29 Outubro 2019
Desmatamento, poluição e exploração intensiva e ilegal dos recursos naturais são problemas que não dizem apenas respeito à floresta amazônica. Em volta do rio Congo se encontra o segundo pulmão ecológico do planeta, também ameaçado. Nigrizia se encontrou com Richard Appora Ngalanibe, bispo da África Central, representante da Rede Eclesial da Florestal da Bacia do Congo.
A entrevista é de Anna Moccia, publicada por Nigrizia, 28-10-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Com 230 milhões de hectares, o equivalente a 6% das florestas do mundo, a bacia do Congo constitui o segundo pulmão ecológico do planeta e a principal reserva florestal do continente africano. Hoje, porém, também essas terras, como muitas na Amazônia, estão ameaçadas pelo desmatamento e pela poluição da indústria de mineração.
"É necessário que a comunidade internacional e as populações tomem consciência da importância de proteger esse segundo grande pulmão verde do planeta", adverte monsenhor Richard Appora Ngalanibe, bispo da diocese de Bambari, na República Centro-Africana. Juntamente com outros bispos, chegou a Roma para representar a Rede eclesial da Floresta da Bacia do Congo (Rebac), nascida no modelo da pioneira Rede Eclesial Pan-amazônica (Repam), para um trabalho conjunto que ultrapassa as fronteiras nacionais e também olhe para o pós-Sínodo.
Nigrizia o entrevistou para conhecer os detalhes dessa colaboração e divulgar suas reflexões sobre os problemas atuais e as oportunidades futuras do continente africano.
A rede eclesial para a bacia do rio Congo nasceu do exemplo da Rede eclesial pan-amazônica Repam. Como o senhor vê a colaboração entre essas duas entidades?
As duas redes buscam o mesmo objetivo: proteger nossa casa comum. Como o Papa ressaltou em sua encíclica Laudato Si', é importante sensibilizar sobre a importância de preservar essa bacia ecológica que é abundante em tantas potencialidades e biodiversidade. Certamente, a experiência da Repam nos oferece a oportunidade de ver, já a partir deste Sínodo, como trabalhar da melhor maneira possível para a proteção do meio ambiente que muitas vezes é ameaçado, inclusive nos nossos países.
Tantas problemáticas presentes na Amazônia são semelhantes às nossas. Por exemplo, a violações dos direitos das populações autóctones e a devastação abusiva das florestas e das riquezas naturais. É verdade que somos confrontados com duas realidades diferentes. Talvez haja um Sínodo específico, mas certamente isso ficará a critério do Papa Francisco. Por outro lado, cabe a nós a tarefa de conscientizar a comunidade internacional e as populações da importância que também deve ser dada a esse segundo pulmão ecológico do mundo. E também é hora de se perguntar como contribuir nesse sentido como Igreja.
Existem muitos recursos naturais na bacia do Congo, mas a população local não se beneficia deles. Na sua opinião, o que a Igreja deve fazer e o que pode fazer primeiro?
Nosso papel como Igreja é "interpelar", e enfatizo esta palavra, a consciência de nossos líderes políticos, tanto no nível nacional como internacional, para implementar um regulamento que leve em consideração o meio ambiente e que faça com que todas as populações possam se beneficiar das riquezas da nossa terra. Não é normal que na maioria dos países que fazem parte da bacia do Congo a taxa de pobreza seja tão alta.
Se pensarmos nas escolas, como podemos imaginar que em um continente tão rico em madeira, as crianças não tenham a possibilidades de se sentar em carteiras escolares? Costumamos falar sobre escândalo ecológico, mas esse também é um escândalo: que as sociedades que todos os dias se beneficiam de nossa madeira não possam pelo menos ajudar as escolas presentes nessas regiões a ter boas condições, a ter pelo menos carteiras e quadros!
Se, em vez disso, falamos sobre petróleo, a quem se destinam os dividendos desse petróleo? Aos políticos e às multinacionais! E, novamente, se enfrentarmos o caso da exploração do ouro, como não ver que essas minas nos custam caro em termos de problemas ambientais, porque nossas águas acabam sendo poluídas pelos metais pesados necessários para o processamento?
Como o trabalho de evangelização pode continuar em países devastados também pela guerra civil?
A evangelização deve sempre ser possível. Quando há homens em algum lugar, a Igreja deve se interessar por esses homens. Como pastores da Igreja, somos encarregados desse papel. Talvez na Europa não esteja sendo entendido claramente o problema dos grupos armados presentes em nossos países. Nos perguntam: onde está o exército? Bem, por exemplo, na República Centro-Africana, quando as forças rebeldes chegaram ao poder em 2013, o exército regular foi dissolvido e um novo exército foi formado pelos rebeldes e mercenários.
Agora estamos na fase de restauração da autoridade do estado que deve passar pela reforma do exército. Mas ainda leva tempo para que esta se torne efetiva e não podemos esperar. Devemos continuar a proclamar o Evangelho e conviver com o risco que isso implica. Muitas vezes me aconteceu de cair em emboscadas desses grupos rebeldes e tive sacerdotes que foram mortos: somente em 2018 perdi dois sacerdotes.
O que aconteceu com eles também pode acontecer comigo ou a outra pessoa. Não estamos buscando o martírio, mas é nosso dever anunciar a palavra de Deus. Como o apóstolo Paulo diz "a palavra de Deus não está acorrentada". E para tornar isso possível, é necessário que homens e mulheres se empenhem nesse caminho. Graças a Deus, ainda existem freiras e padres que estão lá, que ainda têm coragem de viver com as populações pobres para anunciar a Palavra de Deus, consolá-las e ajudá-las a simplesmente permanecerem humanas.
Como o problema da migração deveria ser abordado?
A questão da migração também aparece entre nós na República Centro-Africana. Quando há conflitos entre grupos armados, as populações se deslocam. E muitas vezes nos vimos na situação de acolher refugiados em muitas de nossas paróquias e comunidades religiosas. Eu mesmo tive a oportunidade de trabalhar nesse campo, inclusive muito antes de me tornar bispo.
Depois, há migrações para outros países africanos: muitos centro-africanos estão nos países vizinhos: em Camarões, no Chade, no Sudão e na República Democrática do Congo. Não devemos ver apenas os africanos que pegam barcos para atravessar o mar, mas considerar a questão de maneira mais ampla e observar como localmente, internamente, temos a experiência dessas dificuldades.
O desafio é acompanhar essas pessoas que precisam ser vestidas e nutridas. Porque quando ouvem tiros e percebem que tem que sair de casa, não levam nada com eles. Alguns fogem apenas com uma camiseta e a bermuda. O que fazer então? É necessário permanecer unido para criar condições de vida dignas para nós e para esses nossos irmãos e irmãs. Somente ajudando uns aos outros, e acima de tudo com a ajuda de Deus, seremos capazes de responder às suas necessidades.
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Congo. Em risco também o segundo pulmão verde do planeta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU