21 Novembro 2019
O Vaticano segue adiante com a intervenção dos Arautos do Evangelho, a entidade eclesial nascida no Brasil, que se encontra, desde 25 de setembro, sob autoridade do cardeal Raymundo Damasceno, arcebispo emérito de Aparecida, nomeado comissário pontifício pelo papa Francisco.
A reportagem é publicada por Vida Nueva, 19-11-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Aprovados pela Santa Sé em 2001, como associação internacional de fiéis de direito pontifício, os Arautos defenderam no mês passado sua condição de entidade de caráter privado para não reconhecer Damasceno, pois o decreto vaticano falava erroneamente de associação pública de fiéis. Por isso, lembraram que, de qualquer forma, caberia intervir no Dicastério para os Leigos, Família e Vida, e não na Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica (CIVCSVA).
Segundo apurou Vida Nueva, os responsáveis desses dois “ministérios” da Santa Sé encontraram-se recentemente em Roma junto a seus homólogos da Congregação da Doutrina da Fé para analisar a resposta dos Arautos e seguir adiante com a intervenção. Essa estava motivada pelos supostos delitos, pecados e irregularidades na quais incorreram e que foram descobertas durante a visita apostólica, iniciada em junho de 2017.
Entre eles, destacam possíveis casos de abusos sexuais a menores, alienação parental, abusos de consciência e de poder, prática de exorcismos irregulares, culto fanático ao fundador e recebimento de doações sem autorização do bispo diocesano. Os Arautos negam de enfaticamente todas essas acusações, que estouraram diretamente no fundador, João Scognamiglio Clá Dias, religioso brasileiro, investigado pela CDF, como adiantou essa revista.
Depois da reunião entre os três organismos da Cúria Romana implicados, a Santa Sé enviou uma carta ao cardeal Damasceno e ao presidente desta entidade eclesial, Felipe Eugenio Lecaros Concha, na qual reafirma que a intervenção segue adiante e se destaca que a CIVCSVA tem a competência desse caso, pois o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida ratifica a delegação que já foi feita anteriormente.
Esse novo documento vaticano corrige o erro anterior ao falar da associação privada de fiéis e recorda finalmente que a nomeação do cardeal Damasceno como comissário pontifício foi aprovado diretamente pelo Papa.
Aos Arautos do Evangelho, que contam com duas sociedades de vida apostólica, a masculina Virgo Flos Carmeli e a feminina Regina Virginum, restam dois caminhos frente ao novo processo movido por Roma. Se aceitam a intervenção, lhes tocará ceder, em sua totalidade, as rédeas ao cardeal Damasceno e a seus assistentes, dom José Aparecido Gonçalves, bispo auxiliar de Brasília, e irmã Marian Ambrosio, superiora geral das Irmãs da Divina Providência. Os três liderarão um difícil caminho de renovação que, presumivelmente, levará à reforma das constituições, a nomeação de novos superiores e a configuração em marcha de possíveis processos individuais a alguns de seus membros.
Caso mantenham sua troca, o que suporia desafiar diretamente a autoridade do Papa, em Roma não se descarta uma supressão dos Arautos ou que se produza uma divisão interna que leve à saída de uma parte de seus membros. Entretanto, no Brasil continua a investigação da Justiça Civil a essa entidade eclesial a qual se rechaça já abertamente em parte da Igreja local.
Dom Irineu Andreassa, bispo da diocese de Ituiutaba, Minas Gerais, publicou um comunicado no mês passado no qual assegura que “não está de acordo” com a presença dos Arautos nesse território eclesial, nem tem permissão para realizar “nenhuma atividade religiosa”. “Não aprovamos, nem recomendamos, a adesão dos fiéis católicos a suas solicitações”, comentou dom Andreassa. Outras dioceses brasileiras como São Mateus, no Espírito Santo, se manifestaram no mesmo sentido.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Arautos do Evangelho. Vaticano retoma a intervenção - Instituto Humanitas Unisinos - IHU