10 Outubro 2019
Um dos maiores desafios do século XXI é indubitavelmente o de garantir energia e água suficientes para o bem-estar da humanidade, preservando ao mesmo tempo a saúde ecológica, a integridade e a capacidade de recuperação das bacias hidrográficas. Moema Maria Marques de Miranda, leiga franciscana, conselheira da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) e de Igrejas e Mineração (Brasil), conhece muito bem isso. Neste momento, ela está em Roma para participar do Sínodo dos Bispos como ouvinte. Por experiência direta, afirma que "as secas, o aumento da população, a exploração econômica excessiva e a má administração dos recursos transformaram a escassez de água potável em um grave problema planetário cujo futuro se prevê seja ainda mais desastroso". Nesta entrevista ao "L'Osservatore Romano", ela lista os principais pontos que explicam o imenso valor dessa assembleia sinodal dedicada ao pulmão verde do planeta e sua relevância no nível global.
A entrevista é de Silvina Pérez, publicada por L'Osservatore Romano, 9/10-10-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Qual a importância deste Sínodo para a Igreja e a sociedade da Região Pan-Amazônica?
Estamos vivendo um momento único da humanidade e não apenas na América Latina. É um momento crucial, determinado por um entrelaçamento inédito de urgências. E o atual Sínodo responde a tais urgências. Hoje a Igreja está ciente de que o cuidado da casa comum faz parte da nossa fé, é uma consequência da nossa fé. Um dos desafios para a Igreja é mostrar a vida da Igreja na Amazônia e tudo o que foi feito de positivo, assim como os sonhos, as aspirações, o grito, o clamor e os sofrimentos de suas comunidades.
Como o caminho a ser seguido pode ser discernido?
A nossa casa está pegando fogo! A floresta amazônica não é apenas do Brasil ou de outros países em que se estende, da Bolívia ao Equador, do Peru à Colômbia. Pertence a toda a humanidade. Preservar a Amazônia é dever de todos. A enorme floresta tropical é uma das regiões mais ricas em termos de diversidade e uma fonte essencial de oxigênio. Contribui decisivamente para regular o clima mundial, é um grande depósito de dióxido de carbono e influencia a circulação das correntes oceânicas. Sua destruição deve, portanto, ser enfrentada como uma crise de âmbito global e com a ajuda da comunidade internacional. Nos últimos sessenta anos, o delta amazônico perdeu 20% de sua superfície devido ao desmatamento. Este Sínodo foi convocado em 2017 e mostra que a Igreja, hoje e sempre, caminha junto com os homens que sofrem as consequências do tempo presente. Graças à sua sensibilidade, o Papa Francisco entendeu que as soluções para os grandes problemas do mundo também podem vir das periferias. São as periferias que trazem ao centro novos modelos de vida mais compatíveis com os problemas atuais. No momento, a luta por terras e recursos é uma das principais causas de violação dos direitos humanos em nível global. Em média, dois nativos são assassinados toda semana por se oporem aos destruidores do meio ambiente. A Igreja martirial da América Latina é fiel ao Papa e à Igreja universal ao seguir esse caminho.
Qual é a principal ameaça para a Amazônia no momento?
Desmatamento, incêndios florestais e macro-projetos autorizados pelo governo que abrem o caminho para o cultivo e para a exploração em larga escala, como a da soja, cana-de-açúcar e eucalipto, combinados à exploração da mineração. Bergoglio, desde que foi eleito Papa em 2013, fez da ecologia um dos pilares de seu pontificado. É por isso que a situação da floresta amazônica e dos povos indígenas que a habitam são elementos recorrentes de seu magistério.
O que é a Amazônia para os povos indígenas?
É a vida. Mas, na realidade, o que acontece em nosso continente afeta todo o planeta. Um espirro na Amazônia pode significar uma gripe na Europa. Um pouco como o efeito borboleta, de que tanto se fala. Não é possível isolar os casos.
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O que acontece na Amazônia afeta todo o planeta. Entrevista Moema Maria Marques de Miranda, auditora do Sínodo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU