09 Dezembro 2019
Donald Trump justificou a decisão de cobrar mais impostos do aço brasileiro vendido nos Estados Unidos com a alegação de que o Brasil deixou o valor do real cair demais em relação ao dólar e isso prejudica os fazendeiros americanos na disputa por mercados. Terá sido esse o único motivo para Trump agir feito amigo da onça com Jair Bolsonaro?
A reportagem é de André Barrocal, publicada por CartaCapital, 08-12-2019.
Ex-ministro da Defesa e das Relações Exteriores, Celso Amorim suspeita de algo bem maior. “Tem alguma relação com a reaproximação de Brasília com a China? Não sei, pode ser. Talvez seja um recado em relação à tecnologia 5G, à expansão da Huawei por aqui. De qualquer forma, acho que o Brasil vai ser o principal palco da maior batalha tecnológica e comercial do século 21”, disse a CartaCapital.
Após passar a eleição a falar mal da China, Bolsonaro agora tenta se dar bem com o maior parceiro comercial brasileiro. Esteve lá em outubro. Em 13 de novembro, almoçou em Brasília com o líder chinês, Xi Jinping, que viera para a reunião de cúpula dos Brics.
Cinco dias depois, recebeu os presidentes da empresa chinesa Huawei no Brasil, Wei Yao, e na América Latina, Zou Zhilei. Conversou sobre a implantação aqui do 5G, que começa a decolar em certos cantos do planeta. Estima-se que já haja 13 milhões desse tipo de conexão, 10 milhões na China e 3 milhões na Coreia do Sul.
É uma tecnologia revolucionária. Permite que carros andem sozinhos e que a produtividade do solo seja medida durante uma colheita, por exemplo.
A Huawei é a maior fornecedora mundial de equipamentos de 5G e a segunda maior fabricante de celulares, atrás da sul-coreana Samsumg. É por isso que está no centro da briga de Trump com a China: uma luta sobre quem comandará a economia do futuro que bate à porta.
Há um ano, a diretora financeira da Huawei, Meng Wanzhou, era presa no Canadá, a pedido de Washington, que alegou que a executiva violara sanções impostas ao Irã. Meng é filha do militar que fundou a companhia em 1987, Ren Zhengfei.
A Huawei chegou ao Brasil em 1998, primeira operação fora da China, ao lado de um escritório na Rússia. Foi quem garantiu a infraestrutura de comunicação 4G na Copa de 2014 e na Olimpíada de 2016 no Rio. É a única que atua de ponta a ponta no 5G: fabrica antenas de transmissão de dados, equipamentos para as teles e smartphones.
O vice-presidente Hamilton Mourão foi à China em maio, viagem que ajudou a aparar as arestas de Bolsonaro com Pequim, e quando voltou comentou publicamente que o governo não vetaria a Huawei na implantação do 5G por aqui.
Mesmo sem veto, a companhia não participará do leilão. Quem vai “comprar” uma faixa do céu brasileiro para operar a nova tecnologia são as operadoras de telefonia. A bilionária licitação está em fase de preparação pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e tem chances de ocorrer no segundo semestre de 2020.
Em 26 de novembro, Bolsonaro recebeu outro grande interessado no tema, Börje Ekholm, CEO mundial da sueca Ericsson, fabricante de celulares. Um dia depois, a Comissão de Relações Exteriores da Câmara realizava, por obra do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, um debate sobre o 5G, com Huawei, Ericsson e a norte-americana Qualcomm, entre outros.
Quem observa os movimentos de Eduardo diz que ele, apesar de ter quase sido indicado pelo pai para o cargo de embaixador em Washington, não tem dado demonstrações de tentar favorecer os americanos.
Estes teriam feito chegar ao governo Bolsonaro, segundo o site Huffington Post, que não vão usar a base de lançamento de foguetes em Alcântara, se o Brasil aceitar a Huawei na operação do 5G. O acordo de aluguel da base aos EUA foi aprovado e promulgado em novembro. Uma das razões para Bolsonaro tê-lo levado adiante era financeira: ganhar dólares com o aluguel.
Os americanos têm disseminado a ideia de que a Huawei é uma ameaça à segurança nacional dos países que abrirem as portas para ela no 5G. A companhia estaria subordinada ao governo chinês, apesar de ser privada, e usaria seus equipamentos para espionar. Tio Sam sabe do que fala, vide a espionagem de sua agência nacional de segurança, a NSA, contra Dilma Rousseff e a Petrobras.
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“Brasil será o principal palco da maior batalha tecnológica e comercial do século 21” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU