a nossa. Para os mais radicais, a pretensão é claramente a desumanização.
No entanto, em seu livro, procura lançar luzes para desfazer ideias falsas. Uma das conclusões seria que o transumanismo bem regulamentado poderia ajudar o ser humano?
Efetivamente. Procurei explicar em que medida algumas dessas promessas estão fundadas na ciência real e em que medida outras são mais típicas da ficção científica. Entre as promessas baseadas na ciência real, há algumas aproveitáveis, por exemplo, o aumento da longevidade de maneira moderada, da saúde e, inclusive, da inteligência. Não se deve estar completamente fechado para tais melhoras, mas é necessário analisá-las caso a caso, porque também existem grandes perigos que é preciso saber prevenir.
Este movimento tem algo de pessimista. Confia-se nas máquinas para a melhora do humano e não no próprio ser humano?
Consideram que as técnicas tradicionais que o ser humano utilizou para melhorar a si mesmo, como a educação, a cultura, a escrita etc., fracassaram. A visão que possuem do ser humano é muito pessimista. Por exemplo, consideram que o corpo nada mais é do que uma fonte de sofrimento, que finalmente tem que morrer e que isso deve ser evitado, seja como for. Então, alguns propõem colocar a nossa mente em uma máquina. Sou muito cético em relação a essa proposta, porque me parece que não possui nenhuma base científica.
Então, os transumanistas não consideram a velhice e o sofrimento como uma parte necessária da vida?
Pelo contrário, consideram que a morte é evitável. Querem, em um primeiro momento, alcançar um corpo biológico melhorado, capaz de ter uma extensão de vida indefinida, mas, finalmente, como poderia morrer, conseguir a transferência da mente para uma máquina.
Agora, fala-se do transumanismo, pós-verdade ... As pessoas sempre precisam ir além do que possuem?
O transumanismo é uma manifestação do modo de sociedade que criamos. Trata-se de mercantilizar o próprio corpo humano, de transformá-lo em um objeto a mais de consumo e de sempre estar almejando novas situações. É uma consequência bastante extrema de uma mentalidade capitalista e neoliberal.
Tendo em conta promessas como a imortalidade, seria uma nova forma de religião?
Tornou-se isso para alguns, sim. De fato, já existe uma igreja transumanista nos Estados Unidos.
O Instituto Humanitas Unisinos – IHU promove o seu XIX Simpósio Internacional. Homo Digitalis. A escalada da algoritmização da vida, a ser realizado nos dias 19 a 21 de outubro de 2020, no Campus Unisinos Porto Alegre.
XIX Simpósio Internacional. Homo Digitalis. A escalada da algoritmização da vida.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Alguns propõem colocar a mente em uma máquina”. Entrevista com Antonio Diéguez - Instituto Humanitas Unisinos - IHU