19 Outubro 2019
Abramos a mente e o coração aos caminhos que o Espírito aponte para a Igreja, nesse acontecimento sinodal pan-amazônico, e que assim Jesus Cristo seja a vida plena desses povos e de toda a humanidade.
O artigo é de Felipe Arizmendi, bispo emérito de San Cristóbal de las Casas, publicada por Sol de México, 17-10-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Durante o Sínodo Especial dos Bispos sobre a Amazônia, que está sendo realizado em Roma, há pontos fronteiriços que causaram preocupação em alguns setores de nossa Igreja. Tenhamos em conta, no entanto, que nesta reflexão sinodal se possam expressar livremente muitas opiniões dos participantes; ao final, a plenária deve votar “Propostas”, que se apresentarão ao Papa, e ele decidirá o mais conveniente.
Se diz que o centro deste Sínodo é a ecologia, o cuidado da Casa Comum, a proteção das culturas indígenas, e não evangelização, a centralidade de Jesus Cristo e de sua obra redentora. Não é assim. O centro sempre será Jesus Cristo, o Reino de Deus que ele instaurou. E nesse Reino, são fundamentais a justiça, a fraternidade, o respeito aos demais, a defesa dos excluídos e descartados, como fez Jesus, quem se apresentou em Nazaré como o ungido pelo Espírito para trazer uma libertação integral. Isso é o que Deus quer para seu povo.
Se diz que neste Sínodo se apresentam as culturas indígenas como se fossem o ideal de cultura, o melhor que há na humanidade, um exemplo para todos, como se nelas não houvesse pecado, não houvesse atrasos e deficiências. Não é assim. Ninguém nega que há alcoolismo, machismo, corrupção, ignorâncias, superstições e falta de serviços de água, escolas, medicina, luz, comunicações e atenção eclesial. A selva e seus habitantes possuem muitos tesouros de sabedoria, que são os que devemos conhecer e valorizar, porém também muitas limitações, que se devem atender em justiça. Como em todas as culturas, também ali há pecados.
Dizem que as religiões indígenas são proclamadas como as melhores para eles e para a humanidade, como se Jesus Cristo fosse irrelevante, como se o catolicismo fosse uma religião entre muitas outras. Não é assim. A Igreja perderia sua identidade e seria infiel à sua missão, se não estivesse envolvida com todos os seus poderes na evangelização, que inclui a centralidade de Jesus, o ministério de sua Igreja, os sacramentos, a purificação do que for contrário ao Evangelho, a oferta de toda a salvação significa que Jesus nos deixou. Mas também é necessário descobrir quais manifestações de Deus nessas culturas, porque elas não podem ser condenadas como se estivessem em todas as obras do diabo. Em muitos de seus modos de ser e de viver, há uma presença oculta do Espírito de Deus, há uma ação salvadora de Jesus, que deve ser descoberta e trazida à plenitude. Essa é a nossa tarefa.
Dizem que as mulheres querem receber poderes hierárquicos, contrários à constituição da Igreja. Não é assim. Trata-se de reconhecer seu lugar na comunidade local e eclesial. O Código de Direito Canônico autoriza o bispo do local a autorizar homens e mulheres leigos a batizar. Eu dei esse corpo docente a muitos catequistas, inclusive mulheres indígenas, com muita aceitação da comunidade eclesial. E também habilitei as mulheres a presidir casamentos, depois de obter o consentimento da Conferência Episcopal e de Roma, conforme indicado pelo Código de Direito Canônico. Eles ouvem os problemas de várias pessoas, que também confiam em seus pecados, como se fosse uma confissão; Eles os aconselham, oram por eles e os ajudam a se arrepender. Eles não lhes dão absolvição sacramental, mas os levam ao que chamamos de "contrição perfeita", que, de acordo com as normas da Igreja, os coloca na graça de Deus e recebe a comunhão. Eles não precisam ser diaconisas.
Dizem que se quer acabar com o celibato sacerdotal propondo a ordenação de homens casados. Não é assim. Seria uma exceção, para casos locais específicos, como em outras circunstâncias, mas não aplicável a toda a Igreja. Por outro lado, se houver Ministros Extraordinários e Ministros da Comunhão, se houver diáconos permanentes, eles poderão garantir o alimento eucarístico em suas comunidades, sem a necessidade de ordenar padres casados. Nós fizemos isso. O Espírito tem muitos caminhos de serviço sacramental em sua Igreja.
O papa Francisco nos diz: “Fiel ao modelo do Mestre, é vital que hoje a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo. A alegria do Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir a ninguém” (Evangelii Gaudium 23). “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação” (EG 27).
Abramos a mente e o coração aos caminhos que o Espírito aponte para a Igreja, nesse acontecimento sinodal pan-amazônico, e assim Jesus Cristo seja a vida plena desses povos e de toda a humanidade.
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Pontos delicados do Sínodo Pan-Amazônico. Artigo de dom Felipe Arizmendi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU